mathias alencastro
CRISE NA ÁFRICA PODE MARCAR
REAPROXIMAÇÃO ENTRE IGREJA UNIVERSAL E PT
Primeiro presidente eleito com voto em massa de uma comunidade religiosa, Jair Bolsonaro prometera colocar o Estado a serviço de pastores e bispos. A aliança na política externa, menos discutida publicamente, era tão importante como os outros acertos. A Igreja Universal via no Itamaraty um veículo para ampliar a sua transnacionalização e em Bolsonaro, o melhor embaixador para os seus interesses.
Componente essencial do projeto de poder da Igreja Universal desde os anos 1980, a expansão internacional tornara-se ainda mais importante a partir dos anos 2010. A presença na África, e especialmente em Angola e Moçambique, era o principal diferencial em relação às suas concorrentes nesse momento mais fragmentado e competitivo da comunidade evangélica no Brasil.
Os bispos, de fato, tomaram para si a política africana. O hoje ex-chanceler Ernesto Araújo dedicara a sua única ida à África, no final de 2019, à promoção de uma nova política externa que tinha como premissa a sujeição da política africana a uma visão bíblica do mundo.
Porém, na percepção dos dirigentes africanos, o ministro somava o insulto à ofensa. O governo Bolsonaro havia desativado o financiamento público, abandonado a diplomacia econômica e esvaziado todos os programas de cooperação. Agora, ele vinha anunciar um processo de evangelização com fortes tons neocoloniais.
Essa atitude caricatural rendeu o desprezo da maioria dos interlocutores africanos e um conflito aberto com as autoridades angolanas, que se recusaram a aceitar o governo brasileiro como mediador da sua relação institucional com a Igreja Universal, implantada no país há décadas.
A crise diplomática, que já dura mais de um ano, deixa claro que a boa inserção da Igreja Universal em Angola, além da tolerância aos seus métodos autoritários e centralizadores, dava-se no contexto de uma relação mais ampla e generosa com o governo brasileiro.
Nas palavras de um observador privilegiado dos acontecimentos, era a empreiteira [leia-se Odebrecht e Camargo Correa] que viabilizava o templo, e não o contrário. Esquecer esse simples cálculo custou caro aos bispos e a Bolsonaro.
Ranking do bezerro de ouro, segundo a Forbes: Edir já era o capo di tutti capi em 2013. E quer mais |
Ele sabe que Lula, o único responsável político em condições de reconstruir a ponte entre Brasil e África a tempo de salvar os interesses da Igreja Universal, também é o principal rival de Bolsonaro nas eleições de 2022.
Não seria, portanto, uma surpresa se a crise na África marcasse o começo de uma reaproximação da Igreja Universal com o Partido dos Trabalhadores, num movimento consistente com as mudanças no comportamento do eleitorado evangélico detectadas pelo Datafolha.
Indiferente à história, Bolsonaro ignora que o Brasil começou em Angola. A conta chega agora. (por Mathias Alencastro)
Um comentário:
Será que veremos Lula, presidente ou não, mais uma vez, em contrição, no templo de Salomão? Que triste sina a deste País, ver-se entre a demência fascista e a malandragem populista!
Marco Aurélio, Rio de Janeiro
Postar um comentário