dalton rosado
A DECOMPOSIÇÃO DO DÓLAR DOS EUA
Desde que as moedas mundiais passaram a ser meramente fiduciárias, sem lastro em ouro, sua aceitação ficou dependendo apenas da credibilidade dos países emissores; previsivelmente, as economias dominantes foram as grandes beneficiárias deste mecanismo, por força do seu poderio econômico.
A partir do Acordo de Bretton Woods, em 1944, o dólar estadunidense foi estabelecido como moeda internacional, o que provocou uma guinada pró-Estados Unidos na economia mundial.
A Europa tinha sido destroçada pela 2ª Guerra Mundial; a Ásia, enfraquecida pela derrota do Japão e pela luta interna (estava em curso a revolução maoísta); a Rússia, deixada em ruínas pelos nazistas, lamentando algo entre 20 e 27 milhões de mortos. Daí os Estados Unidos, que saíram com sua infraestrutura de produção ilesa e credores do espólio dos derrotados, terem passado a dar as cartas.
Tal situação melhorou substancialmente em 1971, quando foi estabelecida a dispensa da conversibilidade da moeda em ouro, dando aos EUA sinal verde para produzirem moeda sem lastro e exportá-la para as negociações mundiais sob tal parâmetro monetário dolarizado.
Sem produzir inflação interna pela emissão desenfreada de USD, os Estados Unidos podiam tudo comprar do mundo sem ter correspondência de lastro comercial entre importações e exportações.
Isto, em grande parte, explica a pujança econômica dos EUA, que se tornaram a meca do capitalismo mundial.
Para se ter uma ideia monetária do que representa para o Tio Sam a possibilidade de cobrir o déficit comercial anual com dólar sem lastro e continuar comprando com a mesma capacidade sem que isto abale a sua economia interna, basta dizermos que em 2020 houve um saldo negativo de US$ 676,7 bilhões, que em 2021 cresceu para US$ 859,1 bilhões. Isto é a metade de todo o PIB brasileiro!!!
Os Estados Unidos passaram a ser vistos como exemplo de prosperidade capitalista virtuosa a ser seguido (tanto pelos incautos analistas leigos, quanto por interesseiros letrados em economia). Adquiriu ares de verdade absoluta esta falácia: "Como o capitalismo é bom! Vejam os Estados Unidos e sua economia liberal de mercado!".
Agora os ventos não mais sopram a favor dos EUA, e tudo por conta das contradições intrínsecas do próprio capitalismo, que tornaram irresolúvel a equação da tentativa de prosperidade permanente, bem a como a de prosperidade mundial linear.
Aí a China fez valer os seus trunfos:
— a produção de mercadorias a preços inferiores, graças ao baixo valor do trabalho abstrato escravo abundante (trouxe grande parte da população rural de mais de 1 bilhão para as áreas industriais urbanas);
— a mecanização da produção tecnológica, computadorizada e eletrônica;
— a aceitação sem restrições por parte do capital industrial e comercial internacional, ávido por expansão; e
— o endividamento gigantesco, suficiente para formar um parque industrial do seu tamanho (territorial e populacional);
Com isto conquistou grande parte do mercado mundial, a ponto de os Estados Unidos serem forçados a transgredir os fundamentos do seu apregoado liberalismo de mercado, com a adoção de medidas protecionistas à sua produção e consumo interno.
Ao ver as suas indústrias migrarem para as regiões mais pobres do mundo em busca de mão-de-obra barata (trabalho abstrato produtor de mais-valia) como forma de sobrevivência econômica na guerra concorrencial mundial de mercado, os EUA viram sua economia entrar em depressão e ter de criar bolhas financeiras surreais.
Exemplo marcante do desemprego do dinheiro e de sua vital necessidade de reprodução aumentada sem a qual ele fenece, temos na bolha imobiliária do sub-prime de 2008, que estourou por falta de consistência de tal mecanismo, abalando todo o sistema bancário mundial (o qual acabou sendo salvo pela emissão de moedas sem lastro pelos Bancos Centrais euro/estadunidenses).
Tratou-se, contudo, de um remédio paliativo de curto prazo, cujas consequências ora se evidenciam desastrosas, graças à perda de credibilidade de suas moedas por estarem dissociadas de valor intrínseco advindo da produção de mercadorias, única fonte de valor válido sob o critério monetário capitalista. (por Dalton Rosado – continua neste post)
Diretamente das plantações de algodão do Alabama, um blues do Dalton...
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