dalton rosado
DEPRESSÃO ECONÔMICA MUNDIAL?
política, e é por isso que a crise econômica tem gerado
uma crise na paz mundial"(Arthur Henderson)
No capitalismo tudo é aferido pela forma-valor, representada por suas duas formas referenciais fundamentais: o dinheiro, mercadoria especial e a única que não tem valor de uso, apesar de comprar todas as outras e nelas se materializar; os objetos, mercadorias sensíveis, tangíveis; e a mercadoria serviços.
Hoje há um artificialismo no mundo econômico que bem demonstra a inconsistência do capitalismo em sua fase desenvolvida: a dissociação entre o dinheiro e a forma-valor que deveria representar.
O dinheiro já não é mais a representação fidedigna do valor, sendo esta a causa da inflação mundial assombrosa.
O mundo todo roda com dinheiro sem valor e, em algum momento, este artificialismo terá de exigir uma nova referência substantiva de relação social. A pergunta que não quer calar é: chegamos a tal momento?
Negativo. Ainda não atingimos o ponto culminante desta situação de inviabilidade social sob a ordem capitalista, mas estamos caminhando celeremente para ela.
Analisarei aqui a questão sob uma perspectiva inicial mais didática, correndo o risco de ser professoral em demasia, mas entendendo que tal abordagem é necessária, principalmente para os leitores não versados em economia (a grande maioria da população).
É que o objeto da adoração popular, o dinheiro, continua sendo um grande desconhecido, tal qual uma maçã externamente bela e podre por dentro.
Os economistas burgueses, em geral, se prendem apenas à análise do gerenciamento do capital, abstraindo sua essência negativa e tentando dar consistência ao que é inconsistente na origem.
Esta é a razão pela qual venho fazendo ao longo de mais de 600 artigos neste blog a crítica ontológica do capital, tentando espelhar-me no que Karl Marx fez ou deduziu e reafirmando as contradições que fatalmente o levarão ao colapso, sob o risco altamente presente de ele nos levar à extinção como espécie, em seu processo autodestrutivo (a guerra é uma destas consequências).
Qualquer análise sobre a saúde econômica sob a égide do capital se fixa em quatro pontos básicos numéricos, e seus graves reflexos nas relações sociais humanas, quais sejam:
1. o tamanho do PIB da economia mundial;
2. a inflação, que é a perda de capacidade de compra do dinheiro;
3. o desemprego estrutural e suas taxas mundialmente crescentes;
4. as dívidas públicas e privadas impagáveis.
Como sabemos, o Produto Interno Bruto é formado por três segmentos econômicos: o primário, representado pelo agronegócio; o secundário, representado pela indústria; e o terciário, representado pelos serviços.
Apenas os dois primeiros segmentos são produtores de valor novo, sendo que, na economia desenvolvida, o agronegócio agrega pouco valor ao PIB, apesar de serem os alimentos dele derivados vitais para a existência humana.
A produção industrial é a mais representativa da criação de valor novo, principalmente nos países economicamente desenvolvidos, que produzem mercadorias sob patentes tecnológicas que não podem ser reproduzidas pelos países subdesenvolvidos, que as compram a preços altos (não confundir com valores).
O segmento de serviços não produz valor novo, mas apenas transfere de mãos valor já existente. Tal segmento é, hoje, o mais expressivo na formação do PIB das economias desenvolvidas, fato que, por si só, já representa um sintoma de anomalia econômica somente pelo fato de o mundo estar rodando com dinheiro artificial.
Como se explica a existência de mais dinheiro circulando no segmento de serviços, se não há valor novo sendo produzido para alimentar tal circulação, mesmo considerando a alta rotatividade de valores de prestadores de serviços entre si (que apenas explica em parte tal fenômeno)?
A dedução lógica é de que há emissão de moeda sem lastro a alimentar (principalmente) o segmento de serviços, sendo esta é a causa básica da inflação mundial estar atingindo agora as economias ditas fortes, de vez que nos países da periferia capitalista tal fenômeno já é frequente e sacrifica a maior parte de suas populações.
Até países que outrora tiveram alto padrão de consumo, como a Argentina, estão agora padecendo sob o tacão da inflação, que representa o maior confisco de salários dos trabalhadores e do trabalho abstrato remunerado sob o critério do dinheiro. (por Dalton Rosado – continua neste post)
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