quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

NOVO ENSINO MÉDIO ENSINA AO ESTUDANTE A VIVER NA NOVA REALIDADE BRASILEIRA DE PRECARIEDADE SOCIAL

 


O Novo Ensino Médio entrou definitivamente em vigor neste ano de 2023 e traz em si a marca do projeto de nossa burguesia para o Brasil. 

Apenas duas disciplinas passaram a ser totalmente obrigatórias e com bastante espaço na grade horária, Português e Matemática. Sociologia, Filosofia, Biologia, Física, Química, História, Geografia, etc., foram substancialmente reduzidas para dar lugar a matérias luminares iguais a estas:

O que rola por aí?

RPG

Brigadeiro Caseiro 

Mundo Pets S.A.

Arte de Morar

O Mundo ao Redor 

Tais disciplinas fariam parte do itinerário formativo, escolha de cada aluno. Desconhece-se a oferta de disciplinas profissionalizantes, a menos que fazer brigadeiro seja considerado como profissão. Considerando o tipo de país ao qual o Brasil tem se transformado, é possível considerar ser sim preparar brigadeiros e sair por aí vendendo como exatamente a ideia de profissão almejada por nossa burguesia para os trabalhadores. 

Bancada e idealizada por fundações educacionais do mercado, - sendo a mais notória, a Fundação Lemann, de Paulo Lemann, o mesmo indivíduo envolvido no rombo bilionário das Americanas - a reforma do ensino médio foi implementada durante o começo do governo Temer e tinha por base a promessa de melhorar o engajamento dos estudantes nesta fase escolar, pois o índice de evasão é altíssimo.

Não é preciso ser especialista em educação para entender os motivos da alta evasão escolar no ensino médio brasileiro. O nó górdio é econômico, pois os estudantes pobres são pressionados a começar a trabalhar cedo - muitas vezes, já antes dos 15 anos de idade - para contribuir no sustento doméstico, levando-os à impossibilidade de compartimentar a vida laboral com a estudantil. 

Em complemento a isto, a própria vida escolar se torna pouco atrativa, seja porque não há vislumbre de prosseguir os estudos no ensino superior ou mesmo porque o estímulo salarial é muito baixo, havendo pouca diferença entre o salário de quem termina o ensino médio e de quem não o termina. 

Ou seja, a evasão escolar ocorre pela própria pressão social sobre os filhos da classe trabalhadora, causada pela ausência de perspectivas e pela baixa qualidade das vagas de emprego no Brasil. Mas, qual a causa apontada pelos tecnocratas das instituições de fomento à educação? O problema é o currículo! Sim, o currículo seria entediante e desconectado da realidade do aluno e, por isso, ele abandonaria o ensino médio... 

Daí tirarem as disciplinas chatas das ciências humanas, exatas e biológicas e colocarem aulas sobre Pets. Afinal, ter aulas sobre animais de estimação é o melhor para preparar os estudantes para o mundo de amanhã. A profissão de cuidadores dos animaizinhos da classe média e alta estará em voga em pouco tempo. 

Na realidade, a reforma do ensino médio casa-se perfeitamente com a nova lógica capitalista do Brasil. Em um país em franca decadência econômica, se desindustrializando e onde a precariedade foi elevada à condição de empreendedorismo, faz todo sentido se retirar disciplinas científicas e humanísticas para se ocupar o aluno com matérias que o ensinam a se virar e a exercitar a arte do vazio. 

A cereja do bolo certamente é a disciplina Projeto de Vida. Quando não existe mais empregos garantidos, não é possível mais comprar a própria casa, ter qualquer estabilidade ou planejamento mínimo do futuro, pois a precariedade engole a todos no capitalismo do século XXI, acreditar em um projeto de vida na adolescência é quase um exercício de sadismo. 

Por óbvio, tais ações valem apenas para o ensino público, já tradicionalmente sucateado. Quem pode pagar matrículas a peso de ouro para seus rebentos continuará recebendo o melhor da educação tradicional - e chata - capaz de prepara-los para ocupar os postos-chave do futuro. À classe trabalhadora restará vender brigadeiro ou cuidar dos bichinhos de estimação destes afortunados. (por David Emanuel Coelho)

2 comentários:

Anônimo disse...

Gostei da matéria. Só faltou dizer que o Governo Lula não aprovou esta lei, que foi iniciada no governo golpista apoiada por Bolsonaro, que conseguiu piorar a situação para os estudantes que frequentam as escolas públicas. Vocês podem fazer uma nova matéria.

David Emanuel disse...

Anônimo, no artigo é citado que a lei foi aprovada durante o governo Temer. Aqui não consideramos o Impeachment de Dilma como sendo "golpe", por isso não usaríamos tal terminologia, "governo golpista". Cabe acrescentar que a revogação do Novo Ensino Médio era defendida pelo PT alguns anos atrás e hoje foi substituída por "aprimorar a reforma".

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