quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

MAIS UM PRESIDENTE DE ESQUERDA É ENGOLIDO PELA CRISE CAPITALISTA

O professor Pedro Castillo tentou virar a
mesa quando já estava bem debilitado...
O
furacão da atual crise capitalista passou desta vez pelos Andes e levou de roldão Pedro Castillo. 

A exemplo de tantos outros países do mundo, o Peru também vive uma crise grave de governabilidade, com uma tensão política que já dura anos. 

Percebendo que a terceira tentativa de impichá-lo (as anteriores fracassaram) obteria êxito, Castillo dobrou a aposta: anunciou a dissolução do Congresso Nacional, decretação de estado de exceção e convocação de uma nova assembleia constituinte. 

A rigor a ação seria constitucional, pois está prevista na carta magna peruana, herança do regime ditatorial de Alberto Fujimori. No entanto, isolado e sem apoio popular, o agora ex-presidente se viu decretando no vazio e acabou sendo deposto pelo legislativo e encarcerado em seguida. 

Na realidade, o processo de destituição de Castillo é mais uma página da longa crise no país que já tinha atingido Pedro Pablo Kuczynski, o qual renunciou após várias tentativas de impeachment; e que levou ao suicídio de Alan Garcia, também ex-presidente e à época perseguido pela operação lava-jato peruana. 

No bojo de todo o processo está o empenho das forças fujimoristas (hoje lideradas pela filha do ex-ditador, Keiko Fujimori) em retornarem ao poder do país após décadas alijadas da presidência. Tais forças, que dominam o Congresso Nacional, o Judiciário e a mídia, agem de forma continuada para desestabilizar todos os governos eleitos, impedindo seu funcionamento pleno. 

Keiko já havia tentado uma cartada golpista em 2021 ao questionar a legitimidade da votação presidencial, justamente vencida por Castillo. Sem apoio para a empreitada, retomou o processo destituinte via parlamento. 

Na realidade, Castillo acabou sendo vítima de sua própria desorientação. Quando eleito, tratou de rumar à direita para tentar respaldar-se com as elites peruanas, fazendo uma série de concessões econômicas e abandonando as pautas reformistas com as quais havia vencido. Afora acenar para o fundamentalismo defendendo posições machistas e homofóbicas. 
...pela insistente campanha de desestabilização que lhe
movia a maria-chuteira direitista Keiko Fujimori.
 

O resultado foi ter-se isolado das forças de esquerda, sem, contudo, conseguir angariar o apoio conservador. 

Sem base popular, com um altíssimo nível de rejeição, pressentiu que desta vez o impeachment se concretizaria. Então, em desespero de causa, recorreu à saída inviável de subverter a ordem institucional. 

Acabou sozinho e derrotado, evidenciando que sua ação foi ato solitário, não articulado com nenhuma força política relevante do país (a ponto de nem seu advogado o apoiar!). 

A base, porém, de todo este processo é a crise capitalista que se aprofunda. Tal como noutros quadrantes, a sociedade peruana está rachada ao meio, com uma divisão nítida cujo contorno é a dramática situação econômica e social do mundo. A luta de classes se agudiza a olhos vistos, assumindo ainda uma conotação de crise institucional e paralisia, algo também visto noutras paragens globais. 

A lição a ser depreendida é que, sem mobilização popular, é impossível avançar um milímetro na realidade. Castillo caiu porque tentou agir no vácuo, conciliando com quem não deseja conciliar. 

Aliás, falando em conciliação, é imperativo o lulopetismo olhar atentamente os acontecimentos do Peru, pois no Brasil também existe hoje uma direita tão obsessiva e radicalizada quanto a de lá. Ela está nas portas dos quartéis e nas rodovias, recompondo-se para o futuro. 

Lula e sua trupe precisam acordar para a realidade de que o tempo das conciliações passou. 

Caso contrário, acabarão tendo destino semelhante ao de Castillo. (por David Emanuel Coelho)

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