segunda-feira, 2 de agosto de 2021

...E EIS QUE O ANJO ME DISSE, APERTANDO A MINHA MÃO: "VÁ, BICHO, DESAFINAR O CORO DOS CONTENTES!" – 1

dalton rosado
SER GAUCHE NA VIDA 
Ser de esquerda, obviamente, não é uma posição geográfica, muito embora a expressão tenha surgido para designar a oposição burguesa que sentava-se à esquerda no parlamento da Assembleia Nacional constituída pela revolução republicana francesa e posterior império napoleônico, e que fazia oposição aos monarquistas, sentados à direita.

Como se vê, a esquerda tem suas origens na defesa do republicanismo burguês que, então inspirado  nos princípios iluministas, representava o pensamento oposicionista à monarquia feudal. 

A esquerda, assim constituída, era mercantilista, republicana, e em última análise, defensora do capitalismo em seus primórdios. 

É claro que, com o passar do tempo (como acontece com muitas transformações semânticas), o termo de esquerda abrangeu até os marxistas e anarquistas, surgidos no século 19, embora fossem muito díspares entre si tais posições e proposições ideológico-doutrinárias.

A diferenciação persiste, muito embora o pensamento conservador de direita sempre tente colocar no mesmo balaio alhos e bugalhos.

Ser de esquerda é uma opção da consciência humana!
A esquerda na Assembleia Nacional Constituinte

Se você tem a realização do ideal de justiça como referência de vida e age coerentemente de acordo com ela, você é um permanente revolucionário de esquerda, mesmo que se equivoque nalgum momento (estando, contudo, pronto para fazer a autocrítica que objetive consertar tal erro).  

Daí não podermos (nem devemos) ser apenas bem intencionado nas nossas posições e proposições, mas sim coerentes com aquilo que a nossa consciência nos indica como correto, sob um código moral e ético humanista.

Como princípio fundamental, ser de esquerda, do ponto de vista emancipacionista revolucionário, é compreender que a lógica do capital, que se enraizou em todos os quadrantes do mundo atual, é pugnar por uma mediação social fora da escravização indireta do trabalho abstrato produtor de valor e propiciador da acumulação segregacionista do capital. 

Os partidos comunistas são hoje, em geral, anticomunistas, de vez que praticam sem nenhum pejo a escravização indireta pelo trabalho abstrato (de Cuba à China dita comunista), pois defendem a permanência e a retomada do desenvolvimento econômico como fator de pretensa libertação dos trabalhadores. 
No Brasil, os partidos ditos de esquerda, mas institucionalizados, que integram o chamado
bloco da esquerda, são, na verdade, meros defensores do capitalismo que pretendem humanizar, atuando apenas na defesa: 
— dos direitos dos trabalhadores contra a vilania do capital (deveriam, no entanto, pugnar pela superação do capitalismo enquanto tal); e
— das franquias democráticas burguesas, sempre ameaçadas em face das frequentes e cíclicas crises do capitalismo.

Por estarem presos à institucionalidade burguesa constitucional e dela dependam economicamente, e por sua obediência juramentada ao chamado decoro institucional, limitam-se à defesa dos ganhos civilizatórios adquiridos pela humanidade, ora em retrocessos por impossíveis de serem mantidos em face da atual depressão econômica. 

Registre-se que a defesa dos ganhos civilizatórios é uma luta meritória e indispensável, mas inglória se mantidos os pressupostos da exploração capitalista. 

Como o capitalismo é cruel e insensível ao drama humano e apenas serve-se das necessidades humanas de consumo de mercadorias para exercer a sua tirania, quando chega a debacle dos seus fundamentos, como agora ocorre, todos os partidos institucionais se quedam obedientemente às exigências do seu senhor absolutista: a forma valor e sua pretensamente necessária sobrevivência.
Parlamentares expulsos do PT em 2004 por discordarem
da reforma da Previdência imposta pela direção do partido
 

Exemplo claro de bom comportamento diante da governabilidade econômica sob a mediação social pelo capital, podemos extrair do começo da administração do PT com Lula, que enviou ao Congresso Nacional um projeto da reforma da Previdência Social que retirava direitos dos trabalhadores pensionistas e que rachou o partido, dando origem ao Psol, criado por dissidentes. 

O Psol, entretanto, se um dia chegar ao poder, terá de governar dentro das regras da responsabilidade fiscal sob pena de impeachment. É que o capital dá ordens à política.  

Uma delas: após jurar-se respeito à Constituição, a ninguém é consentido negar o capitalismo, por ela consagrado como aspiração suprema da existência da humanidade! 

A adoção de uma postura crítica ao capital não é permitida nem  para a chamada esquerda, ainda que com propósitos humanitário; nem para a direita, cujos propósitos são de retrocessos absolutistas conservadores e cruelmente nazifascistas – não é, Daniel Silveira??? (por  Dalton Rosado continua neste post)
Jards Macalé interpreta a canção que compôs em parceria com o 
poeta Torquato Neto, atualizando os versos célebres do Drummond

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