Pastor roga praga divina contra Lula e
ministros do STF
O resumo de um podcast viralizou na semana passada nas redes sociais. Mostra um pastor barbudo, Anderson Silva, e um deputado federal imberbe, Nikolas Ferreira, também chamado de Chupetinha, acompanhados de suas esposas, numa alegre conversa num canal do Youtube sobre as punições divinas aos pecadores, até degenerar num conselho dado pelo pastor aos evangélicos seus seguidores para fazerem orações mais objetivas a Deus.
Citando o livro bíblico dos Salmos, Anderson Silva, da Congregação Cristã de Brasília, lembrou a intensidade da fé dos salmistas em pedidos bem diretos feitos ao Senhor para que fossem mortos seus inimigos e arrebentados seus dentes. Tivesse ficado por aí, a referência do pastor aos salmistas seria duvidosa, mas irreprochável.
Entretanto, o pastor bolsonarista foi mais longe e, esquecendo-se da cartilha cristã do paz e amor, destrambelhou: "falta a gente orar assim: Senhor, arrebenta a mandíbula do Lula; Senhor, coloca enfermos os ministros do STF para que eles te conheçam!"
Em outras palavras, ensinou como seus fieis devem rogar pragas ao presidente e ao STF. Bom, poderá argumentar um bolsonarista, isso não é crime, trata-se de um simples desejo expresso numa oração... Tudo bem, mas convenhamos: que procedimento religioso está propondo o pastor Anderson Silva? A oração do ódio com fervor? Serão os dois minutos de ódio contados por George Orwell no livro 1984?
Haverá nas igrejas evangélicas um telão onde serão projetados os rostos de Lula, Xandão e outros. Diante desse telão, os fiéis pentecostalistas de joelhos gritarão Morram Lula e Xandão! com o órgão da igreja tocando Avante, avante ó crentes, soldados de Jesus? É essa a proposta do pastor Anderson Silva, com a qual pareceu concordar o deputado Chupetinha, depois do fracasso das orações golpistas nas portas dos quartéis? Para se manter acesa a oposição a Lula, os pastores evangélicos vão querer incluir orações coletivas, durante todos os cultos, para morrerem o presidente e ficarem doentes os ministros do STF?
O problema dessas orações, quando não provocam resultados práticos e nem parecem ter sido ouvidas por Deus, é o de surgirem alguns malucos decididos a agirem como seus executores por inspiração divina! Muitos dos agitadores do 8 de Janeiro e dos depredadores dos prédios da praça dos Três poderes tinham passado meses orando pela derrota de Lula e depois por um golpe militar. Na falta de uma resposta divina às suas orações, decidiram eles mesmos provocarem o caos e desencadearem o golpe.
Anderson Silva não é um novato. Faz pouco tempo, foi obrigado a retirar do seu canal Youtube a pregação homofóbica feita em Brasília pelo pastor norte americano David Eldridge. A lei brasileira não proíbe e nem pune o homossexualismo e não permite que se exerça pressão homofóbica sobre os jovens. Além disso, quem conhece bem a Bíblia sabe do amor entre o filho do rei Saul, Jônatas, e o jovem David, que havia matado o gigante Golias e se tornaria rei de Israel.
Ives Gandra e o golpe
Seria interessante se saber até que ponto vai o comprometimento do jurista Ives Gandra com a tentativa de golpe bolsonarista.
Logo depois das depredações do 8 de janeiro, o site Uol fez uma longa entrevista com o jurista sobre o documento, encontrado na casa do ex-ministro Anderson Torres, considerado como uma minuta do golpe preparado por Bolsonaro com militares. Durante a longa entrevista, Ives Gandra, utilizando de seu prestígio como jurista, usou de todos os argumentos para minimizar a importância do documento.
Ora, apurou-se que a elaboração do documento se tornou possível após uma consulta jurídica ao próprio Gandra, na qual o jurista afirmava haver constitucionalidade de uma intervenção militar em certos casos.
Diante da evolução das pesquisas, interrogatórios e das revelações encontradas no celular do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do presidente Bolsonaro, verificou-se que o documento tinha um enorme valor como comprobatório do golpe. Soube-se mesmo quem o redigiu.
Entretanto, Ives Gandra, que, se imagina, saberia da existência do documento, tentou descartar sua importância durante a entrevista para Uol, dizendo não ver validade jurídica na minuta golpista encontrada pela Polícia Federal na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres e que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não assinaria o documento.
"O estado de defesa, como está escrito no papel, não teria a menor possibilidade de ser assinado pelo presidente e avalizado pelo Congresso Nacional", disse ele ao UOL. "Não é documento, é um papel que não tem nenhuma validade jurídica. Até porque é um papel que cuida de uma situação absurdamente impossível", acrescentou.
Depois de escrito esse comentário, vejo circularem rumores de que a interpretação golpista do artigo 142 da Constituição, na qual se baseavam os bolsonaristas, veio do jurista Ives Gandra, o que pode indicar maior envolvimento dele do que o admitido. (por Rui Martins)
Um comentário:
Um julgamento crucial para o direito do Brasil - e a democracia
Por Guilherme Casarões
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