quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

POR QUE AUMENTA TANTO A DEPRESSÃO SOCIAL E VAMOS REGREDINDO A PASSOS LARGOS PARA A BARBÁRIE? – 1

Vivemos num tempo de depressões: psicológicas e econômicas. 

A depressão psicológica (excluídos os fatores patogênicos congênitos ou adquiridos) pode decorrer de uma sensação de impotência diante do próprio provimento da sustentação dos seres aptos à produção, mas impossibilitados de sua execução por fatores que excedem a sua vontade, ou por medo da morte. 

Quero aqui, mesmo sem ser profissional da psicanálise, denominar a depressão própria aos seres humanos aptos à produção social como sendo depressão socio-coletiva, de vez que lhes é imposta exteriormente e derivada de um modo de ser social que priva as pessoas de uma interação salutar com seus semelhantes e com a natureza, no sentido do provimento de suas necessidades de consumo.

Trata-se dos efeitos da esquizofrenia causada pela obediência cega ao comando social fetichista da forma-mercadoria em seu limite de expansão ora atingido, no qual uma abstração conduz e destrói a realidade.

O ser humano sequer compreende a causa do seu infortúnio e carrega como sua uma culpa que lhe é estranha, daí haver uma depressão coletiva, social.  

Paradoxalmente, no exato momento em que o saber adquirido pela humanidade atinge o nível de conhecimento capaz de oferecer ao ser humano um nível de produtividade e comodidade jamais visto no seu itinerário sobre a Terra, ocorre uma paralisia das relações sociais que o impede de produzir. 

Os 12 milhões de brasileiros desempregados de antes da crise sanitária agora somam 14 milhões, e é fácil imaginar o que sente uma família cujos adultos estão desempregados e vê faltar aquilo de que seus membros necessitam, pois somente podem sobreviver a partir da capacidade financeira de pagar:
— o consumo de água e de energia elétrica;
— alimentos;
— aluguel, se não tiver casa própria (a maioria dos trabalhadores desempregados não tem);
— vestuário;
— educação de qualidade e material didático para seus filhos;
— transporte; 
— atendimento médico e remédios;
— todos os equipamentos que a propaganda lhe diz para comprar e que representam, na chamada modernidade, conforto e comodidade; e
— lazer, que ninguém é de ferro.

Mais do que depressão, a resultante inevitável dessa incapacidade de provimento do próprio sustento representa desespero. 
Temos o mais alto nível de criminalidade da nossa história, e não me venham os insensíveis justificar que é falta de policiamento eficaz. As cadeias que mais parecem masmorras medievais estão abarrotadas de pobres, predominantemente negros, e o Estado já não tem como lhes garantir o sustento na prisão, que é bastante caro mesmo sem respeitarem-se os padrões mínimos da dignidade humana.

Não podemos, contudo, simplesmente passar pano na criminalidade praticada por pessoas que antes não tinham uma mente criminosa, mas derivaram para o crime. Tais desesperados deveriam usar toda a sua revolta na luta contra o mal que os oprime: a sociedade da forma sujeito-abstrata das relações mercantis. Não o fazendo por inconsciência social, tornam-se nocivas aos demais seres humanos e têm de ser impedidas, por mais que compreendamos o processo que minou sua consciência moral.
O crime não é solução contra o crime social oficialmente consentido da extração de mais-valia que acumula o capital nas mãos de uns pouco, e que agora está se autodestruindo por conta de suas próprias contradições internas fundamentais.

Mas, podemos compreender claramente que o alto nível de criminalidade que temos deriva de um sentimento de injustiça social recôndito e incompreendido na sua essência mais profunda, bem como de necessidades várias. 

Tal caldo de cultura é igualmente nefasto para os litigantes da sobrevivência social (os ricos com seus privilégios desmedidos e os pobres na concorrência fratricida pelo emprego inexistente): ambos são gestados no ventre da serpente capitalista depressiva, o que os torna tão cruéis quanto os mais cruéis tiranos da antiguidade. (por Dalton Rosado)
(continua neste post)

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