segunda-feira, 21 de março de 2022

O SOL DO PSOL DESCOROU. JÁ O BOULOS AMARELOU!

"A revolução é uma grande devoradora de energias individuais e coletivas. Os nervos não aguentam, as consciências 
vergam-se, os caracteres consomem-se"
(Leon Trotsky)
O Guilherme Boulos desistiu de ser protagonista dos dramas políticos e vai se conformar daqui para a frente com o papel de mero coadjuvante.

É o que se depreende da sua decisão de não disputar sequer o governo de São Paulo, mesmo sendo, inclusive, um candidato bem melhor do que o Lula para o posto de presidente, pois, pelo menos, teve brios para sair à rua quando se travavam lutas das quais as lideranças de esquerda  não podem omitir-se jamais. 

Quem preferiu ficar deitado em berço esplêndido durante TODAS as manifestações #ForaBolsonaro realizadas até hoje na capital paulista mostrou que dele só se podem esperar novas rendições sem luta como as de 1964 e 2016. De que adianta conquistarmos mandatos executivos se não tivermos disposição e coragem para defendê-los das viradas de mesa dos inimigos?! 

Se havia alguma esperança de revertermos a descaracterização do Psol, que marcha para ser reabsorvido na prática pelo PT (apesar de os motivos que levaram dissidentes petistas a tentarem oferecer um novo sol para a esquerda brasileira só terem aumentando desde 2004), eu não enxergo mais nenhuma. 

Eis como Boulos justificou sua capitulação, em entrevista à Mônica Bergamo:
"Depois de conversar com muitos companheiros do meu partido e de analisar o cenário, eu decidi que não vou ser candidato ao governo de São Paulo. 

Defendo que a unidade [da esquerda] é essencial para acabar com o tucanistão e para derrotar o [presidente Jair] Bolsonaro em São Paulo. E não foi possível uma unidade da esquerda em torno do meu nome. Eu me pauto por projeto político. E não por ego ou por vaidade pessoal".
Perguntar não ofende; qual projeto político, o de conciliar com a classe dominante, cumprindo o papel de força auxiliar da burguesia?

O de, domesticado, limitar-se a maquilar a face horrorosa do capitalismo com um reformismo cada vez mais ilusório, neste momento em que a crise agônica do regime de exploração do homem pelo homem se agrava cada vez mais? 

Como no futebol, o medo de perder tira a vontade de ganhar. Então, siga num eterno meio-termo, nobre deputado Boulos! Aproveite o baile da Ilha Fiscal, enquanto a institucionalidade burguesa não for levada de roldão pelas contradições insolúveis do capitalismo.  (por Celso Lungaretti)

4 comentários:

SF disse...

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Nem todo mundo é estoico.
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Tenho lido Heidegger. Tem alguém que escreva mais difícil que ele?
Perto dele Marx é uma redação do ENEM.
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Cito um trecho em que ele fala a respeito dessas coisas que as pessoas fazem.
"A passagem do impessoal, ou seja, a modificação existenciária do impessoalmente si mesmo para o ser-si-mesmo de maneira própria deve cumprir-se como recuperação de uma escolha. Recuperar uma escolha significa escolher essa escolha, decidir-se por um poder-ser a partir do próprio si-mesmo. Apenas escolhendo a escolha é que a presença (ser-aí, dasein) possibilita para si mesmo o seu poder-ser próprio".
***
E outra.
"No momento em que a presença (ser-aí, dasein) se perde no impessoal, já se decidiu sobre o poder-ser mais próximo e fático do ser-aí, ou seja, sobre as tarefas, regras, parâmetros, a premência e a envergadura do ser-no-mundo da ocupação e preocupação."*
***
Quem somos nós para julgar?
Pode ser que ser este ente público oprimido por regras e um obrigado a um vir-a-ser não seja a melhor maneira de viver a vida.
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Quando deixarmos de ser humanos, aí sim, os caras nos venceram.
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* Ser e Tempo parágrafo 54. Heidegger, Martin.

celsolungaretti disse...

É curioso como, embora tendo a fenomenologia como ponto de partida, o Heidegger e o Sartre diferem tanto no quesito "clareza".

O Sartre de "O existencialismo é um humanismo" era facílimo para eu compreender mesmo aos 16 anos (o de "O ser e o nada", nem tanto).

Mas, acabei me convencendo do que o Marx já dissera, mas eu não sabia que ele havia dito: "Os filósofos até agora explicaram o mundo, de diversas maneiras. Chega a hora de transformá-lo". Ou seja, eu não queria ser um sábio de torre de marfim, mas sim correr os riscos de transpor minhas reflexões para a prática.

Dessa fase só me restou a visão de que o homem se constrói a partir de suas opções, ele é o resultado de suas escolhas, cada uma delas irrevogável.

E que tentar corrigir o ato que já se cometeu e que já gerou suas consequências é impossível. Estar-se-ia apenas efetuando outro ato, que gerará outras consequências. Temos de viver com aquelas que nossos atos produziram, não existe escapatória.

É difícil nos nortearmos por uma moral pessoal tão implacável quanto esta. Mas, depois que a fiquei conhecendo, passei a encarar todas as outras como hipócritas tentativas de iludir-se a si mesmo.

SF disse...

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Grande Celso!
A bem dizer, Heidegger em nenhum momento tenta explicar o mundo.
Heidegger fala de antologia.
E uma nova abordagem do tempo. O tempo antológico.
Então, ao citá-lo eu queria chamar você a não ser o "inferno" do outro.
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Claro que você compreendeu Sartre. Um cara que foi um sobrevivente e buscou significar sua vida como uma luta para mudar o mundo.
Louvável.
***
No entanto, não estou falando de ente público. Estou falando de ser.
O que pode escolher.
Quem não pode escolher é o ente público. Preso na ocupação, no vir-a-ser, não tem liberdade da escolha, pois não é.
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Por que isso é importante?
Porque 99% do nosso tempo é viver e conviver conosco mesmos.
Quem não conhece o seu si-mesmo vive igual um autômato.
Recebendo ordens do ente público, ou seja, vive num inferno ou infernizando os outros.
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Leio Heidegger não por precisar saber de mim mesmo.
Como asperger já nasci ensimesmado.
Leio para saber quais foram as palavras que ele usou para descrever este fruir do ser para si mesmo.
Afinal, mesmo nos casos mais graves de autismo, o simples fato de viver, nos coloca em relação a alguma coisa.
O que implica algum tipo de linguagem.
E Heidegger foi brilhante ao falar a respeito disso.
Não falou do mundo.
O mundo já está muito bem explicado.
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celsolungaretti disse...

No fundo, procuramos quem nos ajuda a compreender melhor o que nos preocupa.

Meus problemas não eram na esfera da subjetividade, convivo bem comigo mesmo nesses 99% do tempo, mas sim em viver num bairro e num meio em que as pessoas estavam simplesmente focadas em subir na vida.

Eu me sentia como um Mersault, olhando-as, considerando-as pueris e percebendo que jamais me contentaria em apenas ascender daquela classe média baixa para a classe média alta que facilmente alcançaria.

Havia um longo caminho pela frente e no começo dele já sabia que no final me esperava apenas a frustração.

Então, como diria o Mário Faustino, o que me atraiu e deu sentido à minha vida foi tentar "firmar o nobre pacto entre o cosmo sangrento e a alma pura".

As mazelas da sociedade que o capitalismo engendra eram gritantes (agora o são mais ainda) e fez todo sentido para mim ajudar os seres humanos a alcançarem o "reino da liberdade, para além da necessidade".

Quando uma companheira do movimento secundarista me convidou para integrar um grupo que estudaria marxismo nas férias escolares de 1967 para 1968 e, no final, propôs-me passar à militância revolucionária, creio que era o único da turma que encarou a decisão como definitiva.

Sabia que estava fazendo uma opção irrevogável, que não dependia da mera indignação com a ditadura militar, mas sim da minha impossibilidade de ser feliz sob o capitalismo. A ditadura algum dia acabaria, mas meus motivos para lutar contra a dominação burguesa, não.

Daí não ter-me aprofundado em Husserl, Heidegger e outros para os quais Sartre chamara minha atenção. A partir do momento em que decidi ser um ator do drama da transformação da sociedade, a minha busca de caminhos terminara.

Dali em diante, minha preocupação passou a ser, basicamente, a de lutar cada vez melhor.

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