Eu tinha 13 anos quando um esquema golpista que vinha sendo montado desde a década anterior e quase tivera êxito na tentativa de usurpar o poder em 1961, finalmente conseguiu seu objetivo, condenando o Brasil às trevas até 1985.
E 17 quando participava de quase todas as passeatas contra a ditadura militar que tiveram lugar na capital paulista em 1968.
Era comum ser parado por estranhos que, sensibilizados por meu entusiasmo ingênuo, aconselhavam: "Cuidado, desconfie dos seus líderes, porque eles vão trair!".
Não me escapava que eram esquerdistas frustrados com a rendição sem luta de 1964, querendo poupar-me o mesmo amargor.
Então, quando a resistência política convencional se tornou inviável sob o terrorismo de Estado desembestado pelo AI-5, não pensei duas vezes antes de engajar-me na luta armada, mesmo não ignorando que a correlação de forças nos era extremamente desfavorável e imensas as chances de ser morto ou barbarizado pelos torturadores.
Porque a esquerda saíra desmoralizada de sua pusilanimidade em 1964 e só reconquistaria a confiança do povo se provasse que também tinha coragem de sangrar por seus ideais.
Não me passou pela cabeça que outros poderiam fazê-lo no meu lugar. Apenas conclui que era algo necessário, até mesmo imperativo, naquele momento; e que, se eu não honrasse as minhas convicções, perderia o respeito por mim mesmo. Simples assim.
Neste 7 de setembro, muitos jovens como eu era estão sendo aconselhados por uma esquerda vacilante a permanecerem em casa, assim não pegarão covid nem receberão tiros, além de não darem pretexto às toscas tramoias do doido furioso que nos desgoverna.
A história nos ensina, contudo, que ficarmos escondido debaixo da cama enquanto os fascistas dão suas grotescas demonstrações de força nunca funcionou e nunca funcionará.
Choca-me constatar que até políticos importantes do nosso campo arrumam pretextos para jamais arriscarem a pele em troca da salvação das centenas de milhares de coitadezas que o pior presidente do Brasil em todos os tempos ainda matará com sua sabotagem sanitária, com a depressão econômica que continuará agravando-se enquanto ele permanecer no Palácio do Governo e com seu golpismo boçal e ignaro.
Devemos, sim, ir de peito aberto às manifestações Fora Bolsonaro deste 7 de setembro, com coragem para marcar nossa posição e sem a covardia dos que apertam gatilhos porque lhes faltam argumentos.
Se mantivermos a serenidade, não evitaremos eventuais baixas, mas ganharemos a batalha e a guerra.
É bem provável que agilizemos o afastamento do presidente que não governa e não governou em momento nenhum, passando todo seu tempo a conspirar contra a civilização e a tentar salvar das grades a si próprio, à sua prole de trombadões e demais cúmplices na destruição do país.
Eu não sou de exortar os outros a fazerem o que não faço. Estarei no vale do Anhangabaú a partir das 14 horas, com as limitações inevitáveis de um septuagenário, mas suficientemente firme e forte para sangrar de novo como meio século atrás, se necessário for. (por Celso Lungaretti)
Um comentário:
https://www.viniciusdemoraes.com.br/es/poesia/livros/patria-minha
Primeira edição:Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin
https://www.4shared.com/office/L3HVPlikea/Ptria_minha___Vinicius_de_Mora.html
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