quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

A TRAJETÓRIA DE UM DOIDO MANSO ATÉ SE TORNAR UM TIRANO GENOCIDA

E
m qual momento um doido manso, que quando menino passava o dia na cidadezinha jogando pedras nos transeuntes da praça da matriz por puro prazer, pode se tornar um tirano perigoso, um genocida capaz de colocar em risco a vida de uma população de 212 milhões de habitantes? 

Eu conheci um menino assim, mas ele nunca fez mal a ninguém, fora os sustos que a gente levava. 

Ô, Elemento, pára com isso, de vez em quando reclamava alguém, e ele jogava mais pedras, por detestar o apelido. Ninguém sabia o nome dele. 

Tinha um outro que só me chamava de Roberto, não havia jeito de acertar meu nome. Gostava de dar e receber presentes, qualquer coisa, e passava o dia correndo de um lado para outro. 

Aqui na rua onde moro circulava uma doida mansa que não gostava de ser chamada de Maria, soltava todos os palavrões do mundo quando a chamavam assim, e logo seguia seu caminho, carregando suas tralhas. 

Todo mundo deve conhecer tipos que, digamos, fogem ao padrão normal de comportamento. Os hospícios estão cheios deles. 

Nunca mais soube do destino desses personagens, nem sei por que me lembrei deles agora... 

O problema só aparece quando um elemento destes deixa de ser manso e chega ao cargo mais alto da República, com poderes para decidir sobre a vida e a morte dos seus governados. 

É neste momento que ele se torna um tirano, lutando contra o seu próprio povo, para se vingar contra inimigos imaginários ou reais do passado, revoltado com a sua própria mediocridade, incapaz de sentir qualquer compaixão pelas suas vítimas, que já passam de 180 mil. 

Enquanto o dito cujo se militava a combater radares nas estradas e cadeirinhas para crianças nos carros, brigar com fiscais do Ibama em áreas proibidas para a pesca e fazer arminha com os dedos, podia parecer tudo muito engraçado. 

... num breve discurso durante solenidade de formatura da Marinha, no Rio, sem falar diretamente da doença, Bolsonaro voltou a criticar a vacinação obrigatória:
"Não deixem que o pânico nos domine. A nossa liberdade não tem preço. Ela vale mais do que a nossa própria vida".
De que vale a liberdade após a morte? Dá para entender o que Bolsonaro fala? Para quem passou a vida nos fundões do baixo clero da Câmara, defendendo ditadores e torturadores, além de aumento nos soldos dos fardados, chega a ser patético que ele agora ouse falar em liberdade. 

É como se o povo brasileiro tivesse a liberdade de escolher entre a vida e a morte, enquanto o seu general da Saúde, apenas um apalermado ajudante de ordens, até agora não tenha-se dignado a providenciar vacinas nem seringas em quantidade suficiente para imunizar toda a população, nove meses após a eclosão da pandemia, no momento em que outros países já começaram a vacinação em massa. 

Que saudade dos doidos mansos. Pelo menos, eles eram muito engraçados... 

Vida que segue. (por Ricardo Kotscho)
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T
OQUE DO EDITOR – Com minha filha mais velha passando o fim de semana comigo, eu não conferi o Balaio do Korscho do último sábado (12). O qual trazia, constato agora, um post que não poderia faltar aqui em nosso espaço, seja por sua excelência, seja pelo seu destemor.

Então, pedindo desculpas aos leitores, estou publicando agora o que ele tinha de intemporal. Só deletei alguns trechos que, na minha avaliação, ficaram superados de uma semana para outra. (por Celso Lungaretti)

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