Vai daí que há muito dou como favas contadas que o Bozo, após o fracasso na sua principal (talvez seja melhor dizer única) meta como presidente da República, a perpetuação no poder pelo voto ou pelo golpe, inevitavelmente perderia também a liderança da horda de celerados que o endeusa e comete crimes por ele desde a campanha eleitoral de 2018.
Por quê? Porque os verdadeiramente fascistas só respeitam homens fortes como Hitler, Mussolini, Franco, Pinochet e outros que tais. Então, a partir do 7 de setembro de 2021, quando o Bozo amarelou na hora H e foi o primeiro a desistir do golpe de estado que convocara, indo buscar proteção no colo do tio Temer, o núcleo duro do bolsonarismo já passou a ter fortes suspeitas de que o bufão estridente não passasse... de um palhaço oportunista!
Desde o início de 2018 eu alertava que a do Bozo era a candidatura mais perigosa para a esquerda e a que deveria ser preferencialmente combatida. Mas, por conta do tipo de gente e de forças que se uniam em torno dele e não de convicções e periculosidade pessoais. Já fui crítico de cinema e sei separar bem os verdadeiros protagonistas de coadjuvantes que, quanto têm uma rara chance de desempenhar o papel principal, decepcionam miseravelmente.
Jamais o vi como um fascista convicto, e sim como um espertalhão sem nenhuma ideologia além da lei de Gerson, que havia encontrado uma fantasia conveniente para atingir seu objetivo de levar boa vida até o fim dos seus dias parasitando o erário.
Foi como ele atuou durante três décadas como vereador e deputado: um fisiológico em pele de nazista, dizendo e fazendo abominações para escandalizar as pessoas civilizadas. Falem mal, mas falem de mim.
As terríveis vaciladas petistas acabaram premiando o Bozo com uma presidência para a qual não tinha a mais remota capacitação, provavelmente nem sequer sanidade mental suficiente para o exercício do cargo.
Então, apesar de seus ridículos blefes golpistas na linha das picaretagens delirantes do astrólogo Olavo de Carvalho e do vigarista Steve Bannon, o que o Bozo sempre quis foi só usar o espantalho neofascista para chantagear os Poderes da democracia burguesa e obter vitórias sem ter de ir às vias de fato.
Quando o outro lado pagou pra ver, obrigando-o a mostrar o muque, repetiu invariavelmente a brochada de 1995 (a entrega de moto e arma para a bandidagem sem esboçar a mínima reação).
Os últimos trouxas que ainda confiam na liderança do Bozo estão promovendo badernaços em rodovias e portas de quartel, enquanto o Brasil inteiro quer mais é saber da Copa do Mundo e do Natal que chegará em seguida. Quem temia algo como uma invasão do Capitólio abrasileirada no dia da posse do Lula, pode ficar tranquilo: isto também já flopou.
E, como igualmente era facílimo de prever, o Bozo continuará tendo como precursor na rota da desdita o seu ídolo Trump: após o fracasso na tentativa de reeleição, verá sua liderança nas fileiras ultradireitistas definhar aos poucos como a do bilionário topetudo, que acaba de sofrer derrota política contundente e vê competidores (principalmente Ron DeSanctis) se assanhando para substituí-lo como candidato do Partido Republicano na eleição presidencial de 2024.
"No início do governo, [Mourão] fazia o contraponto moderado aos arroubos toscos e autoritários do presidente, [mas] ressurge agora como o franco-atirador do lado mais sombrio do bolsonarismo raiz......Mourão agora está livre e solto de compromissos com o governo, correndo em raia própria.Como Michel Temer, cansou-se de ser vice decorativo. Movimenta-se para assumir a liderança na extrema-direita, que se sentiu órfã com o recolhimento voluntário do mito".
Motivo de alívio? Nem tanto. Mourão, na ativa, era um oficial encrenqueiro, amiúde punido por suas insubordinações face aos governos petistas. Mas, sabe-se lá quando estava sendo sincero, se é que o foi alguma vez.
Pois, ora jogando na extrema-direita, depois se apresentando como a alternativa sensata ao destrambelhado genocida e agora voltando à imagem original, a única certeza é que se trata de um obcecado pelo poder, daqueles que, lembrando a frase do Lula sobre o Brizola, pisam até no pescoço da mãe para um dia envergarem a faixa presidencial.
E o pior: não só é bem mais hábil e ladino do que o trapalhão de poucas luzes e pavio curto, como chegou ao escalão máximo do generalato: general de exército (acima, portanto, dos generais de brigada e de divisão).
O fato de o Bozo ser tão-somente um tenente que ascendeu a capitão ao passar desonrosamente para a reserva sempre tornou quase impossível as Forças Armadas agirem, ao arrepio da Constituição, para colocá-lo no poder supremo do país.
Já Mourão satisfará plenamente tal requisito, caso tente virar a mesa. (por Celso Lungaretti)
Nenhum comentário:
Postar um comentário