ricardo kotscho
AS URNAS FALARAM: PT NÃO GANHA
NENHUMA CAPITAL E SOFRE SUA PIOR DERROTA
No dia 30 de outubro, ainda antes do 1º turno, publiquei esta coluna: Aos 40 anos, PT chega às eleições envelhecido, sem votos e sem rumo.
No dia seguinte, José Américo Dias, deputado estadual e coordenador da campanha do PT em São Paulo, e o jornalista Edmundo Machado Oliveira me pediram direito de resposta e enviaram texto com este título: É prudente deixar que a urna fale.
Pois elas falaram nos dias 15 e 29 de novembro, deixando o PT sem nenhum prefeito de capital e nos maiores municípios em que disputava o 2º turno.
Pelo que acompanhei até agora, as cidades mais importantes onde o PT venceu foram Diadema (SP), com José Filippi, e Juiz de Fora (MG), com Margarida Salomão.
Por coincidência, Diadema foi o primeiro município onde o partido venceu uma eleição, dois anos após ser fundado, com o metalúrgico Gilson Menezes, que era da diretoria de Lula no sindicato.
Neste século, o PT venceu quatro eleições presidenciais e governou o país até apenas quatro anos atrás, quando Dilma Rousseff foi derrubada por um golpe parlamentar.
Naquele ano de 2016, o PT já tinha perdido um terço das suas prefeituras e só ganhou em uma capital, Rio Branco, no Acre.
Nos 5.570 municípios brasileiros, o PT conquistou em 2020 menos de 180 prefeituras.
Em São Paulo, este ano, pela primeira vez na sua história, o PT ficou fora do 2º turno e teve menos de 10% dos votos. Só foi para o 2º turno em duas capitais, Vitória e Recife, e perdeu em ambas.
Não adianta querer tapar o sol com a peneira. Foi a maior derrocada do PT nestes 40 anos e, para não ser surpreendido outra vez, seria bom que se preparasse melhor para as próximas eleições, de preferência, antes que as urnas falem.
O mundo mudou Eu preferia não ter razão, mas como repórter não posso brigar com os fatos. Estava na cara. O antipetismo ficou maior do que o petismo.
Se o partido não descobrir e atacar as causas, renovar suas lideranças e programas, vai continuar andando para trás, porque mudou o mundo em que ele foi criado e no qual ele se tornou o maior do país no começo do século.
Só faltam dois anos para a próxima eleição. Vida que segue. (por Ricardo Kotscho)
TOQUE DO EDITOR – Ricardo Kotscho é jornalista há 56 anos e foi quatro vezes agraciado com o Prêmio Esso de Jornalismo; trata-se de uma lenda vida da minha profissão.
É também petista desde os primórdios do partido, tendo sido o secretário de Imprensa do governo do Lula em 2003 e 2004.
Único petista cujos textos publico amiúde, Kotscho merece meu respeito não só por sua excelência em termos profissionais, como também por jamais ter faltado ao compromisso primordial de nosso ofício com a verdade.
Infelizmente, foram muitos os colegas que, durante os governos petistas, tiveram seus sites e blogs priorizados como cabides de anúncios das estatais federais, além de lhes serem sempre oferecidas boquinhas pra lá de vantajosas e de os chamarem a toda hora para coletivas presidenciais destinadas exclusivamente aos que Millôr Fernandes qualificaria de proprietários de armazéns de secos e molhados...
Faço questão de registrar que Kotscho foi o jornalista petista que mais incisivamente alertou o partido para o abismo que se abria à sua frente e é agora o que evita colocar panos quentes, preferindo admitir com franqueza o que realmente ocorreu: o PT está saindo das eleições municipais em frangalhos.
Para ele, como petista, é um cenário dos mais deprimentes. Para mim, como revolucionário, é um quadro alvissareiro, pois meu último grande objetivo na vida é ver afirmar-se uma nova esquerda, anticapitalista e combativa, que não mais iluda os explorados com miragens de melhora sob o capitalismo.
Tal possibilidade deixou definitivamente de existir no final da década passada e, embora os indícios fossem gritantes, a esquerda os ignorou até agora. Torço para que, daqui em diante, a companheirada se curve às evidências dos fatos.
E para que as novas convicções rapidamente se tornem ações! (por Celso Lungaretti)
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