quarta-feira, 7 de junho de 2023

ERA UMA VEZ EM TÓQUIO ABORDA TEMAS PERENES DAS RELAÇÕES ENTRE PAIS E FILHOS

 

O filme para assistir hoje é o clássico japonês Era Uma Vez em Tóquio (Tōkyō Monogatari) de 1953 do diretor Yasujiro Ozu. Em um país em processo de reconstrução, o filme aborda os dilemas e desencontros entre gerações de pais e filhos. 

Na história, o casal de idosos Shūkichi e Tomi Hirayama - interpretados por Chishu Ryu e Chieko Higashiyama, respectivamente - saí do interior do Japão para visitar seus dois filhos, a filha e a viúva do quarto filho. Contudo, com exceção da viúva, nenhum dos filhos possui tempo para dedicar ao casal que acaba relegado e esquecido em uma Tóquio moderna e americanizada, muito diferente da época em que os dois eram jovens. 

Desgostosos com a recepção, o casal decide voltar para o interior, mas Tomi, a mãe, acaba passando mal durante o caminho e os dois se veem obrigados a fazer uma escala na cidade do filho mais novo, onde ela acaba por falecer. A breve reunião da família acaba ocorrendo em razão do funeral e dura apenas o período da cerimônia, pois logo os filhos retornam para seus afazeres regulares e mesmo a viúva manifesta sua necessidade de voltar a Tóquio. 

Com um enredo sutil e mesmo poético, Era Uma Vez em Tóquio consegue abordar o tema perene da velhice, da alienação geracional e do quanto os laços familiares acabam se enfraquecendo com o passar do tempo e com as ocupações diárias. Além disso, também traz à baila o choque entre duas culturas em um Japão em acelerada mudança: de um lado, a cultura ancestral de valorizar os laços familiares e comunitários e, de outro, a nascente sociedade japonese ocidentalizada, com valores individualistas e a busca pelos interesses privados acima de todo o resto. Quando se considera que hoje naquele país a solidão dos idosos é um dos grandes males sociais, é possível compreender o quão premonitório foi o filme de Ozu.

Por fim, a bela fotografia em preto e branco, o excelente trabalho dos atores e cenas nas ruas da Tóquio da década de 1950, em franco processo de americanização, possuem atrativo suficiente para se assistir a esse clássico do cinema mundial. (por David Emanuel Coelho





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