domingo, 6 de novembro de 2022

O FANATISMO COLETIVO É GENOCIDA – 1

dalton rosado
NATUREZA, CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DO FANATISMO
Kahlil Gibran
O fanatismo é definido pela ciência médico-psiquiátrica ou pela psicologia como uma espécie de patologia psíquica.

Trata-se de um fervor exacerbado sobre um determinado tema ou causa (geralmente política ou religiosa) contraído a partir de convicções fundamentalistas que adquirem uma característica irracional e maniqueísta: os fanáticos creem em determinados dogmas como se fossem verdades comportamentais absolutas.

Uma unidade de qualquer substância somada a outra de igual teor e juntadas uma ao lado da outra representam um quantitativo de duas unidades; mas quando misturadas podem representar uma única unidade de porção quantitativa diferenciada, ainda que da mesma substância. É que a resultante de tal soma pode ser alterada de acordo com o ângulo sob o qual está sendo analisada.

Este é um exemplo que busquei na lógica para definir a verdade relativa e absoluta sobre algo que é considerado como absolutamente verdadeiro: a matemática. Sob um determinado ângulo são duas unidades; sob outro ângulo é uma única unidade quantitativamente diferenciada. Os dois paradigmas estão corretos, dependendo de como se queira analisá-los.

Contudo, em questões sociais e religiosas que não têm a mesma simetria quantitativa e qualitativa do exemplo matemático acima, a verdade não existe, posto que o pensar está sempre distante da verdade absoluta. 

Em psicologia, os fanáticos são descritos como indivíduos dotados das seguintes características:
— agressividade excessiva;
— preconceitos variados;
— estreiteza mental;
— extrema credulidade quanto a um determinado sistema;
— ódio;
— sistema subjetivo de valores;
 intenso individualismo;
 demora excessiva em algumas circunstâncias.

Estamos num momento da história mundial e brasileira no qual afloram os sentimentos mais apaixonados de adesões a projetos políticos conservadores ou progressistas (conforme a conceituação tradicional destes dois termos).

É a resultante inequívoca de uma insatisfação generalizada, face à qual cada um defende uma verdade que considera definitiva e redentora. Uma espécie de narcisismo intelectual individual que se soma coletivamente a determinados grupos cujos pensares se assemelham e neles encontram força.

Nelson Rodrigues, admitindo-se como torcedor fanático do futebol dizia que os outros são grandes, mas o fluminense é imenso. Na política esta questão ganha dimensão superlativa.

Os conservadores acreditam que os bons princípios do passado foram criminosamente desvirtuados, daí precisarem ser restaurados para o bem de todos.

Já os progressistas querem que novos comportamentos sociais sejam adotados para o enfrentamento das questões novas surgidas, mas sem saberem exatamente qual é a questão de fundo; qual é a questão essencial de conteúdo, acima da forma.

O FANATISMO COLETIVO É GENOCIDA – Não há comportamento humano mais irracional do que as guerras, nas quais se matam pessoas que sequer se conhecem, em nome de uma crença patriótica pretensamente ultrajada. De ambos os lados há verdades fanatizada, e em ambas as partes há irracionalidade e desumanidade. Todos brigam e se matam. Todos estão previamente errados.

Para quantos se matam na guerra, mais do que uma legítima defesa, é a honra patriótica o que está em jogo (e a cantilena militarista explora tal sentimento); mas, para cada lado individualmente, a desonra está do lado oposto. Este é um conflito entre a verdade relativa e a verdade absoluta de cada um, que termina por revelar um substrato irrefutavelmente negativo: o fanatismo irracional.

O senso despreconceituoso tem visão onilateral da vida; o fanatismo tem visão unilateral, preconceituosa, parcial e retrograda.

O senso racional é o oposto do fanatismo que não admite e nem analisa a possibilidade de existência de alguma virtude em cada posicionamento de quem dele discorda.

O fanatismo maximiza a importância de pretensas verdades imutáveis das quais seus membros são portadores e que devem ser defendidas a qualquer custo, daí a sua periculosidade.

O senso razoavelmente isento raciocina; o fanatismo se aproxima da paranoia delirante dogmática.

O perigo do fanatismo paranoico é que ele é individualmente assassino.

O que dizer daquele assassinato em Foz do Iguaçu (PR), praticado por alguém que foi até a residência de uma pessoa que comemorava seu aniversário temático pró-Lula, mas que sequer conhecia o aniversariante, e lhe desferiu um tiro mortal, recebendo outro sem a mesma letalidade?

O fanatismo gera a intolerância cega. (por Dalton Rosado – continua neste post)
As composições do Dalton também combatem a intolerância

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