De repente me lembrei daquela marchinha de Carnaval bem sugestiva para o tema do agronegócio, Yes, nós temos bananas, na qual o malicioso Braguinha elogiava nossa fruta natural, cujo preço, na época, era bem barato para qualquer um comprar: Banana, menina, tem vitamina, / Banana engorda e faz crescer.
Será? No fim dos anos 30, quando foi composta essa marchinha, banana realmente deveria ter só vitamina. Hoje, com o desenvolvimento dos pesticidas, é bom a banana ter casca grossa para não ficar também contaminada com algum desses pesticidas da Bayer ou da Monsanto usados nas plantações.
Mas não são só as frutas de casca como abacates, abacaxis ou laranjas as submetidas aos agrotóxicos; o mesmo ocorre com os morangos e as saladas, numa mistura talvez não indigesta, mas perigosa, principalmente para as crianças.
No entanto, alguém como o Leandro Narloch, colunista da Folha de S. Paulo que defende os agrotóxicos ou pesticidas como o glifosato, poderá me puxar a orelha e lembrar que, sem o surgimento da agricultura moderna, incluindo-se a criação e utilização dos pesticidas, as colheitas não teriam sido suficientes para alimentar a população do planeta.
Meia verdade, porque a evolução dos pesticidas acabou nos levando à produção de pesticidas sintéticos excelentes no combate a todo tipo de pragas no cultivo agrícola, porém com o risco de não só provocarem doenças e malformações em crianças e adultos, como também de serem cancerígenos.
Como se costuma dizer no meio agrícola, não são venenos, exigem cuidado na dose a se utilizar nas irrigações ou vaporizações, porém tendem a ser tóxicos para o ser humano.
Então, como fazer para se garantir grandes safras e, no caso do Brasil, ter boas colheitas para aumentar as exportações ou mesmo atender o consumo interno? Isto sem esquecer-se da poluição da água destinada ao consumo humano, poluição esta decorrente do uso de pesticidas ou agrotóxicos na lavoura.
Os europeus, na sua maioria, são zelosos e procuram controlar a fabricação e o uso desses agrotóxicos. Mas, e o Brasil?
O tema é atual, ainda mais agora, com a recente aprovação pela Câmara do registro e uso no Brasil de novos agrotóxicos, lei proposta pela bancada ruralista, com o apoio do presidente Bolsonaro.
Objetivando reduzir ao máximo a perda nas plantações, tais agrotóxicos poderão contaminar os trabalhadores rurais, sem se falar no risco de contaminação dos consumidores das colheitas agrícolas. Uma das artimanhas usadas para mascarar a periculosidade do projeto foi a de evitar-se o uso da palavra agrotóxico, substituída por pesticida ou produto de controle ambiental.
Os países europeus com legislações mais severas estão vigilantes quanto às importações brasileiras.
No caso de Leandro Narloch, cai melhor outro chavão: "em boca fechada não entra mosca" |
O Le Monde já havia alertado, faz dois anos, quanto à liberalização ou homologação de mais de duas centenas de tipos de pesticidas pelo governo Bolsonaro.
O fundador e CEO de uma rede de supermercados orgânicos sueca decidiu, logo depois, suspender a importação de produtos originários do Brasil.
No comunicado divulgado aos seus consumidores, Johannes Cullberg dizia:
"Pessoas morrem, outras se tornam inférteis, crianças nascem com malformações como consequência desses pesticidas".
Um dos pesticidas mais utilizados no mundo é o glifosato, produzido pela Monsanto, um herbicida barato, eficaz e de fácil utilização, daí ter a preferência dos agricultores.
É tido, contudo, como provavelmente cancerígeno pelo Centro Internacional de Pesquisa contra o Câncer, ligado às Nações Unidas. O uso do glifosato está autorizado na Europa até o fim deste ano, devendo então os dirigentes europeus proibir, restringir ou renovar a permissão de uso.
No Brasil, a defesa do chamado pacote de veneno e do glifosato por parte de Narloch provocou fortes reações entre ambientalistas, pesquisadores e movimentos populares de esquerda.
Tal articulista é classificado por seus críticos como divulgador de ideias negacionistas e adepto do revisionismo histórico.
Numa época de chavões populares, Bolsonaro, a bancada rural e Narloch talvez pudessem concluir este texto com um chavão tóxico: O que não mata, engorda!.
(por Rui Martins)
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