segunda-feira, 3 de outubro de 2022

NÃO APRENDERAM NADA

S
e podemos dizer algo sobre os resultados das eleições deste domingo (2) é justamente isto: não aprenderam nada. 

No caso, falo da esquerda, que continua dormindo em berço esplêndido quase dez anos depois de junho de 2013. 

Ela ainda acredita que seja possível conquistar mentes e corações se remetendo ao passado, ao discurso insonso do republicanismo e da conciliação de classes, isto em pleno momento de crise aguda do capitalismo. 

O petismo hoje é praticamente inexistente no Brasil, um zumbi. Não tem mais força de organização ou inserção nas massas. Caducou por completo. Possuí apenas o seu líder máximo, Lula, que, após tantas décadas de protagonismo político, hoje tem uma aura de maior do que o seu próprio partido, o qual fica nitidamente inferiorizado na comparação com ele. 

Daí o PT não possuir mais praticamente nenhuma articulação popular, nenhuma base organizada digna do nome. A força política mais organizada no Brasil hoje é a extrema-direita e os resultados da eleição mostram isto claramente, com suas vitórias acachapantes para o legislativo e para diversos quadros de governos estaduais. 

Lula escolheu o caminho de deixar Bolsonaro sangrar até as eleições para assim impor uma chantagem ao povo brasileiro: ou ele ou ele o genocida. Fez algo semelhante ao que já tinha sido feito pelos tucanos contra ele próprio à época do mensalão. Então, como agora, a força do governante foi subestimada.
Dia 30 os brsileiros decidirão se querem continuar assim

No caso de Bolsonaro, foi igualmente menosprezado o fato de que o sistema político brasileiro segue em colpaso, com rejeição imensa aos políticos tradicionais por parte da população. 

Neste sentido, Bolsonaro segue aparecendo como o grande outsider, o perseguido pelas elites políticas e econômicas, o homem que quer defender a  todos contra a ditadura do STF e dos médicos. 

Enquanto o lulopetismo hoje não consegue mobilizar nem meia-dúzia de militantes, Bolsonaro e sua trupe conseguem facilmente colocar milhares nas ruas para defender suas pautas reacionárias. 

No fim, este poder de mobilização foi o determinante, pois o gado, uma vez convocado, foi em peso às urnas mudar o rumo das eleições, levando junto outros indecisos ou simplesmente menos resolutos. 

Lula acreditou que iria vencer com o odiado Alckimin e reeditando os velhos conchavos já rechaçados pela população faz quase dez anos. Ainda crê que a política hoje se faz como se fazia há vinte anos, com acordos de bastidores, reuniões a portas fechadas e apoios de de raposas ladinas. De novo, não aprendeu nada. 

O auge de sua alienação foi posar para uma foto com Meirelles e companhia, como se o apoio de um banqueiro fosse surtir efeito eleitoral. Bolsonaro é o candidato dos bancos, mas sabe cuidadosamente se fingir de inimigo deles, uma tática histórica dos fascistas. 

O grau de decomposição do petismo pode ser constatado com o lançamento, no Rio Grande do Sul, de um candidato que, derrotado na eleição para governador de 2006 e na eleição para o senado em 2014. Sumira do noticiário e parecia já ter pendurado as chuteiras: Olívio Dutra.

Em Minas, a aposta foi num desconhecido, Kalil, contra o governador candidato à reeleição. Escolhas semelhantes ocorreram Brasil afora, mostrando a esclerose do lulopetismo enquanto força social organizada e antenada ao momento nacional. 

O ex-presidente ainda consegue ter força graças à nostalgia do passado, mas dados os números desta eleição, podemos afirmar com certeza que tal nostalgia está se esvaindo. 

A radicalização cresce a olhos vistos e não será fazendo tolos apelos à paz que será possível derrotar o neofascismo ou avançar-se um milímetro na luta social. É preciso radicalizar para enfrentar as forças radicalizadas do atraso. 

O colpaso social do Brasil, sua desindustrialização e o avanço de formas retrógradas de organização social, somado à crescente crise terminal do capitalismo, tem alavancado a radicalidade. O Brasil está dividido, há um fosso entre capitalistas e povo, com o último não mais se reconhecendo no país e nas instituições existentes, mas ainda não conseguindo discernir com clareza o rumo a tomar. 

Daí a extrema-direita atuar no desnorteamento, ocupando o espaço da insatisfação que deveria ser de uma esquerda revolucionária autêntica. No entanto, enquanto a esquerda permanecer caudatária do passado, de forças amanssadoras da consciência, não haverá caminho possível para sairmos deste impasse. 

Por fim, nossos analistas, bem pensantes inúteis da mídia, que se pautam em pesquisas e desconhecem o que é política, ficarão desnorteados com os resultados.
 
Nada mais previsível, pois eles ignoram uma coisa chamada luta de classes,  que perpassa a sociedade de cabo a rabo. 

É o drama da luta de classes que define os rumos da política e não meros discursos ocos criados pelos marqueteiros. (por David Emanuel Coelho)

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