quarta-feira, 9 de março de 2022

ESTIVEMOS PRÓXIMOS DA GUERRA ATÔMICA EM 1962; NÃO ESTAMOS AGORA.

Da esq. p/ a dir., Robert Kennedy (Steven Culp), John Kennedy (Bruce Greenwood)
e Kenny O'Donnell (Kevin Costner): esforços desesperados para evitar o pior.
O pior pesadelo que pode decorrer da invasão russa à Ucrânia, uma guerra atômica capaz de pôr fim à espécie humana, é possível mas não provável hoje. Nem mesmo do ferrabrás Putin é esperada decisão tão extrema quando o preço de sua insensatez desabar sobre ele; tampouco se imagina que detenha sozinho o poder de apertar o botão vermelho. 

Quase seis décadas atrás, contudo, a humanidade esteve próxima como nunca da extinção. Daí ser um momento apropriado para vermos ou revermos o filme que reconstituiu o episódio histórico da crise dos mísseis cubanos

Treze dias que abalaram o mundo (d. Roger Donaldson, 2000) está longe de ser uma obra-prima. É basicamente correto, com as limitações de praxe das produções de Hollywood, como algumas simplificações/distorções históricas, um enfoque um tanto heroicista e o destaque excessivo que dá ao assessor de imprensa de John Kennedy, Kenny O'Donnell (Kevin Costner), que não estava com essa bola toda.

Mas, a ameaça que tal filme colocou em evidência foi bem real, embora o cinema de entretenimento evitasse destacá-la (claro!) para não despertar o cidadão comum de sua letargia esplêndida. 
O mês era outubro e o ano, 1962. Em todos os países havia pessoas com o ouvido colado nos rádios e lançando olhares angustiados para o céu, à beira do pânico.

Nunca estiveram tão presentes nas mentes e tão opressivas nos corações as imagens dantescas dos genocídios de Hiroshima e Nagasaki, quando mais de 200 mil seres humanos foram imolados, parte instantaneamente, parte após lenta e terrível agonia. 

Era enorme a possibilidade de repetição daqueles horrores em escala muito mais ampla.

É que os EUA, ao obterem provas fotográficas da existência de silos de mísseis soviéticos em Cuba, deram um ultimato à URSS, exigindo sua imediata remoção.

A União Soviética, inicialmente, não cedeu. Pelo contrário, ao saber que os estadunidenses tinham iniciado um bloqueio naval e aéreo de cuba, despachou uma frota que o tentaria romper por mar.

Um único disparo e começaria a reação em cadeia! Estava-se a um passo da guerra nuclear entre duas nações que detinham poder destrutivo suficiente para  encerrar a aventura humana sobre a Terra.

Foram 13 dias que apavoraram o mundo, enquanto se desenvolviam tensas negociações entre os governos de John Kennedy e Nikita Kruschev. Nunca os estadunidenses compraram tanto cimento e tijolo como nesse período em que construíam sofregamente arremedos de abrigos nucleares em suas casas.

A crise dos mísseis cubanos terminou com cada lado cedendo um pouco e o mundo suspirando aliviado.

Os EUA concordaram em, posteriormente e sem alarde, retirarem mísseis similares que haviam instalado na Turquia. 

Comprometeram-se, ainda, a nunca mais realizarem ou estimularem invasões de Cuba, como a que a CIA e os gusanos (exilados cubanos radicados nos EUA) haviam tentado em abril daquele ano na Baía dos Porcos. 

Kruschev, por sua vez, ordenou o desmantelamento dos silos e a retirada dos mísseis de Cuba, saindo do episódio com uma vitória real (obtivera as contrapartidas desejadas) e uma derrota propagandística, pois concordou em manter secretas as cláusulas que lhe eram favoráveis.

De quebra, as superpotências decidiram colaborar para que novos sobressaltos fossem evitados, tendo sido instalada uma ligação telefônica direta (o famoso telefone vermelho) entre Kennedy e Kruschev, para que se entendessem antes de os pequenos problemas virarem grandes crises. (por Celso Lungaretti)

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