Na realidade atual, esta foi uma admirável iniciativa... |
Um novo clipe com características parecidas foi lançado neste sábado (17) no YouTube. Mas, como a volta do PT ao poder não enseja agora idênticas esperanças, seria exagero destacar o brilho de uma estrela, como foi a tônica naquela vez.
O que se fez foi repudiar nosso pior e mais desequilibrado presidente da República de todos os tempos, que:
— causou a morte de centenas de milhares de brasileiros com seu negacionismo e sabotagem à vacina contra a covid;
— conseguiu recolocar o Brasil no mapa da fome;
— fez deste país um pária internacional, motivo de indignação e zombarias dos civilizados do mundo inteiro, etc.
O Hino ao Inominável, gravado entre julho e agosto últimos, tem mais de 13 minutos e foi criado pelo Coletivo Bijari, destacando as frases mais repulsivas que o Bozo já proferiu. Não invejo o trabalho dos selecionadores, pois ao longo de sua parasitária vida adulta ele deve ter sido autor de pelo menos um milhar delas...
...mesmo não igualando a grande esperança de 1989. |
Com letra de Carlos Rennó e música de Chico Brown e Pedro Luís, a canção é apresentada por 30 intérpretes, desde atores como Wagner Moura e Bruno Gagliasso até cantores cono Chico César, Zélia Duncan, Lenine, Caio Prado (do trio Não Recomendados) e Marina ìris. O violoncelista Jaques Morelenbaum também fez uma participação especial.
A canção tem 200 versos metrificados, além do refrão otimista ("Mas quem dirá que não é mais imaginável / Erguer de novo das ruínas o país?").
A descrição do vídeo no YouTube, por sua vez, acena com uma responsabilização da horda de bárbaros e da famiglia mafiosa pelos crimes cometidos, Ou seja, exatamente com o que deixou de ser feito a partir da redemocratização de 1985 ("Sem a memória dos crimes de hoje, não teremos justiça amanhã. Esquecer, jamais!").
UM ADENDO PESSOAL – Foi muito gratificante para mim a constatação de que o empurrãozinho dado na carreira do Carlos Rennó ajudou a direcionar seu enorme talento para o bom combate.
Quando, lá por 1980, eu era o editor das revistas de música da Editora Imprima, ele apareceu por lá querendo escrever apenas sobre os tropicalistas, principalmente Caetano Veloso. Mas, como seu texto já era ótimo e ele precisava de grana para se bancar enquanto tentava inserir-se no nicho por ele almejado, assim como de holofotes (mesmo pequenos) para ir se tornando mais conhecido, convenci-o a escrever também sobre outros músicos.
Manifestação antifascista na Paulista em meados de 2011 |
Eu aprendi com muitos veteranos e ensinei a muitos iniciantes. Assim éramos os jornalistas de outrora.
Hoje competem o tempo todo entre si e puxam o tapete uns dos outros, a tal ponto que não lamentei muito ter encerrado minha trajetória em redações no final de 2003, ainda amando a profissão no que ela tinha de melhor (disponibilizar a verdade aos leitores).
Mas detestando o que ela havia se tornado e os profissionais sem idealismo nem solidariedade que ela passara a estimular, embora, claro, subsistam dignas exceções ao mercenarismo vigente. (por Celso Lungaretti)
3 comentários:
Carpe diem, quam minimum credula postero.
Aproveitemos!
Por que, afinal, confiar o mínimo possível no amanhã?
Eu confio desde 2020 que o Bozo sairá com o rabo entre as pernas, depois de fracassar nas tentativas golpistas e de sofrer derrota acachapante nas urnas... e é exatamente para este desfecho que os acontecimentos se encaminham.
O amanhã quase sempre está embutido nas tendências prevalecentes do hoje. Se as interpretamos corretamente, podemos, sim, confiar nos cenários futuros que projetamos.
Um forte abraço!
***
"Elegia", 1938 por Carlos Drummond de Andrade
Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.
Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue frio, a concepção.
A noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.
Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
Mas o horrível despertar prova a existência do maquinário
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.
Caminhas entre mortos e com eles conversas
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.
Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.
***
Isto em 38 do século passado.
A bonis bona disce.
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