Era uma constelação de artistas apoiando o PT... |
Se em 1989 uma campanha como a do Lula-lá tinha a entusiástica participação voluntária de uma constelação de artistas de primeira grandeza, no século atual os políticos de esquerda vêm recebendo o apoio de nomes com mínima qualidade estética.
Hoje o que importa mesmo é apenas ter impacto entre as massas, pegando carona na popularidade alheia para compensar a baixa inserção própria.
Assim, foi recebida com grande alegria nos círculos lulopetistas a declaração recente de Anitta, recomendando o voto no ex-presidente. O entusiasmo com a potencial chuva de votos, contudo, logo arrefeceu e ficou com certo gosto amargo, pois a cantora proibiu o partido de usar sua imagem.
Ora, mas como apoiar Lula e se afastar do PT? A aparente contradição, na realidade é um sintoma muito bem alicerçado numa dinâmica alimentada pelo próprio lulismo ao longo das últimas décadas.
Em Os sentidos do Lulismo, o jornalista e cientista político André Singer – que foi secretário de Imprensa do Palácio do Planalto no primeiro governo do Lula – deu algumas pistas deste fenômeno.
...hoje o partido festeja quando atrai uma estrela solitária. |
Esta dissociação entre Lula e o PT é fato marcante mesmo quando se considera a lógica interna da agremiação, pois é notória a inexistência de democracia partidária, agindo o ex-presidente enquanto um deus ex machina transcendental.
Assim, a dissociação de Anitta entre Lula e o PT possui forte sentido, pois não é fruto de um erro de leitura da parte da pop star ou mesmo de simpatia apenas pelo candidato. Antes, é expressão da dualidade concreta alimentada pelo lulopetismo entre o ex-presidente e o partido.
Por ela, Lula aparece acima da lógica partidária, acima dos interesses particularistas e mesquinhos da política, se colocando enquanto representante messiânico do povo enquanto entidade mística, desencarnada. É a mesma lógica responsável por colocar Lula acima das classes sociais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário