Não estamos aqui incensando o ódio entre raças mas justamente o contrário, denunciando o ódio racial como uma contribuição para que tanto ele quanto sua coexistência dissimulada sejam suprimidos.
O racismo estrutural brasileiro tem origem no período colonial. Os brancos europeus que para cá vieram no final dessa etapa (e até em passado mais recente, quando seu destino foi principalmente o sul do país) são tratados com alguma aceitação social, ainda que o capitalismo os explore e segregue na maioria dos casos.
Entretanto, os negros e índios, bem como os caboclos nordestinos, encontram dificuldades bem maiores para furar o bloqueio da exclusão étnica elitista existente no Brasil.
O negro que consegue ficar rico (o capitalismo permite que alguns poucos consigam amealhar capital), mesmo morando num ambiente de brancos e sendo dono dos bens que o dinheiro consegue comprar, é recebido com restrições nos ambientes frequentados pela elite branca, ainda que sejam cantores ou futebolistas famosos. Pior ainda se ele pretender paquerar alguma moça branca e rica.
O Brasil tem a justa fama de promover um ambiente de concórdia e civilidade entre etnias que nos seus países de origem têm conflitos raciais.
Árabes e judeus, eslavos e celtas, japoneses e chineses, indianos e ingleses,; armênios e turcos, ucranianos e russos, etc., convivem sem as feridas ancestrais, diferenças e restrições étnicas que subsistem em seus locais de origem; esta é uma miscigenação louvável.
Mas, como disse, com razão, Roswitha Scholz, o capitalismo é ocidental, branco e masculino e, portanto, patriarcal.
Apesar de ser impessoal, pois o dinheiro consegue comprar todos tipos de mercadorias e quem o possui se torna proprietário de bens independentemente da cor da pele ou da origem étnica, o capitalismo tem, também, uma característica patriarcal predominante, e é neste sentido que as mulheres, p. ex., são discriminadas.
A aspiração das mulheres à igualdade de tratamento social é bandeira louvável do movimento feminista; entretanto, o homo economicus ao qual elas desejam equiparar-se é um ser subjugado pelo capital, explorado e segregado. Noves fora, valerá a pena sair de uma discriminação social e cair noutra?
As lutas contra o racismo e a misoginia devem incluir, indissociavelmente, a luta contra o capitalismo (e não a sua humanização, como querem segmentos equivocados da esquerda institucional) porque as primeiras têm como essência constitutiva a luta pela igualdade social, impossível de acontecer sob o capital, que, de tão autocêntrico, submete todos à sua autofagia e ilogia segregacionista e destrutiva.
Os movimentos sociais antifascistas, antirracistas, feministas e sindicais precisam ser norteados pelo pensamento humanista: suas batalhas setorizadas só vão ser consequentes e capazes de garantir conquistas definitivas se tiverem como leitmotiv fundamental a grande guerra a ser por todos eles enfrentada: a da superação do capitalismo como modo de mediação social estabelecido.
Assim é que:
— os emancipacionistas (e todos os genuínos antifascistas) devem denunciar a farsa da democracia capitalista;
— os defensores da miscigenação e convívio fraterno entre as raças devem denunciar o racismo elitista do capital;
— as feministas devem defender a igualdade de gênero e denunciar o patriarcado capitalista; e
— os sindicatos devem defender o fim da categoria capitalista trabalho abstrato (cellula mater do capital) e o fim dos partidos trabalhistas.
Todas as lutas dos movimentos sociais cujas reivindicações estiverem atreladas à imanência capitalista não passam de paliativos; precisam ser norteadas por um princípio redentor emancipacionista que negue em definitivo o capital.
Um escravo da senzala ao qual o amo permitisse batucar seus jongos no pátio, sem questionamento do escravismo em si, continuaria sendo apenas e tão-somente um escravo.
Liberdade e igualdade se conquistam. Para tanto, faz-se necessário remover o móvel moderno da existência de uma opressão social cada vez maior: o capital. (por Dalton Rosado)
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