A psicanálise define como sociopatia a ocorrência de transtornos comportamentais manifestados num comportamento antissocial.
Isto não no sentido tradicional, apenas da dificuldade de relacionamento pessoal com seus semelhantes, mas no sentido de conduta individual insurgente a partir da quebra de regramentos ou tomada de decisões impulsivas sem que o agente se sinta culpado pelos danos que causa.
Os sociopatas podem, ainda, resvalar para atitudes criminosas que denotam falta de consciência social.
Quem você identificaria, no Brasil de hoje, com tal perfil?
Certamente você pensou no mesmo personagem que eu, a menos que esteja tão incapaz de reconhecer nas atitudes do dito cujo tal enquadramento. Neste último caso, é você quem está precisando de um psicanalista que lhe ajude a fazer uma autocrítica sem sentir-se idiota ou culpado.
Para que você tome consciência do que estamos sendo vítimas no Brasil, com um timoneiro desastrado em meio a uma tempestade mundial, vamos aos fatos.
Depois de uma ano pífio em termos de economia e marcado pela negação das promessas de campanha, bem como por conflitos de relacionamentos entre sua equipe de governo, tivemos em 2019:
— um aumento de apenas 1,1% no Produto Interno Bruto, menor que o de 2018 (1,8%);
— nenhuma privatização relevante de empresas públicas como havia sido prometido;
— frequentes denúncias de permanência das práticas da velha política na atuação dos políticos do baixo clero, que não possuem cacife para a corrupção grossa e têm de satisfazer-se com meras rachadinhas (comissões sobre os salários de funcionários fantasmas);
— igualmente frequentes notícias de prisões e mortes de notórios milicianos, aqueles mesmos que, em passado não muito distante, eram homenageados em sessões solenes, recebiam regalos (graças aos cofres públicos) e tinham seus parentes e amigos empregados (em cargos públicos) pelo clã agora enquistado na Presidência da República;
— farta distribuição de vagas governamentais para militares da reserva, amiúde chamados a substituir os profissionais especializados em cargos técnicos;
— conflito entre o nacionalismo militarista patriótico estatizante e o liberalismo clássico daquele que fora apelidado de posto Ipiranga e tido como gestor absoluto da economia brasileira (o empresariado da avenida Paulista acreditou nesse pato).
Veio o ano de 2020 e a pandemia. Aí evidenciou-se de vez a idiossincrasia que apenas se delineava. Vamos novamente ao fatos.
Ainda em março de 2020, quando surgiram os primeiros casos de mortes no Brasil por infecção virótica da covid-19, que surgira na China (pelo menos como informação original), o presidente Boçalnaro, o ignaro, garantiu:
"As mortes por coronavírus não serão maiores do que as que foram provocadas pelo H1N1 no ano passado".
Esta primeira afirmação negacionista foi feita por quem não tinha base científica nenhuma para fazê-la.
O Boçalnaro não mencionou análise ou testemunho de qualquer profissional da área, o que deixa claro ter ele se inspirado tão somente em intuição pessoal.
Naquele momento (9 de março de 2020) as mortes já eram 941, quase 150 a mais do que as 746 causadas por H1N1 em 2019. Errou por ignorância ou manipulação da informação? Se você cravar as duas hipóteses tem grande chance de acertar.
Foi também quando ele afrontou a ciência pela primeira vez (continuaria a fazê-lo sem o menor pejo), ao caminhar sem máscara nem cautela pelas ruas de Brasília, contrariando o seu próprio ministro da Saúde, médico que teve de suportar calado o pouco caso com que suas recomendações eram tratadas pelo presidente a quem servia.
Estava escancarada a contradição entre um governante imprudente e o médico experiente, seu subordinado em cargo de confiança.
No microfone aberto afirmou bravateiro:
"Pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado pelo vírus, não precisaria me preocupar nesse sentido, ou seria acometido, quando muito, de uma gripezinha ou resfriado, como bem disse aquele conhecido médico [o dr. Drauzio Varella, só que vários meses antes, quando a periculosidade da covid-19 ainda era ignorada] da conhecida televisão [a Globo]".
Tal bravata, além de atrapalhar os esforços preventivos do Ministério da Saúde, que seguia e da Organização Mundial da Saúde, também desrespeitava os mortos e seus familiares, muitos deles bem mais jovens do que o presidente e sem nenhuma comorbidade. Foi o segundo atestado de negacionismo genocida.
Posteriormente reafirmou a sua rejeição do isolamento social, que já estava sendo amplamente adotado na Europa diante do avanço impressionante das infecções e mortes. É o que, com enorme hipocrisia, está por trás da seguinte afirmação:
"Eu tenho o direito constitucional de ir e vir, e ninguém vai tolher a minha liberdade!"
É baseado em tais premissas que ainda hoje vemos alguns fanáticos seguidores do mico afirmarem que os obedientes ao isolamento são escravos do comunismo e do Doria, numa confusão conceitual de fazer inveja ao grande Sergio Porto e seu Samba do crioulo doido.
Mas, no fundo, é só manipulação do gado bolsonarista, que acredita em qualquer baboseira. Então, o melhor paralelo musical é com a letra daquele antigo samba do Alcides Gerardi, segundo a qual "Camelô, na conversa, ele vende algodão por veludo/ Não tem bronca, porque neste mundo tem bobo pra tudo". (por Dalton Rosado)
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