domingo, 6 de novembro de 2022

PARECE IMPOSSÍVEL, MAS ACONTECEU...

F
alta pouco mais de um mês para se completar meio século desde que assisti a Corinthians 1x0 Ceará, numa noite de 5ª feira, no estádio do Pacaembu, pelo Campeonato Brasileiro. 

Depois da passagem pela luta armada e pelos porões da ditadura militar, eu tentava reerguer minha vida. 

Acreditara realmente que venceria ou morreria, conforme o lema da Vanguarda Popular Revolucionária, nunca cogitando a hipótese de sobreviver num Brasil em que a possibilidade de revolução decerto ficaria inviabilizada por décadas (não tinha ilusão nenhuma quanto a isto!).

Acabei reencontrando companheiros do movimento secundarista e deles recebendo o convite para participar de uma comunidade alternativa que estavam criando no Jardim Bonfiglioli, próxima à Cidade Universitária. 

Nela, aos poucos, fui recuperando o ânimo para continuar existindo, embora sem motivos ou metas. E, para ajudar nas despesas da nossa comuna, consegui meu primeiro emprego, numa agência de comunicação empresarial da avenida Paulista. 

E quando aquele resto de passado também se desmanchou no ar, em outubro ou novembro daquele ano, aluguei uma quitinete para morar com minha namorada. 
Andava melancólico, pois tivera durante uns bons meses a ilusão de ainda estar vivendo à parte do sistema, sem nada a ver com a repugnante euforia do milagre brasileiro. Já não havia, contudo, ilusão possível. Éramos só um casal a mais, como tantos e tantos. 

Aproveitando a proximidade do estádio (dava para ir a pé), é para lá que me dirigi findo o expediente, mais para passar o tempo do que qualquer outra coisa. O Corinthians era um time mediano com um único craque, Rivellino.

O time cearense resistiu bravamente na defesa, até tombar no finalzinho da partida, graças a um gol bizarro do Sicupira, que chutou meio caindo e  viu a bola se chocar contra a trave; aí o goleiro Hélio, de tão afobado para tirá-la de perto das redes, acabou empurrando-a para dentro.

Agora neste sábado, assisti pela TV a um Corinthians x Ceará muito parecido, com o time nordestino retrancado na etapa final inteira, enquanto o Corinthians martelava, martelava, mas a bola não queria entrar. A semelhança era tanta que pensei com meus botões: "Será que o Corinthians vai marcar de novo no apagar das luzes?".
Não deu outra. Na última volta do ponteiro (fora acréscimos), o goleiro João Ricardo se complicou com uma bola espirrada, deixou-a passar, mas pulou para trás e deu um tapa antes que transpusesse a linha de gol. No entanto, a redonda foi ao encontro da perna do corinthiano Yuri Alberto e de lá para as redes.

Não me lembro de, acompanhando futebol há uns 60 anos, ter alguma vez presenciado duas partidas com características e desfecho tão semelhantes como essas duas, travadas, ademais, entre os mesmíssimos times.

Duvidam? Assistam aos gols e comparem. (CL

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