terça-feira, 19 de outubro de 2021

A BARBÁRIE INSTALA-SE DE VEZ NO BRASIL/2

(continuação deste post)
Todas as charges são do Jota Camelo
Como podemos admitir que um país que fornece cerca de 18% dos alimentos consumidos mundo afora tenha seu povo passando fome e sua economia estagnada?

A resposta é que, sob o capitalismo, a produção de alimentos brasileira se destina à exportação do agronegócio. Esta faz a alegria dos grandes produtores de grãos e proteínas animais, mas faz piorar a nossa ínfima posição no PIB, pois não representa valor agregado (como ocorre com as manufaturados de alta tecnologia). 

Uma simples pílula contra carrapatos em cachorros custa nos pet shops R$ 70 e um saco de feijão de corda de 60 quilos no Nordeste sai por R$ 300. Ou seja, um saco de 60 kgs de tais pílulas com patentes farmacêuticas dos Estados Unidos e fabricadas aos montes no processo industrial custa milhares de vezes mais do que um saco de feijão.

Isto demonstra muito bem o que significa a venda de mercadorias com valor agregado de tecnologia, seja farmacêutica, de comunicação, de computação, de máquinas de todas as espécies, etc., comparativamente à venda de commodities primárias aqui produzidas para venda no mercado mundial. 

Trata-se da lógica do capital prevalecendo sobre relações econômicas leoninas. O liberalismo do ministro Paulo Guedes nada mais é do que a liberdade de se juntar num mesmo galinheiro as raposas e as galinhas, como se as relações econômicas capitalistas fossem isonômicas. 

O nacionalismo pretensamente patriótico do Boçalnaro, o ignaro, que sempre afirmou não entender de economia, não lhe permite compreender a contradição entre o nacionalismo militar estatizante (os governos militares estatizaram mais do que o faria João Goulart com suas reformas de base estruturais) e o liberalismo econômico de Paulo Guedes. 

A confusão conceitual ideológica deste governo agrava a crise estrutural do capitalismo, e é o povo brasileiro quem paga o pato (aquele mesmo da Fiesp) dessa idiossincrasia ideologico-governamental. 

Não teremos vida fácil no Brasil mesmo que se instale (como se espera de Lula) um governo cujo projeto político seja socialdemocrata tradicional, até porque incluirá alianças com os segmentos políticos elitistas que são os mais legítimos representantes do latifúndio do agronegócio e do capital industrial, comercial e financeiro.
 
Qualquer governante que sente na cadeira presidencial terá de administrar a impossível compatibilidade entre receitas fiscais e os gastos crescentes da máquina administrativa e suas incumbências constitucionais num país:
— que paga juros tão altos por sua dívida (já calculada em 84% do PIB);
— que tem gastos corporativos que disparam por obediência legal de direitos adquiridos (os quais serão negados em nome da idolatria ao capital); e 
— que já não tem possibilidade de promover a indução ao desenvolvimento econômico que lhe permita aumentar a arrecadação fiscal.

Assim, pouco ou nada sobra para o atendimento das demandas sociais tão caras ao sempre demagógico populismo político socialdemocrata, cujas expectativas de solução dos problemas sociais que cria acabam invariavelmente não vingando..

Do seu não-atendimento decorre, então, um desgaste político que desemboca na crença popular em projetos de ultradireita como o vitorioso nas eleições de 2018; ou até mesmo em ditaduras, com suas falsas e moralistas promessas de combate à corrupção (como se a dita cuja já não existisse no próprio conceito de mediação social capitalista). 

O futuro anunciado pelo capital chegou; e não poderia ter outra imagem que não a carantonha da barbárie.

Até quando vamos ter de aturar o pêndulo da ineficácia governamental de todos os poderes verticalizados que têm por base o modo de produção capitalista em seus vários matizes ideológicos?! (por Dalton Rosado)
A letra é do Dalton e quem canta é o Gomes Brasil

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