quinta-feira, 4 de maio de 2023

O BOZO JÁ NÃO PASSA DE UMA PRISÃO ESPERANDO ACONTECER

J
air Bolsonaro estava certo de que sua única punição pra valer seria a inelegibilidade, daí ter voltado ao Brasil para tentar manter-se como líder da extrema-direita alucinada.

Esqueceu que o seu papel no circo sempre foi o de palhaço, não o de domador: meteu a cabeça na boca do leão. E as garantias que recebeu foram varridas de cena pelo inesperado.     

Não tenho dúvidas de que as principais forças políticas de nossa podre institucionalidade, inclusive o PT, tinham concordado com tal pizza. O que valeu para os torturadores da ditadura militar valeria também para o maior exterminador de brasileiros de todos os tempos. 

A gente brasileira só passou por brava naquele hino que acabou sendo trocado por outro mais borocoxô. E a tal crava forte da Justiça deve ser muito pesada, pois quase nunca é erguida e, quando isto porventura acontece, desaba no chão logo em seguida.  

Mas O Estado de S. Paulo e a Polícia Federal não colaboraram com os pizzaiolos. O primeiro trouxe à tona o escândalo das joias ofertadas ao Ali Babão e sua sem-sorte em troca do que ainda não foi esclarecido, mas um dia decerto será; e a segunda, a falsificação do cartão de vacinação do negacionista fujão e seus acompanhantes para burlar as autoridades estadunidenses.

Fez lembrar a trupe alagoana do Fernando Collor, acostumada a agir como bem entendia onde a imprensa e a polícia não cumpriam suas missões. Quis repetir o
modus operandi ao governar o país e deixou as digitais impressas numa monte de ilegalidades. 

O Bozo e seus milicianos do RJ fizeram o mesmo, só que em progressão geométrica, comparativamente à progressão aritmética do caçador de marajás

Acreditando que se eternizariam no poder mediante golpe de estado, não se incomodaram em espalhar provas aos montes, além de engajarem em suas maracutaias uma infinidade de cúmplices prontos a caguetá-los para salvar a própria pele quando a vaca fosse pro brejo.

Agora, a pizza pronta para ir ao forno inevitavelmente será jogada no latão de lixo e a quadrilha que começou com as rachadinhas e acabou rachando o Brasil está a caminho das grades. 

Até mesmo os responsáveis por ela ter chegado tão longe já perceberam que não colherão benefício nenhum protegendo-a, enquanto o prejuízo aumenta cada vez mais. Então, como bem notou o Josias de Souza, decidiram buscar outro candidato a tirano para liderar a boiada:
"Avalia-se que permanece inalterada a disposição de algo entre 15% e 20% do eleitorado de acreditar em tudo o que Bolsonaro diz. Estima-se, porém, que os conservadores incrédulos tendem a intensificar a busca por líderes políticos que, como eles, já não acreditam em nada do que Bolsonaro faz e diz".
Happy end
? Não. Temos todos de botar a mão na consciência e nos perguntar como deixamos uma corja tão crapulosa e medíocre, verdadeiros ladrões de galinhas, causar tanto estrago ao longo de quatro anos. 

Porque não tivemos coragem de impinchar o maior merecedor de impeachment dentre todos os que já foram aqui impinchados ou que escaparam de sê-lo, algo entre 350 mil e 400 mil brasileiros acabaram exterminados durante a pandemia da covid, embora pudessem ser salvos se a vacinação não houvesse sido flagrantemente sabotada. 

E a facilidade com que corruptores e corrompidos teceram uma teia quase perfeita de impunidade deixa um alerta: a extrema-direita acabará se reerguendo adiante e vai voltar à carga com alguma liderança melhor (pior do que a incompetência, insanidade e covardia do Bolsonaro seria impossível!).  

Não nos iludamos, portanto. O que obtivemos até agora foi apenas uma trégua; nada nos garante que, principalmente se a economia brasileira continuar no fundo do poço, o pesadelo não vá se repetir. 

Dependendo de como agirmos doravante os bárbaros poderão completar sua obra, destruindo o que ainda nos resta de civilização. (por Celso Lungaretti)

5 comentários:

Anônimo disse...

Confio no acerto de sua análise. Espero que desfecho seja o que você prognostica.

Anônimo disse...

https://img.semafor.com/0414ddf6adecd3759e4efe3fdf9bd08d6412772d-927x375.png?w=800&q=85&auto=format

Anônimo disse...

Prezado Amigo Celso,

Um forte abraço, a quanto tempo não nos falamos.
Como sempre escrevendo brilhantes artigos. Parabéns!

RESISTÊNCIA À DITADURA
Por coincidência, ontem encontrei um assunto interessante, as quedas de abril/1970 da VPR podem está ligadas a um "infiltrado" que de dentro da VPR colaborava com a ditadura.

A queda de Wellington está perfeitamente de acordo com os acontecimentos ligados a este "cachorro" que agia dentro da VPR, finalmente inocentando Wellington da morte de Juarez.

Dá uma olhada: https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2015/11/01/interna_politica,703473/documentos-da-ditadura-descartam-traicao-a-militante-mineiro-durante-o.shtml

ISMAR C. DE SOUZA
novo e-mail: ics-contato@bol.com.br

celsolungaretti disse...

Meu caro Ismar, fiquei muito contente em receber esta sua mensagem, que me fez lembrar das muitas batalhas de opinião que travamos juntos nos velhos e bons tempos do Orkut.

Não duvido de que a primeira parte dessa história esteja correta, mas o papel do infiltrado pode estar sendo superdimensionado. A versão que alguém do Comando Nacional me transmitiu foi a de que o Wellington havia sido preso como consequência de quedas num pequeno grupo de calouros na luta armada, ao qual estava prestando assistência.

O Wellington, braço direito do Juarez Guimarães de Brito no Colina, teve diagnosticado um problema cardíaco e a VPR resolveu tirá-lo da militância mais ativa. Ele passou a levar uma existência tranquila, somente dando treinamento aos novos recrutas da guerrilha, pertencentes a grupúsculos como aquele em cujas quedas foi arrastado.

Na nova condição, ele só mantinha contato com a VPR aos sábados, para trocas de informações e recebimento da sua "pensão".

Quando deixou de comparecer no ponto e na alternativa (meia hora depois) de um desses sábados, 11 de abril de 1970, a Organização já ficou apreensiva, admitindo a possibilidade de que ele tivesse caído.

Foi o que algum dos comandantes com os quais eu mantinha contato frequente (o Ladislau Dowbor, a Maria do Carmo Brito ou o próprio Juarez) me comunicou.

Como o Comando Nacional marcara uma reunião na área guerrilheira para discutir atrasos no encaminhamento da "tarefa principal" (o Lamarca acreditava que, como já ocorrera antes do seu ingresso, a O. tivesse alguns de seus quadros se dedicando pouco à abertura da frente de luta no campo e mais ao crescimento nas cidades), eu insisti incisivamente com o Ladislau e a Maria do Carmo no sentido de que a O. não ficasse acéfala dos seus principais comandantes quando um companheiro importante como o Wellington poderia ter caído.

Caso isto se consumasse, as providências para deter uma possível sequência de "quedas em cascata" ficaria muito prejudicada. Mas, aqueles dois comandantes nacionais não ousaram contrariar a voz forte do terceiro, então lá se foram todos para a lavagem de roupa suja no campo.

O tal infiltrado pode mesmo haver sido quem apontou à repressão o grupo ao qual o Wellington transmitia seus conhecimentos teóricos e práticos da guerrilha urbana. Mas, eu diria que seu papel foi unicamente este.

O certo é que, já preso e torturado, o Wellington não havia aberto para a repressão os ponto e alternativa do primeiro sábado. (continua)

celsolungaretti disse...

(continuação) Depois, ao longo da semana, depois de supliciado durante vários dias, ele indicou à repressão o fotógrafo ao qual ele, como motorista do Lamarca, o conduzira para fazer novas fotos para sua documentação falsa, depois que ele passou por operação plástica para se diferenciar da imagem que os jornais e tevês não paravam um instante de espalhar.

A prisão do fotógrafo deve ter ocorrido na quarta-feira, 15 de abril, pois é pouco provável que ele tivesse resistido muito antes de entregar mais um elo da corrente: um ginecologista que era há muito simpatizante da VPR e o principal fornecedor de prestadores de pequenas tarefas para a O. (desde pessoas que guardavam itens ou abrigavam companheiros em emergências até a aeromoça que, aproveitando a fachada que lhe dava sua profissão, foi contatar o Shizuo Ozawa na Argélia depois de ele ter sido libertado em troca de um diplomata sequestrado).

O ginecologista esteve comigo até lá pelas 22h30, 23h00, da quarta-feira. Foi para casa e lá o prenderam. Na manhã seguinte, tinha novo ponto comigo, para me passar o contato de dois novos simpatizantes que poderiam prestar alguns serviços à O. Quem compareceu foi o DOI-Codi.

Fui, portanto, uma das primeiras vítimas das quedas em cascata que eu temera e havia tentado evitar. E, no sábado (18 de abril), o Wellington estava como isca na segunda e última alternativa do seu ponto semanal com a O.

Não dá para acreditar que o infiltrado tivesse conhecimento desse ponto. Por que haveria o Wellington, antes de sua prisão, revelado a alguém de fora a sistemática de segurança da VPR?

Aliás,, quando estávamos ambos presos na PE da Vila Militar, ele não desmentiu que tivesse revelado o local e hora do novo ponto. Talvez eu não lhe tenha perguntado (estávamos em celas diferentes, uma um pouco adiante da outra, e sabíamos que não era bom entrarmos em detalhes sobre assuntos melindrosos, pois poderíamos estar sendo ouvidos).

O certo é que era impensável atribuir-lhe alguma culpa, caso tivesse sido ele mesmo que abrira o ponto. Torturas tão violentas, quando repetidas dia após dia, ninguém aguenta. Muito menos um homem com coração debilitado.

O certo é que o Juarez e a Maria do Carmo sabiam de antemão que era enorme a chance de o Wellington estar nas mãos da repressão, mas mesmo assim foram conferir. Chegando lá, perceberam, como diz a reportagem jornalística, que ele estava mesmo preso e servindo de isca, mas ignoravam que ele não pudesse correr (tinha as pernas presas por talas, sob a calça).

Então, o Juarez comprou umas frutas num mercado próximo, colocou um revólver embaixo e as frutas em cima, e pagou a um menino para entregar o pacote "àquele moço ali". Wellington recebeu o pacote, viu a arma mas de nada lhe servia com as pernas presas. E os agentes da repressão, percebendo o que estava acontecendo, cercaram o carro do casal.

Sei que é muito difícil para um historiador chegar à verdade sobre os episódios da luta armada a partir de documentos da repressão (quase sempre fantasiosos ou exagerados, pois quem os escrevia queria mostrar serviço para seus superiores e não raro acreditava em nossos despistes) e de depoimentos de um ou outro sobrevivente dos anos de chumbo.

Mas, como permaneço saudável e lúcido aos 72 anos, tenho cumprido o papel de posicionar melhor os historiadores que me procuram como fonte. Infelizmente, não foi o caso desta vez.

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