sábado, 8 de julho de 2023

REVOLUÇÃO SOCIAL NA ERA DA MICROELETRÔNICA


 D
esde o início dos anos 1970, quando começaram a aparecer os computadores - aqueles móveis gigantes dentro dos quais havia um monte de fios entrelaçados que conduziam informações às telas nas quais se projetavam cálculos complexos e armazenamento de dados - pudemos observar os prodígios havidos no campo da cibernética.    

Aqueles monstrengos, que já passavam a fazer cálculos incríveis, evoluíram rapidamente para um estágio superior e hoje processam  cálculos impossíveis de serem realizados pela mente humana, acumulando informações até maiores do que todos os atuais cerca de 150 milhões de livros da British Library, de Londres, que quando na época em que Karl Marx esteve por lá - por volta de 1850 -, tinha bem menos exemplares, cerca de apenas 5000, que lhe serviram de estudos para as informações econômicas voltadas à elaboração de O Capital

A palavra cibernética tem significado etimológico do grego kubernetikê, baseado no nome do mecanismo de piloto dos navios que exerciam o controle informativo da navegação. No inglês passou a ser Cybernetics e no português cibernética

A cibernética é um gênero de processo eletrônico de computação de dados e processamento, tendo sua base de desenvolvimento proporcionada pelo advento da microeletrônica, ramo da eletrônica que como o próprio nome indica, refere-se à miniaturização de componentes eletrônicos em escala microscópica. 

A microeletrônica se tornou instrumento chave para o desenvolvimento da cibernética enquanto componente eletrônico miniaturizado - microns e nanômetros - capaz de criar processos físico-químicos na fabricação de circuitos integrados ou isolados, chips, que possibilitam o desenvolvimento de uma infindável lista de processos cibernéticos de software do conhecimento e controle imediato da ação mecânica.    

Não teríamos a cibernética como a conhecemos, hoje também conhecida como Tecnologia da Informação (TI), se não houvesse a microeletrônica. Sem a conjugação dos saberes das duas não teríamos a robotização, a comunicação instantânea via satélite e seus instrumentos de divulgação - Tvs, celulares, e similares -, os computadores de altas e baixas definições, a medicina mecânica computadorizada, os cálculos de engenharia, todos os processos virtuais e tantos outros mecanismos atuais de ação, informação, computação de dados, etc.     

À altura do surgimento da cibernética, não imaginávamos o poder transformador da vida social que tal processo tecnológico causaria nas relações sociais, com sua simultaneidade de benefícios e impasses transcendentais. 

A racionalização de procedimentos obtida a partir de gravação e armazenamento de informações, bem como a mecanização instrumental de ações na área da produção industrial, agrícola e de serviços, paradoxalmente, ao mesmo tempo em que viabilizou o convívio humano de bilhões de pessoas mundo afora, criou impasses irresolúveis para o modo de relação social atual, baseado na produção de valor e a partir dele. 

Não se pode relevar o significado de tamanho acontecimento que para pessoas com a minha idade, que viveu e conviveu com o antes e o depois, podem dimensionar a grande transformação. Profissões desapareceram ou tiveram reduzidos o número de profissionais, ao mesmo tempo em que novas profissões surgiram, mas com a característica de que a primeira condição - do desemprego - ser sempre maior do que a segunda - da criação dos novos nichos de emprego. 

A célula mater da relação social baseada na produção de valor é a força de trabalho humana havida num determinado espaço de tempo e lugar, quantificada pela mercadoria valor desse mesmo quantum de tempo médio de força de trabalho despendida para a fabricação de um objeto ou serviço igualmente denominado e quantificado como e pela forma-valor.  

Cada ser humano detentor da força de trabalho, sua única mercadoria a ser vendida no mercado, precisa vendê-la para poder comprar as outras mercadorias que consome. Como sempre foi abundante a mercadoria força de trabalho, e a lei de mercado lhe reduz poder de barganha, sendo tal fenômeno hoje mais presente do que nos anos de ascensão capitalista.  

É assim que se desenvolveu durante séculos a lógica de produção de valor até o momento atual do seu desenvolvimento pleno que atingiu todos os poros das sociedades humanas.  

Tal processo, em seu desenvolvimento, segregou populações definindo quem se apropria da riqueza socialmente produzida mundo afora e as regiões mais ou menos desenvolvidas, fenômeno que produziu o maior genocídio já registrado na história da humanidade, expresso nas duas guerras mundiais do século passado.  

A era capitalista pode ser dividida em três fases de seu desenvolvimento mais recente: a revolução industrial inglesa - por volta de 1750; a revolução industrial fordista, por volta de 1910; e a revolução industrial cibernética, iniciada por volta de 1970 e ainda em curso.  

Em todas elas observou-se o deslocamento de regiões e de processos de desenvolvimentos da produção industrial de mercadorias que causaram o deslocamento, ou tentativa deste, da hegemonia territorial de poder econômico e político que resultaram nas guerras mundiais genocidas. 

Não foram as revoluções socialistas, que ocorreram em nome da libertação da classe operária, mas que a conservou explorada pela extração de mais valia estatal, que merecem o nome de revolução, justamente porque alteraram apenas a forma política de ascensão e manutenção do poder e mantiveram intactas as categorias capitalistas que formatam a relação social sob o signo da forma valor.  

Se podemos chamar as revoluções industriais como tais, devemos nos referir apenas ao modo de produção social capitalista nelas contido; mas se quisermos chamar de revoluções aos movimentos armados, como na Rússia de 1917 e China de 1949, devemos afirmar que foram revoluções políticas, e nunca revoluções anticapitalistas nas suas essências constitutivas, ainda que tenham ocorrido sob tais falsos ou ingênuos argumentos.  

Neste contexto, a revolução industrial cibernética capitalista, guarda um componente novo: ela mata a galinha dos ovos de ouro, ou seja, ela elimina substancialmente a fonte mantenedora do capital, que é a força de trabalho ao prescindir da mão de obra assalariada, pois promove em maior proporção o desemprego em relação aos novos empregos por ela criados, e produz a redução da massa de valor global.  

O regime político de manutenção da segregação social num mundo que apenas emprega trabalhadores altamente qualificados, e em número cada vez menor de utilização daqueles que estejam aptos ao trabalho assalariado - trabalho abstrato por ser relacionado com a produção da abstrata forma valor -, somente pode subsistir pela força policial do Estado; daí o combate à existência do Estado como poder vertical e centralizado ser uma tarefa revolucionária. 

O fenômeno brasileiro de eclosão de manifestação popular de 2013 e o renitente baixo crescimento do PIB brasileiro desde então;  

- o fenômeno francês de coletes amarelos, de repulsa à nova lei da previdência social, e agora pela convulsão social em defesa de minorias étnicas; 

 - a invasão da Rússia como resposta ao enfraquecimento do prestígio do plutocrata russo Vladimir Putin após 20 anos de governo; 

- a invasão do Iraque pelos Estados Unidos após o 11 de setembro de 2001; 

- a desesperada adesão capitalista ocidental da Ucrânia de Volodymyr Zelensky e acenos à OTAN;   

- o ressurgimento do fascismo mundo afora; 

- as filas quilométricas de pretendentes a empregos em qualquer anúncio de algumas poucas vagas no Brasil; 

- o crescimento da violência urbana nos países da periferia capitalista; 

- a inflação mundial; 

- os 800 milhões de seres humanos desempregados e outros bilhões subempregados; 

- o aquecimento global irrefreável; 

- a queda do crescimento do PIB mundial; 

- o aumento crescente da dívida pública estatal mundo afora, com data marcada de insolvência até no pagamento dos chamados serviços da dívida (juros); 

- a intragável hipocrisia política e os partidos políticos discutindo o sexo dos anjos: reforma tributária, cadastro de arrecadação da receita fiscal, democracia venezuelana e nicaraguense, orçamento secreto ou escancarado de emendas parlamentares, etc.    

-  aumento da fome no mundo, por denúncia da FAO organismo da ONU; 

- continuidade do processo migratório mundial de trabalhadores desesperados do hemisfério sul para o hemisfério norte;  

- discussões fora de foco da mídia televisiva sobre as causas de base de tudo que vemos e sentimos; 

- o insuperável analfabetismo brasileiro; 

- a concentração da riqueza nas mãos de oligopólios capitalistas - forma concentrada dos monopólios; 

- etc., etc., etc., têm como base a inconciliabilidade entre o atual modo tecnológico de produção de mercadorias que reduz a massa de valor global e a necessidade de produção crescente desse mesmo de valor -válido, advindo da produção, e não vindo das gráficas governamentais a esmo - nos níveis necessários, que tem como resultado a falência do Estado e o desemprego estrutural.   

A revolução industrial cibernética capitalista tem tudo a ver com isto e não se trata de um sujeito revolucionário em si, mas de um gatilho para a verdadeira revolução social a ser feita.  

Num quadro dantesco como o que vemos e vivemos mundialmente, evidencia-se a inconciliável contradição entre forma e conteúdo social causada pela revolução industrial cibernética, o que nos impele à discussão sobre O QUE FAZER?  

Entendo que vivemos uma situação de irreversível impasse sob os parâmetros atuais de sociabilidade e sem sabermos até quando vamos ter que conviver com tal situação, que pode ser abreviada pelo colapso do sistema financeiro como a ponta do iceberg.  

É certo que teremos no mundo todo levantes sociais que se colocarão sob o enfrentamento das forças policiais do Estado que tentarão manter o status quo vigente. 

Tais levantes, em contraponto às forças militares e suas truculências, deverão contar com a decidida indignação popular e com a análise e orientação de pensadores capazes de compreender as causas de base da necessária ruptura e entronização de um sistema de produção social baseado na satisfação das necessidades humanas, com forma jurídica correspondente, como tenho dito repetidamente.  

Não podemos é continuar assistindo a espetáculos deprimentes de vaidades e machismos como este badalado embate midiático de luta corporal entre Elon Musk e Mark Zuckerberg, grandes empresários cibernéticos, que bem define a mediocridade conceitual das relações sociais sob a qual estamos vivendo. (por Dalton Rosado) 


Um comentário:

Anônimo disse...

A prescindência precede a obsolescência.
Avante!

Related Posts with Thumbnails