A ESBÓRNIA MILITAR: GOLPE, CONTRAGOLPE, DISCURSOS, BRAVATAS E AMEAÇAS
O clima que reina no país às vésperas de mais um 7 de Setembro não poderia ser mais beligerante, absurdo e imprevisível.
A escalada da esbórnia militar comandada pelo capitão Bolsonaro começou em março, quando o presidente derrubou de uma tacada só, sem aviso prévio nem piedade, o ministro da Defesa e os três comandantes militares, substituindo-os por homens da sua absoluta confiança.
De lá para cá, o presidente e o novo ministro da Defesa, general Braga Netto, colocaram as Forças Armadas a serviço do governo de turno e não do Estado, para dar sustentação a um projeto político autoritário, empenhado em submeter os outros Poderes e instituições a seus desejos e objetivos, sem contestações.
Depois do vexame daquela sucateada micareta de desfile militar fora de época, na enfumaçada 3ª feira passada, os dois fizeram juntos uma nova ofensiva golpista neste sábado.
Pela manhã, no twitter, Bolsonaro anunciou que vai pedir ao Senado o impeachment de dois ministros do STF, por extrapolarem com atos os limites constitucionais.
Todas as charges são do Jota Camelo |
Á tarde, para deixar tudo bem claro, em discurso durante formatura de cadetes na Academia Militar das Agulhas Negras, Braga Netto afirmou que as Forças Armadas são protagonistas dos principais momentos da história do país e estão sob autoridade suprema do presidente da República.
Aonde está na Constituição que as Forças Armadas mandam no país?
Braga Netto já havia tomado as dores de Bolsonaro na CPI da Covid e fez um duro ataque aos senadores. E, na mesma linha do presidente, mandou um recado à Câmara, para avisar a quem interessar possa: sem voto impresso, poderá não haver eleições em 2022.
Apesar das ameaças, a PEC do voto impresso seria derrotada por larga margem na Câmara dominada pelo centrão, mas os dois não desistiram, dobrando a aposta.
Nos dias seguintes, as milícias digitais das redes bolsonaristas espalharam o terror, endossando o discurso oficial do governo sobre fraudes nas urnas eletrônicas, em eleições que ainda nem aconteceram, por conta de uma conspiração comunista internacional em conluio com o STF.
No mesmo sábado, circulou nestas mesmas redes mensagem que teria sido encaminhada pelo número pessoal de Bolsonaro, segundo o site Metrópolis, para uma lista de transmissão no WhatsApp, que defende a necessidade de um contragolpe e convoca apoiadores para se manifestarem no dia 7 de setembro para mostrar que ele e as Forças Armadas têm apoio para uma ruptura institucional.
Assinada pelo grupo de Facebook chamado Ativistas direita volver, a mensagem defende que o contingente da manifestação deve ser absurdamente gigante, para comprovar que o presidente e as Forças Armadas unidos têm o apoio necessário para dar um bastante provável e necessário contragolpe.
Golpe ou contragolpe, o curioso é que uma nota enviada pela Defesa aos comandantes militares, no último dia 2, comunica que não haverá desfile no Dia da Independência em razão da pandemia, como já aconteceu no ano passado.
Até esta 2ª feira, não estava prevista nenhuma parada militar em Brasília, mas os seguidores de Bolsonaro e Braga Netto nas redes sociais continuavam convocando a população a sair às ruas, ameaçando parar o país, com o apoio dos plantadores de soja e do movimento dos caminhoneiros, cujos líderes desmentiram sua participação nesses atos.
É tudo tão surreal e inverossímil, que o porta-voz da bandalha foi um decadente cantor sertanejo, Sergio Reis, ex-deputado federal do centrão, que em vídeo prometeu levar uma intimação ao Senado para cassar os ministros do STF, em 48 horas, ou os valentes iriam quebrar tudo.
Estas bravatas e ameaças não foram desmentidas pelas autoridades constituídas até o momento em que escrevo. O objetivo é esse mesmo: espalhar o medo e a insegurança, para imobilizar os defensores da democracia.
Só o fato de estarmos falando disso, e admitindo a possibilidade de que algo de grave possa acontecer neste 7 de Setembro, e não uma festa para comemorar a Independência, já mostra o grau de insanidade em que o país está mergulhado desde a troca dos comandos militares, seis meses atrás, tramada no quartel do Palácio do Planalto pelos generais de pijama Braga Netto, Augusto Heleno e Luiz Ramos. O resto foi consequência.
Eduardo Bolsonaro já deve estar recrutando o cabo e o soldado para o contragolpe.
Pra frente, Brasil!
Vida que segue. (por Ricardo Kotscho)
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