quinta-feira, 17 de junho de 2021

COM A HABITUAL ELEGÂNCIA, O BOZO SE DIZ "IMORRÍVEL", "IMBROXÁVEL" E "INCOMÍVEL", MAS NÃO INCORRUPTÍVEL. POR QUE SERÁ?

josias de souza
VACINA INDIANA DEIXA ENREDO SANITÁRIO
DE BOLSONARO MALCHEIROSO E DESCONEXO
Até aqui, a CPI da Covid operou em modo auditivo. Limitou-se a seguir o rastro de provas que Bolsonaro produziu contra si mesmo com as declarações que fez ao longo da crise sanitária. 

O presidente se expressou como se cultivasse o desejo secreto de ser apanhado. Agora, a CPI começa a combinar a audição com o olfato. Ao sentir que algo cheira mal, a comissão vai atrás. 

Combinando os sons emitidos pelo presidente com o odor que escapa de um contrato assinado pelo Ministério da Saúde, a CPI chegou a um alvo incômodo para o governo. Chama-se Covaxin. Trata-se de uma vacina indiana contra a covid. 

Numa fase em que inventava efeitos colaterais inexistentes para retardar a compra da vacina da Pfizer, Bolsonaro autorizou o Ministério da Saúde a investir R$ 1,614 bilhão na aquisição de 20 milhões de doses da Covaxin. O contrato foi assinado em fevereiro, quando a vacina ainda não tinha o aval da Anvisa. 

Pior: a Covaxin não havia nem passado pela terceira fase de testes na Índia.

Cobiçada no mundo inteiro, a vacina da Pfizer era tratada por Bolsonaro como imunizante que fazia virar jacaré. Observada com reservas até na Índia, seu país de origem, a Covaxin mereceu do governo brasileiro o tapete vermelho. 
O governo levou 97 dias para negociar e adquirir um lote da vacina Covaxin. Com a Pfizer, a embromação que antecedeu a primeira compra consumiu 330 dias. 

Documentos enviados à CPI pelo Itamaraty e expostos pelo Globo revelam que a embaixada do Brasil em Nova Déli, a capital indiana, alertou Brasília sobre as dúvidas que cercavam a Covaxin. 

Os alertas foram ignorados. E o negócio foi fechado à revelia da Anvisa, que àquela altura não podia se pronunciar sobre a eficácia de uma vacina com os testes ainda inconclusos. 

Chama-se Bharat Biotech o laboratório que produz a Covaxin na Índia. É representado no Brasil pela Precisa Medicamentos

Responsável pela negociação com a pasta da Saúde, a Precisa é investigada pelo Ministério Público no Distrito Federal por suspeita de fraude na venda de testes anti-covid para o governo de Brasília. Negócio de R$ 21 milhões. 

O presidente da Precisa, Francisco Maximiano, será ouvido pela CPI na 4ª feira da semana que vem (23/06). 

Um detalhe potencializa o fedor: a Covaxin foi a vacina mais cara que o Brasil comprou. Cada dose saiu a R$ 80,70. Isso equivale a quatro vezes o preço da vacina Oxford-AstraZeneca. O Brasil ainda não recebeu nenhuma dose de Covaxin. 

Ou seja, Bolsonaro implicou com jacaré e engoliu elefante indiano. (por Josias de Souza)
TOQUE DO EDITOR Faz exatamente uma semana que, tendo tomado conhecimento de que a CPI passaria a investigar empresas possivelmente beneficiadas pelo Governo Bolsonaro em suas aquisições de itens relacionados com a pandemia, cantei neste artigo a bola de que seria esta a bala de prata destinada a dar fim ao catastrófico mandato do pior presidente brasileiro de todos os tempos.

Apesar de eu já ter antecipado o desfecho de um sem-número de episódios importantes da política brasileira nos últimos anos, mais uma vez minha previsão, baseada estritamente em deduções e não em adivinhação, passou quase despercebida. 
E mais uma vez ela começa a tornar-se realidade. Não tenham dúvidas de que a estrela da nova fase da CPI será mesmo a cloroquina, com a vacina indiana servindo apenas como
esquenta

Como diria o companheiro Ricardo Kotscho, vida que segue. (CL)

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