segunda-feira, 8 de maio de 2023

FIASCO DA ESQUERDA CHILENA: EXTREMA DIREITA ESCREVERÁ NOVA CONSTITUIÇÃO

 


Fracasso histórico da esquerda chilena após uma vitória acachapante da extrema-direita nas eleições para o conselho constitucional. 

Desde que a constituição proposta pela Assembléia Constituinte foi rejeitada em 2022 por mais de 60% dos eleitores, o governo chileno, comandado por Gabriel Boric, se articulou com as forças reacionárias do país para, ao invés de convocar nova assembleia, incumbir um grupo de especialistas a redação da nova Carta que deverá ser submetida a um conselho formado por 50 membros eleitos diretamente pelo voto popular. 

Dessa vez não precisaram bombardear
o palácio de La Moneda.
 

Medida absolutamente reacionária e antidemocrática que coloca o destino do país nas mãos de um minúsculo grupo da elite política chilena, em oposição ao corpo mais plural e amplo da assembleia constituinte. Não bastasse tal revés humilhante, a extrema-direita ainda conseguiu histórica vitória, tendo o partido de José Kast abocanhado 35% dos assentos, os quais somados aos 21% de outro partido direitista, coloca a direita pinochetista no comando do processo constituinte. 

Kast é uma espécie de Bolsonaro chileno, tendo sido derrotado, por margem estreita, na última eleição presidencial por Boric. Esse último sofre hoje com baixíssimo índice de aprovação, tendo sido engolido pelas forças conservadoras do partido e perdido por completo apoio dentro da própria esquerda. Ao que parece, ele de fato não se atentou ao alerta feito aqui mesmo neste blog de que em situações revolucionárias o líder não deve ser republicano, mas contestador e beligerante. A tragédia anunciada se materializou, com a direita obtendo profunda vitória sem precisar ter disparado um único tiro. 

Do sonho à derrota: ficam as lições e o 
gosto amargo

A burguesia chilena em todo o processo seguiu a cartilha politicista. Primeiro, tirou a insatisfação popular das ruas, a levando para o caminho institucional da constituinte. Ali, tratou de desmoralizar o processo e deixar que os constituintes se afundassem nas misérias e benesses da plutocracia estatal. Em um país farto da classe política, a constituinte passou a ser vista como parte do problema e não da solução. 

Para completar, assistiu tranquilamente Boric, um ex ativista das ruas, assumir a falência econômica e social do país, se desgastando irremediavelmente junto à população. Juntou-se a isso uma proposta de constituição confusa, eivada de bobagens identitaristas e com pouco apelo popular, e o resultado foi o rechaço maciço ao texto. Por fim, levou o processo constituinte para o terreno ainda mais seguro dos especialistas, todos comprometidos com a burguesia, a ser referendado por um conselho oligárquico e agora controlado pela extrema-direita. A estratégia funcionou perfeitamente e a esquerda chilena teve uma derrota profunda sem nenhum bombardeio ao Palácio. Um final melancólico e amargo.

Agora, o Chile verá nascer uma constituição pinochetista chancelada pelo jogo democrático e o levante popular que pedia por mudanças sociais, paradoxalmente, levará a mais retrocessos. Fica a lição, mais uma vez: pela via institucional do estado e da democracia burguesa, nenhuma mudança virá! (por David Emanuel Coelho) 

5 comentários:

SF disse...

***
Pois é David...

A "seta do tempo" refere-se à percepção comum de que o tempo flui em uma única direção, do passado para o futuro. É a ideia de que o presente é influenciado pelo passado, mas não pelo futuro. Esse conceito é fundamental para a nossa compreensão da causalidade, uma vez que a causa vem antes do efeito, o que implica uma direção no tempo.
***
A lei de causa e efeito, entretanto, não possui moralidade intrínseca, pois não é um juízo de valor sobre as consequências de uma ação. Em outras palavras, ela descreve uma relação causal entre eventos, sem julgar se essa relação é boa ou má.
No entanto, a lei de causa e efeito pode ser usada para descrever as consequências de ações humanas, sejam elas boas ou más. Por exemplo, se uma pessoa planta uma semente, a lei de causa e efeito diz que a semente vai germinar e crescer em uma planta, todavia, a escolha do que plantar é moral. Se uma pessoa agride outra, a lei de causa e efeito diz que a pessoa agredida pode sofrer danos físicos e psicológicos.
***
Assim, Uma ação sabidamente má pode ter consequências inevitáveis devido ao impositivo da "seta do tempo", ou seja, a direção unidirecional do tempo que impede que possamos voltar atrás e desfazer as ações já tomadas. Isso significa que, uma vez que uma ação é tomada, ela pode ter um efeito cascata que se estende no futuro e é impossível de se desfazer completamente.
Um exemplo de uma ação sabidamente má e suas consequências inevitáveis é a poluição ambiental causada pela emissão de gases de efeito estufa. A emissão de dióxido de carbono (CO2) e outros gases que contribuem para o aquecimento global é uma ação sabidamente má, pois aumenta a temperatura média da Terra e causa danos irreparáveis ao meio ambiente e a todas as formas de vida que dependem dele.
Embora seja possível tomar medidas para reduzir a emissão de gases de efeito estufa, já é tarde demais para impedir completamente as consequências inevitáveis da poluição ambiental que já ocorreu. Isso inclui o aumento do nível do mar, a acidificação dos oceanos, a desertificação de regiões antes férteis e o aumento da intensidade e frequência de eventos climáticos extremos, como furacões, secas e incêndios florestais.
Essas consequências são inevitáveis porque o CO2 e outros gases de efeito estufa têm uma vida útil muito longa na atmosfera, e mesmo que cessemos totalmente as emissões hoje, ainda haverá um acúmulo desses gases que continuará a afetar o clima e o meio ambiente por muitos anos.
Esse exemplo ilustra como a "seta do tempo" pode tornar as consequências de uma ação sabidamente má inevitáveis e irreversíveis. Portanto, é crucial que as pessoas e os governos considerem cuidadosamente as consequências de suas ações e adotem políticas e práticas que minimizem o impacto negativo a longo prazo.
***
Quando ocorre a polarização violenta no debate político, apesar de não ser irreversível, pode ter efeitos duradouros e prejudiciais na sociedade, especialmente se continuar a aumentar. A polarização pode levar a uma erosão da confiança nas instituições democráticas, na mídia e na capacidade das pessoas de trabalharem juntas em direção a objetivos comuns.
Além disso, a polarização política pode tornar mais difícil a adoção de políticas públicas eficazes, pois pode criar obstáculos para a cooperação e para a negociação de compromissos entre diferentes partes interessadas. Em uma sociedade polarizada, as pessoas podem ficar mais preocupadas em ganhar a batalha política do que em buscar soluções para os problemas reais.
*
E, Bingo!
Eis o que aconteceu no Chile.
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Corruptissima re publica plurimae leges - Tacitus.
*

Anônimo disse...

Prezado Amigo Celso,

Um forte abraço, a quanto tempo não nos falamos.
Como sempre escrevendo brilhantes artigos. Parabéns!

RESISTÊNCIA À DITADURA
Por coincidência, hoje encontrei um assunto interessante, as quedas de abril/1970 da VPR podem está ligadas a um "infiltrado" que de dentro da VPR colaborava com a ditadura.

A queda de Wellington está perfeitamente de acordo com os acontecimentos ligados a este "cachorro" que agia dentro da VPR, finalmente inocentando Wellington da morte de Juarez.

Dá uma olhada: https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2015/11/01/interna_politica,703473/documentos-da-ditadura-descartam-traicao-a-militante-mineiro-durante-o.shtml

ISMAR C. DE SOUZA
e-mail: ics-contato@bol.com.br

Valmir disse...

estive em Santiago do Chile há poucas semanas...todos comentavam como a insegurança tomou conta cidade; mulheres agarradas com suas bolsas, olhares abrangentes de 360 graus..pedintes na praça de alimentação do shopping; no mercado municipal, tradicional ponto gastronômico da cidade, estávamos em uma roda de turistas conversando, quando um homem cai ao nosso lado segurando uma ferida na barriga..ferida causada pela facada que acabara de receber de um bandido concorrente na disputa por territórios, certamente. Comunistas fazendo seu trabalho como sempre...

David Emanuel disse...

Valmir, deixa ver se eu entendi o seu blablabla. Você esteve no Chile e viu pedintes e crimes acontecendo, daí concluiu que tais crimes seriam culpa dos comunistas? Bom, é curioso você precisar ir ao Chile para descobrir a existência de crimes, algo tão corriqueiro nas ruas daqui mesmo do Brasil que até poucos meses atrás era governado por Jair Bolsonaro, sujeito que se dizia ferrenho combatente do crime, mesmo sendo ele um bandido notório. Pelo jeito, você não deve andar muito pelas ruas do seu próprio país, além de ser um péssimo conhecedor do mundo, pois se lesse a imprensa, por exemplo, da Inglaterra ou da França, saberia que por lá o crime também é volumoso, sobretudo contra turistas alienados que não andam nas ruas de seus próprios países de origem.

william orth disse...

Pelo que entendi, Valmir fez uma brincadeira. Normalmente a criminalidade é um grande incentivo a votar na direita. Desculpe a intromissão. Abraços

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