quarta-feira, 26 de julho de 2023

A POLARIZAÇÃO É INDESEJÁVEL AO EXTREMO PARA NÓS, DA ESQUERDA. BRIGA DE FOICE NO ESCURO SÓ SERVE A NOSSOS INIMIGOS.

"Desde que a ditadura aprovou a Lei de Anistia, (...) 2.053 pessoas foram mortas em decorrência de suas atividades políticas no País. O número só aumenta. Após os assassinatos de Marielle e Anderson, em março de 2018, 327 brasileiros entraram nessa estatística sangrenta."

Os dados são do Leonencio Nossa, no Estadão. E, claro, não passam da ponta do iceberg. A violência com motivações políticas que não culminou em óbitos tende a ser incomensuravelmente maior.

Então, quero reforçar o que já escrevi noutras ocasiões: a nós, da esquerda, não interessa nem convém tal briga de foice no escuro.

Não sou religioso nem prego o martírio: quando somos agredidos, devemos, sim, nos defender, se necessário com as mesmas armas (mas sem incidir nas mesmas práticas hediondas, claro!). 

De resto, não, nunca, jamais devemos ir além do limite a que o inimigo chegou ou ou iniciarmos nós mesmos as hostilidades. É preciso ficar bem nítido que nosso uso da violência é sempre defensivo. 

Pois o nosso objetivo não é nem nunca foi o de exterminarmos os ultradireitistas, mas sim o de atrairmos o máximo de cidadãos para a luta contra o capitalismo que os engendra. e ao qual eles servem.

E isto passa por descartamos o rancor e o revanchismo contra aqueles que a lavagem cerebral da mídia adversa, dos hackers reacionários e dos mercantilizadores da fé transformou em serviçais fanáticos do anticomunismo.

Se cometerem crimes, que a democracia burguesa cumpra seu dever de processá-los. 

Nossa postura deve ser não a de tentarmos nós mesmos puni-los, mas sim a de cobrarmos e pressionarmos para que as devidas providências sejam tomadas pelas autoridades policiais e judiciais.

Se não cometerem crimes e quiserem reintegrar-se à vida civilizada, não nos cabe criar-lhes obstáculos. 

A polarização política atual é no mínimo bizarra, pois não se dá entre valores da mesma grandeza. 
Nós representamos os interesses maiores da humanidade, principalmente a sobrevivência da nossa espécie e a viabilização de uma existência digna para todos. 

Os fascistas estimulam a imposição do darwinismo social e do retrocesso civilizatório; a exacerbação da intolerância e da violência cega; e a priorização do lucro e da ganância em detrimento da própria vida humana.  

Somos ampla maioria. E o seremos muito mais se conseguirmos abrir os olhos e clarear o raciocínio dos muitos que, mesmerizados, são tangidos a lamber a mãos de seus exploradores e opressores, favorecendo interesses diametralmente contrários aos deles próprios. (por Celso Lungaretti)

4 comentários:

william orth disse...

Bom dia. Concordo. Inclusive o discurso de Lula agressivo alimenta isso. Sorte que o candidato foi Bolsonaro. Mourão respondeu com educação 'a frase de Lula e deu a letra. " O MUNDO DA VOLTAS". Se Mourão fosse candidato Lula não teria ganho. Abraço.

celsolungaretti disse...

Foi bom te receber aqui de novo, William. Um abração!

Anônimo disse...

Caro Celso: pena que pouquíssimos esquerdistas enxergam as coisas desse modo, como você. O que ocorre é que a esquerda no poder não procura união e sim perseguir, cancelar, discriminar e desqualificar opositores . Além disso a esquerda no poder quase sempre traz crise financeira. Daí fica muito mais difícil o apoio popular.

celsolungaretti disse...

Companheiro, a esquerda autêntica, sob o capitalismo, compete em condições de enorme desigualdade de forças com a "esquerda" domesticada, que está mancomunada com o capital e desempenha o papel de força auxiliar da dominação burguesa.

Os reformistas travam entre si uma briga encarniçada pelas sobras do banquete capitalista, pois é distribuindo tais migalhas que fidelizam seus eleitores, mantendo seus mandatos e boquinhas.

Mas, contra nós da esquerda autêntica os reformistas estão todos invariavelmente unidos, pois queremos acabar com os privilégios que obtêm servindo à classe dominante e, consequentemente, com seus mandatos, boquinhas e mordomias.

Então, as divisões da esquerda são basicamente duas: a entre as forças majoritárias que querem apenas arrancar pequenas concessões da burguesia sem confrontarem a dominação burguesa, e as forças minoritárias que permanecem fiéis à essência do marxismo e do anarquismo: superar o capitalismo.

E, no bloco majoritário, há ainda a briga de foice no escuro que os sócios menores da burguesia travam entre si para abocanharem fatias maiores de poder e de verbas.

Então, a esquerda tende a continuar dividida e a única chance das forças anticapitalistas é aproveitarem as janelas revolucionárias que se abrem em momentos de grandes crises do capital.

Quanto à esquerda governar mal, a lógica do sistema dominante a desfavorece. Sempre foi mais fácil relaxar e gozar, como a Marta Suplicy aconselhava, do que remar contra a corrente.

O problema é que estamos na fase agônica do capitalismo e, se não detivermos logo sua faina destrutiva, não haverá século 21. Mas, por que pensar nessas coisas desagradáveis ao invés de aproveitar os prazeres da nova versão do baile da Ilha Fiscal?!

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