...QUE OUTRO VALOR MAIS ALTO SE ALEVANTA!
Com o futebol atual exigindo cada vez maior vigor e intensidade física, é difícil imaginarmos que ainda veremos atuar numa Copa do Mundo quarentões como o goleiro italiano Dino Zoff (40 anos no Mundial de 1982), o atacante camaronês Roger Milla (42 no de 1994) e outros cinco menos conhecidos.
Mas, como cantou Sérgio Ricardo num tributo implícito ao inesquecível Mané Garrincha, "homem não chora por fim de glória, dá seu recado enquanto durar sua história".
A decadência de Cristiano Ronaldo, que dentro de dois meses completará 38 anos, é uma das mais emblemáticas dentre os futebolistas famosos que não souberam manter a dignidade quando o fim de carreira se aproximava.
Teve seu apogeu em 2009-2018 no Real Madrid, mas tornou público o seu desejo de mudar de clube e foi atendido pela Juventus, que adquiriu seu passe na transação mais cara do futebol mundial até então.
Não correspondeu à expectativa, pois a Juve passou as Champions em branco e, nas três temporadas em que contou com o CR7, só conquistou dois campeonatos italianos, duas Supertaças da Itália e uma Copa da Itália. Não foi, nem de longe, um retorno à altura do investimento.
No banco, vendo a consagração do seu substituto |
Para piorar, na janela de transferências de meados de 2022 quis mudar para algum time que fosse disputar a Champions 2022/2023 e nenhum se interessou.
Ficou sem ambiente no Manchester United ao abandonar o banco de reservas antes do término de uma partida e ao dar entrevista que teve péssima repercussão interna.
Foram os próprios companheiros de equipe que exortaram a direção do clube a livrar-se dele antes de sua volta da Copa, o que acabou se consumando por acordo entre as partes.
Como acreditava que bombaria no Mundial, recolocando sua carreira nos eixos, Cristiano ficou indignado por ser substituído no 2º tempo das três partidas de Portugal nas oitavas-de-final. Supôs que, como principal responsável pelas maiores títulos do selecionado português em todos os tempos (a Eurocopa de 2016 e a Liga das Nações da Uefa de 2018-2019), ainda fosse intocável.
Tornou público seu inconformismo e o técnico Fernando Santos, explicitamente desafiado, pagou pra ver, colocando-o no banco e apostando todas as suas fichas em Gonçalo Ramos, que aos 21 anos já se tornara um astro do Benfica.
O atacante excedeu todas as expectativas, marcando uma incrível tripleta nos 6x1 contra a Suíça e destravando o ataque lusitano, cujo jogo fluiu como nos longínquos tempos de Eusébio (década de 1960). Com isto, claro, o técnico quebrou a banca, adquirindo o direito de frustrar o CR7 sempre que considerar necessário para sua seleção.
Parece que ele finalmente começou a cair na real, pois aceitou receber uma quantia mirabolante para ir exibir-se por 30 meses no All-Nassr da Arábia Saudita, implicitamente admitindo que sua trajetória no futebol competitivo terminou.
E até comemorou os gols de Gonçalo Ramos, passando recibo de sua derrota no conflito de gerações.
É outro exemplo gritante da destruição do caráter de um ser humano que a sociedade do espetáculo leva a alturas injustificadas e não percebe estar sendo apenas um joguete dos mercadores e suas tenebrosas transações (como diria o Caetano Veloso).
Notável finalizador e mediano no restante, ele nunca foi um verdadeiro contraponto ao Messi, um craque completo, com um repertório de jogadas muito maior, enorme superioridade técnica, mais rapidez de raciocínio e capacidade de liderar e ditar o ritmo da peça ofensiva.
No entanto, era conveniente para os negócios simular uma competição entre ambos e, durante a década passada, tal fantasia se sustentou e rendeu muita grana para os manipuladores que a martelavam na mente dos videotas, como diria o Jerzy Kosinski.
Enfim, torço para que o belíssimo futebol apresentado por Portugal contra a Suíça não tenha sido fogo de palha; e para que, com seu atacante-revelação, os lusos cheguem à final. Seria o desfecho mais romântico possível para nós, brasileiros. Só que a França e Argentina têm planos diferentes.
De qualquer forma, pelo menos as semifinais ambos deveremos inevitavelmente alcançar, pois Croácia e Marrocos não passam de moedas que caíram em pé. (por Celso Lungaretti)
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