sábado, 29 de outubro de 2022

O BOZO SE DESPEDIU DA PRESIDÊNCIA E INICIOU SUA CAMPANHA PARA A CÂMARA

Será essa coisa a que assistimos na antevéspera do 2º turno o melhor que o Brasil tem a oferecer em termos de presidente da República?

Não? Concordo. Então, a pergunta premiada é: como chegamos a tal fim de feira?

Haverá muitas tentativas de explicação, algumas até tocando em aspectos relevantes da nossa tragédia. 

A minha favorita é a de que estamos agora pagando por termos feito uma redemocratização pela metade após os 21 anos de trevas ditatoriais, pois não cravamos a estaca no coração do vampiro.

Ou seja, a anistia de 1979 deixou igualados os algozes (as bestas-feras do terrorismo de Estado) e suas vítimas; e nada foi feito para corrigir tal absurdo, tanto na Nova República quanto em todos os mandatos presidenciais subsequentes, inclusive os petistas.

Não se apuraram os extermínios conduzidos pela máquina estatal nem se puniram os assassinos, torturadores, estupradores e ocultadores de cadáveres que escreveram aquela página infame da nossa História. 

Não se tomaram providências para proteger a memória dos massacrados que entregamos a vida ou passamos pelo inferno em nome da dignidade do povo brasileiro, para que tantas atrocidades não parecessem ser, ademais, consentidas. Os relativamente poucos que lutamos, pagamos o preço da omissão de tantos e tantos que se preservaram.

Não se consagrou o direito de resistência à tirania, permitindo que remanescentes da ditadura ou suas
viúvas continuassem alegando que um ou outro excesso cometido pelos defensores da civilização equivaleria às atrocidades em larga escala dos que fizeram da barbárie uma política de Estado ou a executaram.

Muito menos se deu o tratamento correto aos negacionistas do nosso Holocausto, que deveriam ter trancafiados em celas idênticas às dos negacionistas do Holocausto do povo judeu. 

Se assim tivesse sido feito, o aprendiz de ditador que a tantos matou com sua obtusidade insensível e tantos estragos provocou durante seus surtos dementes jamais haveria disputado a eleição presidencial de 2018, pois estaria merecidamente preso por ter louvado o torturador-símbolo do Brasil na sessão da Câmara Federal  mais vista da nossa História.

A pusilanimidade dos oposicionistas do passado distante e  governistas do passado recente permitiu que a ditadura continuasse hibernando desde 1985 e quase voltasse agora. O ovo da serpente não foi esmagado e pouco faltou para que eclodisse durante o desgoverno do pior presidente da nossa História, finalmente vivendo seus últimos dias.

Poderá, contudo, voltar depois que o novo presidente surfar na popularidade fácil em 2023, quando lhe bastará corrigir as piores iniquidades e injustiças do seu antecessor para dar aos brasileiros uma sensação de alívio.
Mas e depois, quando ficar evidenciado que ele também não sabe nem tem como fazer a economia brasileira voltar a crescer, retirando o nosso povo do extremo aviltamento a que foi reduzido pelo genocida insano?

Aí a extrema-direita talvez já terá se reciclado, inclusive se livrando do palhaço desbocado que passou o mandato inteiro ensaiando golpes de Estado, mas sempre refugou apavorado na hora H. 

Então, ou passamos a acumular acertos ou seremos adiante destruídos pelos nossos erros. Neste domingo conquistaremos apenas uma trégua e, não duvidem, ela terá os dias contados se insistirmos em apenas gerenciar o capitalismo agonizante, sob concessão do poder econômico. 

Pois, apesar de os vira-latas do capitalismo terem cerrado fileiras com o Bozo, a derrota do bufão só ocorrerá porque o segmento mais sofisticado e poderoso do sistema de exploração do homem pelo homem não suportava mais a instabilidade nos mercados causada por seus abusos de poder em cascata e flagrante desrespeito à institucionalidade burguesa (e, inclusive, ao senso comum!). 

De resto, faltou dizer algo sobre o último debate da campanha, no qual dois bonecos de ventríloquo se digladiaram com insultos, fake news, citações de dados que precisariam ser contextualizados para significar alguma coisa e um verdadeiro festival de disparates e impropriedades.  

O desespero face à derrota iminente fez Bolsonaro deixar transparecer seu desequilíbrio em vários momentos, enquanto Lula, como mestre-escola de vilarejo do interior, repetia à exaustão o mesmo blablablá fantasioso sobre seus mandatos passados.

Mas, para os telespectadores chegarem a alguma conclusão (afora as óbvias, de que tinham desperdiçado seu tempo e de que melhor do que entre tão canhestros contendores seria um debate dos marqueteiros que os adestraram), o pária no mundo civilizado, num ato falho, pediu a Deus que o ajudasse a obter votos para o cargo... de deputado federal  

Só que precisará antes da ajuda divina para permanecer fora das grades... (por Celso Lungaretti)

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