quinta-feira, 3 de novembro de 2022

DESTA VEZ ELES NÃO PASSARAM. VAMOS NOS PREPARAR PARA A PRÓXIMA!

Depois do confirmada a derrota do Boçalnaro, o ignaro no último domingo (30), nosso país viveu momentos de forte tensão social, com o desencadeamento de uma disparatada tentativa golpista. 

Em muitas regiões brasileiras, os caminhoneiros, principais transportadores de mercadorias de norte a sul do território nacional devido ao abandono dos transportes ferroviário e fluvial de cargas de longas distâncias, resolveram desrespeitar a vontade eleitoral de 60 milhões de brasileiros.

Mas, não estavam sós, como ficou evidenciado no longo mutismo do Boçalnaro, certamente adiando o reconhecimento da derrota na esperança de que o badernaço nas rodovias encontrasse eco nas Forças Armados ou nas polícias militares estaduais. 

O único apoio que os golpistas receberam foi o da Polícia Rodoviária Federal, que, depois de agir com extrema diligência para atrapalhar a chegada dos eleitores às urnas, assistiu inerte àquelas ilegais demonstrações de força, que viraram demonstrações de fraqueza quando as torcidas organizadas de futebol atravessaram os bloqueios na marra para apoiar os seus times do coração em partidas como visitantes.   

Assim, confirmando que, como eu já dissera neste artigo, o Brasil nunca esteve tão perto de uma guerra civil como agora, os bolsominions passaram recibo de que o processo eleitoral somente valeria para eles caso tivessem reeleito o maior genocida da história mundial recente (responsável inequívoco por cerca de 400 mil mortes por sabotagem à vacinação contra a covid). A máscara democrática desses aprendizes de ditadores caiu solenemente!

Mas, felizmente, o Brasil tem características especiais no contexto mundial.

A primeira delas é a dimensão continental do nosso país, em cujo solo existe a maior floresta tropical do planeta e que, num momento de aquecimento global, serve como um pulmão para o mundo. 

A política boçalnarista de deixar passar a boiada para atender de predadores de madeira e minérios, associados ao tráfico de drogas, fez do governo ultradireitista um pária entre os civilizados.

Eu nunca vi com bons olhos a acolhida de braços abertos que Lula recebe nos países capitalistas detentores da hegemonia econômica mundial.

Eles sabem perfeitamente que Lula é um social-democrata de origem operária, mais próximo do trabalhismo inglês que da social-democracia mais progressista. Ele não liga para a contradição relativa do capital/trabalho (uma categoria é a gênese da outra, daí a contradição ser apenas relativa), encarando-a meramente como uma relação social a ser humanizada. Ou seja, repete o equívoco histórico da esquerda institucional.

Mas, diante de um energúmeno pretendente a ditador orientado pelo falecido dublê de filósofo de almanaque e astrólogo de quiromancia Olavo de Carvalho, Lula está sendo considerado pelo G7 como a bala de prata da democracia burguesa, neste momento de depressão econômica planetária (quando esses donos do PIB mundial veem evaporar-se o capital e sua correspondente substância, o valor representado pelo dinheiro que se desvaloriza cada vez mais).

Os fascistas brasileiros, conscientes das ilegalidades que cometem induzidos por uma cantilena patriótica retrô e fazendo-se passar por paladinos do combate à corrupção com a qual estiveram envolvidos, agora resolveram radicalizar e externar o seu ódio elitista.

A segunda especificidade que nos beneficia é a nossa natureza político-econômica, que nos empresta uma importância mundial, avessa a projetos ditatoriais tupiniquins como este misto de nacionalismo patriótico ultrapassado com liberalismo clássico dos Chicago's boys que deu com os burros n’água.

Embora a reforma agrária seja uma bandeira capitalista (os EUA, p. ex., data de mais de dois séculos atrás), nunca fizemos uma dita cuja digna desse nome. 

Mas, por termos água abundante, sol tropical e terras férteis, os latifúndios brasileiros terminaram por descobrir nossa vocação agrícola de produção de alimentos em larga escala, daí nos havermos tornado competitivos: somos o segundo maior produtor de alimentos vegetais e animais do mundo.

Mas temos também minérios, sendo as nossas reservas de ferro das Minas Gerais e amazônicas uma riqueza capaz de desenvolver a nossa indústria metalúrgica que já começa a se tornar vigorosa (a Cia. Siderúrgica do Pecém, responsável por 52% do valor de todas as exportações cearenses, e as filas de navios em São Luís do Maranhão demonstram a pujança que nos tornou, p. ex., grandes fornecedores das indústrias chinesas).

Isto para não falar do parque industrial paulista e no papel que São Paulo desempenha como cérebro financeiro e administrativo, o principal do capitalismo latino-americano.

Somos, portanto, uma simbiose de país com vocação agrícola, cuja produção não agrega valor substancial de riqueza abstrata, ainda que tal produção seja vital em riqueza material não valorizada (basta dizer que no país de maior produção de grãos do mundo, e que detém o maior PIB mundial, os Estados Unidos, o setor agrícola representa menos de 2% do seu PIB), com país urbano industrial.

Nisto reside, também, a nossa importância mundial, capaz de preocupar as lideranças planetárias mais expressivas com os destinos da democracia burguesa brasileira, de vez que um projeto ditatorial militarista ultrapassado não interessa a ninguém.

Lula cai como uma luva neste processo:
— não é um radical de esquerda, capaz de eventualmente questionar o capitalismo decadente;
— traz nas suas consignas a simbologia da estrela socialista encarnada, tendo, contudo, dela na verdade se afastado com suas conciliações políticas ao centro e à direita moderada; e
— pratica o jogo político republicano que interessa à manutenção da autonomia do Estado burguês como força reguladora e regulamentadora da vida capitalista.

Boçalnaro, aconselhado por seus ministros militares e sentindo o termômetro da temperatura de clima de guerra civil ora criado e antes incitado por ele aos seus correligionários fanáticos, acabou implicitamente aceitando a derrota e aconselhando os baderneiros a suspenderem os bloqueios de rodovias.

Juntamente com a forte bancada parlamentar que lidera, deverá fazer oposição ferrenha ao projeto lulista, que, obviamente, sofrerá as agruras próprias de um país devastado economicamente e que, em condição periférica e subalterna, sofre as consequências da depressão econômica mundial..

Mas, embora os boçalnaristas recalcitrantes devam curvar-se às evidências dos fatos ao longo dos próximos dias, a tendência é que voltem a aglutinar forças num futuro mediato (por Dalton Rosado)

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