quarta-feira, 5 de maio de 2021

AS DROGAS SÃO MERCADORIAS E AS MERCADORIAS SÃO UMA DROGA! – 2

(continuação deste post)
2
. o dinheiro e mercadorias
–  Na partilha, os bens destinados ao consumo social comunitário não são mercadorias, mas, simplesmente, objetos com valor de uso, sem qualquer quantificação numérica artificial. 

Ainda hoje, quando um agricultor produz uma quantidade de cereais destinados ao consumo familiar, sem levá-lo ao mercado, tais cereais têm um valor de uso natural, e nesta condição não são mercadorias; apenas objetos. Simples assim.

Com a evolução das trocas, tornou-se necessária uma representação do valor num determinado objeto eleito como especial e que serviria como intermediário das trocas numa relação de quantificação preestabelecida: dez quilogramas de sal valeriam um de peixe; um saco de sal valeria uma sandália, e assim por diante. 

Nos nossos estudos rudimentares, sem que fôssemos alertados para a negatividade aí implícita, ensinaram-nos a positivar as trocas. Assim, numa determinada região o sal (como muitas outras mercadorias usadas) agora era o equivalente geral capaz de viabilizar todas as trocas de objetos, com uma nova e adicional característica: como mercadoria

Tudo parecendo um ganho civilizatório, não nos apercebíamos do grau de negatividade social aí embutido, graças à capacidade de subjugação e acumulação da riqueza de modo segregacionista implicitamente contida nas trocas de mercadorias. 

Como sabemos, tudo acabou desembocando em mecanismos sofisticados de viabilização de trocas a partir de uma convenção representativa de valor mais fácil de manuseio e numericamente contábil: o dinheiro, que, inicialmente metálico, depois em papel, hoje já é também eletronicamente usado sem qualquer representação física de manuseio. 

Assim, o dinheiro é não só a mercadoria das mercadorias, como também a única sem valor de uso mas capaz de comprar todas as outras. O dito cujo nada mais é (ou deveria ser, mas já não é, como veremos) do que a representação fidedigna do valor, capaz de ser acumulado abstratamente por representação numérica.
"Então o Senhor disse a Moisés: Teu povo está a
corromper-se; desviou-se e rapidamente abandonou
as minhas leis.  Fizeram para si um bezerro de ouro.
Estão a prestar-lhe culto e a sacrificar-lhe
"
 (Êxodo, 32-7)
As mercadorias sensíveis e as mercadorias serviços, todas mensuradas pelo valor, são (tecnicamente) o acúmulo de tempo de esforço humano a elas acoplado ou hipostasiado. 

Fora disso, não passa de artificialismo inconsistente à luz da lógica do capital, como agora ocorre com o dinheiro tirado do colete dos Bancos Centrais sem qualquer conexão de valor. 
3. o trabalho escravo e abstrato –  Ora, se se tinha poder com o acúmulo de bens (aí incluída, agora, a própria terra),   quanto mais se pudesse produzir, maior poder de barganha seria concentrado nas mãos de quem mais produzia. 

Como a capacidade de produção individual era reduzida (até porque tudo era basicamente produzido por esforço físico direto), quem subjugasse mais pessoas no sentido de obter maior produção para si se faria mais poderoso. 

O vírus da ganância de poder individual estava então inoculado nas consciências humanas tão destrutivamente como um microscópico e letal vírus que se instala sorrateiramente no organismo humano e o mata. 

Mas estava instalado, principalmente, o sentido de escravidão humana, desconhecido por algumas sociedades humanas tidas como atrasadas e incultas, como as indígenas nas Américas, p. ex. Os civilizados não eram tão civilizados assim.

Com o passar do tempo, a tomada de consciência dos seres humanos quanto ao absurdo de se ter alguém como propriedade legal e como escravo, e a própria dinâmica do capital em formação, exigiu-se um tipo de relação social na qual seriam os trabalhadores remunerados em valor a menor e produtores de valor a maior (a mais-valia dissecada por Marx), uma nova e generalizada forma de mediação social. 

Passava-se à escravização indireta do trabalho abstrato, assim considerado por produzir coisas concretas (o objeto servível ao consumo) e abstratas (o valor, mensuração meramente numérica do tempo de trabalho nele quantificado).

Surgia, concomitantemente, a acumulação de valor e, com ele, o capitalismo e sua visão mercantilista, utilitária e insensível ao drama humano, posto que apenas usa a necessidade de consumo para escravizar, tal qual um vendedor de cocaína que vicia o consumidor na necessidade de comprá-la e assim o escraviza. 

As drogas são mercadorias; as mercadorias são uma droga!

Estava decretado o fim do feudalismo fisiocrata e suas formas políticas pessoalmente autocratas, substituído pelo republicanismo politicamente descentralizado, cujo grande ditador é o próprio capital, o sujeito automático da forma-mercadoria. 

Enganam-se os ministros do Supremo Tribunal Federal e tantos quantos veem a institucionalidade republicana como algo neutro, isento de parcialidade. (por Dalton Rosado)
(continua neste post)

Nenhum comentário:

Related Posts with Thumbnails