domingo, 6 de março de 2022

O URSO RUSSO FRAGILIZA A SUA POSIÇÃO E FORTALECE A DO PANDA CHINÊS

josias de souza
CHINA VIROU O MELHOR SEDATIVO PARA CONTER PUTIN
A
guerra que a Rússia deflagrou na Ucrânia entra no seu 11º dia sem perspectiva de resolução. A superioridade militar russa vai se impondo num ritmo mais lento do que o Kremlin poderia supor. 

A resistência ucraniana gruda no semblante de Putin a aparência de um vitorioso derrotado. E empurra a China gradativamente da posição de coadjuvante para a de protagonista. 

Na última década, China e Rússia estreitaram suas convergências. Desenvolveram uma relação de interdependência econômica e energética. E cultivaram o interesse recíproco de estabelecer um contraponto à hegemonia do ocidente. 

No mês passado, Xi Jinping e Vladimir Putin selaram o que foi batizado de parceria ilimitada. Mas a reação da diplomacia chinesa à invasão da Ucrânia sinaliza que a parceria de Pequim com Moscou tem um limite: o pragmatismo econômico.

A China evitou votar contra a Rússia no Conselho de Segurança e na assembleia Geral da ONU. Tampouco votou a favor. Preferiu se abster. 

Para compreender a ambiguidade, é preciso atrasar o relógio até a morte de Mao Tsé-Tung, em 1976.  
No dia seguinte, a ditadura chinesa começou a restabelecer maciçamente os mecanismos de competição, do lucro e da propriedade privada. Abraçou o capitalismo, enfim, embora sob controle do Estado.

Hoje, a China tem negócios no mundo inteiro. É a segunda maior economia do planeta. Equipa-se para ultrapassar os Estados Unidos. 

Xi Jinping não parece predisposto a trocar décadas de planejamento estratégico por uma aliança irrestrita com Vladimir Putin. Os chineses tendem a extrair todos os benefícios da relação com os russos, sem negligenciar os seus interesses no mundo. 

A proximidade entre a ditadura e a autocracia faz com que os chineses tenham uma ascendência sobre a Rússia, credenciando-se para o papel de mediadores. Esse protagonismo pode ser exibido sob holofotes ou longe dos refletores. Mas ele tende a ser exercido. Por duas razões: 
1. As sanções econômicas sem precedentes impostas pelo ocidente afundaram a Rússia num fosso recessivo, com reflexos negativos nas outras economias. 
2. Em meio a uma corrida com os Estados Unidos, a China não tem o mais remoto interesse no prolongamento da instabilidade. A bagunça que se estabeleceu na economia mundial provoca prejuízos que os chineses não parecem dispostos a amargar. 

Putin declarou que as sanções econômicas equivalem a uma declaração de guerra. Demora a perceber que o principal alvo atingido no confronto que produziu foi o seu próprio pé. Contratou um pós-guerra sombrio. 

Na Ucrânia, Putin terá de lidar com o ódio de milícias civis armadas com antecedência pelos Estados Unidos e pela União Europeia. 

Na Rússia, Putin terá de tourear a irritação doméstica. A repressão policial e a censura aos meios de comunicação talvez sejam insuficientes para deter a insatisfação com o sofrimento decorrente da asfixia econômica. 

Tomado pela retórica, Putin ainda está distante da sobriedade. A China é, no momento, o melhor sedativo à disposição na praça para conter seus arroubos. (por Josias de Souza)

Um comentário:

SF disse...

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Ah! Dona Zefinha já dizia "meu filho, eles que são brancos que se entendam".
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É tão claro que esta guerra não difere das outras recentes, a não ser pelo nome do agressor.
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Seja o arbusto ou o vlado... todos farinha do mesmo saco.
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Os russos estão sendo levados a força ao século passado, igualzinho a Coréia do Norte.
Será que é um povo tão sem fibra assim?
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Duvido!
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