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MARADONA NÃO MORREU, FICOU ENCANTADO
Maradona, além de ter sido um dos maiores craques da história do futebol mundial, é um símbolo da tragédia humana, de um tango argentino, por ter sido, ao mesmo tempo, genial, contraditório, divino e humano, sem nunca esconder suas fraquezas. Esta é uma das razões dos argentinos adorarem tanto seu ídolo.
Paradoxalmente, Maradona era o maior craque do mundo numa época em que a ciência esportiva tentava fazer do futebol um jogo essencialmente científico, programado e previsível. Ele, com seu show de habilidades, inventividade, imprevisibilidade, plasticidade e efeitos especiais, foi uma resistência ao futebol pragmático.
Maradona unia ao futebol fascinante a técnica precisa, eficiente. Driblava, passava, finalizava com extrema competência. Faltou a ele a regularidade de um Messi, de brilhar por quase 15 anos, constantemente. Ou ele, com sua passionalidade, preferiu encantar por pouco tempo como acontece com as paixões?
Será que Maradona, inconscientemente, sem entender, procurou o caminho mais curto para abreviar a finitude humana?
Maradona fez o mais belo gol da história das Copas do Mundo, contra a Inglaterra, em 1986. Após a partida, ele contou que, ao receber a bola no campo da Argentina, quis passá-la a um companheiro, mas apareceu um inglês e ele teve de driblá-lo. Depois, quis dar a bola a outro argentino, porém, surgiu mais um adversário e teve novamente de driblar.
Assim, sucessivamente, Maradona teve de passar por vários marcadores e o goleiro até fazer o gol. Foi a união de um extraordinário talento com uma sucessão de acasos.
Após um jogo festivo, beneficente no Maracanã, organizado por Zico num final de ano e com a presença de Maradona, um torcedor apaixonado por futebol disse que enfim tinha compreendido porque quase todas as pessoas diziam que Maradona era superior a Zico, seu ídolo.
Ao ver os dois juntos no mesmo time trocarem passes, percebeu a realidade: Zico foi um dos grandes da história, mas Maradona era de outro mundo.
Muitos italianos e argentinos acham que Maradona foi superior a Pelé, porque, além da relação afetiva, possuem opinião técnica de que ele conseguiu ser um supercraque, vencedor, mesmo jogando no Napoli, um time grande, mas sem a importância das maiores equipes do mundo. Justificam ainda que Maradona enfrentou as defesas italianas, tidas como as mais seguras daquela época.
Pelo olhar de um médico, não houve grande surpresa na morte prematura de Maradona, aos 60 anos, devido aos seus graves e crônicos problemas de saúde. Porém, sempre nos iludimos de que um gênio como ele nunca deveria morrer.
Parafraseando João Guimarães Rosa, Maradona não morreu, ficou encantado. (por Eduardo Gonçalves de Andrade, o Tostão, craque da bola e do teclado)
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