"Um grande acordo nacional, com o Supremo, com tudo"
A famosa frase do senador Romero Jucá, acima reproduzida, explica corretamente os movimentos dos últimos anos e, particularmente, deste período pré-eleitoral.
Os petistas, campeões da mentira e da mistificação, adulteraram o sentido da frase, fazendo-a passar por prova de um complô unicamente contra o PT ao omitirem que, noutro trecho da conversa vazada de Jucá com Sérgio Machado, então presidente de uma subsidiária da Petrobrás, o cacique peemedebista especificava que seria um acordo "que protege o Lula, que protege todo mundo".
O objetivo seria estancar a sangria causada pela Operação Lava-Jato, que àquela altura (2016) estava no seu auge, com Sérgio Moro e o Ministério Público Federal impondo verdadeiro terror entre as hostes do sistema político nacional.
Seis anos depois, a realidade é bem diferente e o grande acordo parece haver tido efeito.
Obviamente, contribuiu para isso a própria fome de poder dos lavajatistas, com Moro indo se desgraçar no governo Bolsonaro e o MPF sendo demolido com a aberta intervenção do presidente genocida por meio do seu testa de ferro Augusto Aras.
No entanto, também foi fundamental o avanço das negociatas de bastidores. O fato de a Lava-Jato ter estendido seus tentáculos a todos os compartimentos do sistema político dominante favoreceu a costura dos acordos contra ela nos bastidores. Assim, Lula e outros petistas conseguiram, por encanto, a remissão de suas penas e de seus processos.
Considerar um Gilmar Mendes como sendo legalista é de profunda ingenuidade. O ministro do STF, inicialmente aliado de Curitiba, bandeou-se para os inimigos da operação tão logo ficou claro que a Lava-Jato não seria igual ao mensalão, pois, desta vez, os tucanos não seriam poupados.
Rapidamente, o humor entre vários figurões judiciais mudou de simpatia para antipatia a Moro e seus garotos promotores.
Não é espantoso, portanto, ter sido Mendes um dos principais articuladores da salvação de Lula, facilitada após a divulgação das informações do Telegram sideral dos curitibanos. Mas seria muita candidez acreditar no puro livramento de Lula sem qualquer contrapartida. Política é toma lá, dá cá.
O que de fato foi acordado é algo envolto em mistério profundo. Nenhum jornal até agora dignou-se a escavar esse tesouro, sinal de que a força do silêncio imposta é realmente estrondosa. No entanto, é-nos permitido vislumbrar ao menos um aspecto essencial deste acordo: Geraldo Alckmin.
O ex-tucano é um cadáver eleitoral e político, nada agregando, portanto, à candidatura de Lula. O ex-presidente, por seu lado, teria todos os motivos para emplacar um vice mais próximo do PT e, sobretudo, mais confiável, depois da rasteira que Temer deu em Dilma.
Mas, incrivelmente, Alckmin foi retirado do nada e enxertado na chapa. Por quê? Ora, a única hipótese plausível é ser ele uma espécie de pedágio que Lula terá de pagar aos responsáveis por sua remissão da Lava-Jato.
O ex-governador, próximo de boa parte da alta burguesia nacional, seria o salvo-conduto para não apenas Lula ser mantido nos trilhos, mas também para, finalmente, conduzir os tucanos – os tucanos raiz – de volta ao poder, após décadas de tentativa.
Aos militantes petistas, consumidores de todo tipo de discursos falsos e mistificadores, restaria apenas engolir a seco, mais uma vez, e esquecer as décadas em que chamaram o picolé de chuchu de tudo quanto é xingamento, como se fosse o diabo em pessoa.
O cinismo da política exige o sacrifício da memória. (por David Emanuel Coelho)
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