segunda-feira, 30 de novembro de 2020

SEREMOS HIPÓCRITAS SE BATERMOS PESADO NO GENOCIDA VOCACIONAL E POUPARMOS OS GENOCIDAS ACIDENTAIS

leonardo sakamoto
QUANTAS MORTES TERÁ CUSTADO A DEMORA
DE SP EM ENDURECER A QUARENTENA?
O governador João Doria (PSDB) anunciou o endurecimento da quarentena no município de São Paulo nesta 2ª feira (30) – um dia após a recondução de seu correligionário Bruno Covas à prefeitura da capital. 

A taxa de ocupação de UTIs por covid já havia levado especialistas a lhe recomendarem a tomada de impopulares medidas restritivas imediatamente – o que o governador não fez. Decidiu esperar com base nos dados que tinha em mãos. 

Como eu havia alertado, hoje seria o dia de saber em quais locais os gestores sujeitaram decisões de combate à pandemia às suas necessidades políticas. Ou seja, anúncios como esse já eram previsíveis. O que não faz com que eles sejam menos chocante.
Praia lotada em Santos (SP), no último feriado da Independência
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Para um governo que se gabou de ter sido um contraponto racional ao terraplanismo sanitário do presidente da República, e que realmente tomou medidas corretas enquanto o presidente se aliava ao coronavírus, é um tanto quanto constrangedor a percepção de que segurou medidas impopulares para não afetar a votação de aliados. 

Natural que uma parte da população esteja cansada do isolamento social e desrespeite regras de distanciamento social. Da mesma forma, era esperado (infelizmente) que candidatos flexibilizassem as restrições por conta própria e se aglomerassem com seus eleitores. 

Mas isso não dá a governadores e prefeitos autorização para agirem de forma irresponsável, colocando suas necessidades políticas acima da qualidade de vida de milhões de pessoas. Mesmo diante do impacto de medidas impopulares trazidas pelo endurecimento de uma quarentena em meio aos dias quentes de um 2º turno. 
O posicionamento do governador (camisa branca na foto ao lado) foi seguido pelo prefeito (camisa azul), que afirmara não haver necessidade de retroceder na quarentena em sabatina ao
UOL e à Folha de S. Paulo, na última 5ª feira. Pregava-se a estabilidade da doença, embora a redução no número de leitos de UTIs vagos em hospitais privados e públicos apontasse outra coisa. 

Ignorando o conselho de médicos e pesquisadores, Doria preferiu esperar esta 2ª feira, quando já estava marcada uma revisão do Plano São Paulo, que classifica as regiões do Estado em fases quanto a níveis de abertura. Agora, passou a capital e outras região da fase verde para a amarela.
 
O governador e o prefeito vão dizer que esse questionamento é leviano, mas se não houvesse eleição neste momento, São Paulo teria demorado tanto para retroceder na flexibilização da quarentena? 

Os mortos decorrentes desses dias que perdemos certamente não poderão responder. (por Leonardo Sakamoto)
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TOQUE DO EDITOR – Faz bem o Sakamoto em registrar para a posteridade mais este episódio deprimente, mas percebe-se que nem mesmo ele acredita que um dia os tribunais superiores venham deixar de ser condescendentes com tais manobras para iludir eleitores e manipular o resultado das eleições.

Lamentavelmente, o estelionato eleitoral só é punido de forma contundente quando quem o comete está na alça de mira dos poderosos.

Dilma Rousseff, segundo a Constituição, poderia mesmo ser privada do mandato por ter maquilado as contas públicas, impedindo os eleitores de tomarem conhecimento do estado desastroso no qual elas se encontravam (o que tornava praticamente inevitável uma forte recessão em 2015).

Mas, muitíssimos mais danosos foram os disparos de fake news do Bolsonaro em 2018, unindo o estelionato eleitoral ao abuso econômico cometido pelos financiadores daquele CRIME

Ainda assim, alertado em tempo pela imprensa, o TSE não fez a lição de casa, que seria cancelar o 2º turno até a apuração das denúncias, caso contrário Ciro Gomes, que ficou fora do 2º turno, sofreria prejuízo irreparável, pois, se este fosse um país sério. a candidatura do palhaço sinistro teria sido cassada. [E isto sem contarmos a suspeitíssima facada mandrake que decidiu a eleição...] 

O adiamento do anúncio de medidas antipáticas por parte de governantes que disputam a reeleição ou apoiam um candidato do seu partido, acaba sendo também um estelionato eleitoral. 

Quando a coisa se limitava a deixar para depois os aumentos das tarifas públicas, era menos acintoso. Mas, agora, há chances enormes de cidadãos terem morrido para que Bruno Covas não fosse prejudicado por uma medida impopular de seu protetor João Doria. 

Depois de terem cassado uma presidente por uma transgressão menor, o alívio a Bolsonaro e a Covas foi um acinte. Seria melhor seguirem, de uma vez, o pedido irônico de equanimidade do Stanislaw Ponte Preta: ou restaure-se a moralidade ou locupletemo-nos todos... (por Celso Lungaretti)    

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