mônica bergamo
DENÚNCIA CONTRA O BRASIL POR MORTE DE BACURI
NA DITADURA CHEGA À CORTE INTERAMERICANA
Uma ação que pede a responsabilização do Estado brasileiro pela morte de Eduardo Collen Leite, o Bacuri, durante a ditadura militar chegou à Corte Interamericana de Direitos Humanos.
Guerrilheiro da luta armada contra o regime, Bacuri é considerado o preso político que mais tempo passou sendo torturado em instalações da Marinha, do Exército e pela equipe do delegado Sérgio Fleury – foram 109 dias.
O caso foi encaminhado ao tribunal pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos, onde tramitava desde 2011, a pedido do Centro pela Justiça e o Direito Internacional (Cejil), que assina a ação.
O envio se deu em razão da ausência de uma resposta efetiva do Brasil a recomendações feitas pela comissão, que apontou violações de direitos das vítimas.
Também serão julgados na Corte os abusos cometidos contra Denise Peres Crispim, militante política e companheira de Bacuri. Presa quando estava grávida de seis meses, ela foi submetida a torturas e deu à luz sob escolta.
A codiretora do Cejil para o Brasil e Cone Sul, Helena de Souza Rocha, afirma:
"Será a primeira vez que a Corte analisará um caso brasileiro em que se denunciam as torturas cometidas contra mulheres no contexto da ditadura, evidenciando também o viés misógino destas práticas, muitas das quais ainda se reproduzem até a atualidade, e que impactam mulheres, e seus filhos e filhas, de forma diferenciada".
Nos próximos meses, deve ser iniciada a fase escrita dos procedimentos. Em seguida, uma audiência pública será convocada para escutar testemunhas e peritos, além das alegações finais.
Segundo relatos, Bacuri não tinha olhos, orelhas nem língua ao ser reconhecido pela família.
Já os militares disseram que ele morreu em tiroteio ao resistir à prisão. A tese foi replicada pelo Brasil na comissão. (por Mônica Bergamo, na Folha de S. Paulo)
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