quarta-feira, 28 de outubro de 2020

AO HUMILHAR ALTOS OFICIAIS, O BOZO SE VINGA DAS PUNIÇÕES QUE DELES RECEBIA QUANDO ERA CABEÇA DE PAPEL ABUSADO

ruy castro
MARCHA, SOLDADO
Se os militares fossem tão argutos como se julgam, já teriam percebido que Freud explica: Jair Bolsonaro está tendo a oportunidade de descontar as humilhações que sofreu em sua medíocre carreira no Exército e se vingar dos oficiais que um dia bramiram na sua cara por alguma corneta que tocou errado ou cavalo que deixou de lavar. 

Na condição de presidente da República, donde chefe supremo das Forças Armadas, é a sua vez de bramir contra militares de alta patente, vários na ativa. 

Com ela, Bolsonaro mostra que pode ser generoso, dando-lhes confortáveis sinecuras, nomeando-os para funções incompatíveis e concedendo-lhes benefícios que nega aos servidores civis, mas que também pode tirar-lhes tudo isso quando quiser. 

E, para provar, dedica-se a devolver o dedo na cara apontando-o para os generais de sua confiança.

É a tática de Bolsonaro para reduzir seus generais a recrutas. Insulta-os ou induz seus jagunços a insultá-los. Daí obriga-os a engolir as ofensas ou arranca-lhes os botões. 

O primeiro a aprender com quem estava falando foi o general Santos Cruz, rapidamente expelido. 

O general Eduardo Pazuello, ministro da Saúde que não sabia o que era o SUS, é outro que acaba de cair em si. 

Na única medida autônoma e sensata que tomou, de apoiar a compra de vacinas para a imunização dos brasileiros, foi quase fuzilado por Bolsonaro, que lhe impôs desdizer-se e se acoelhar para não ser demitido.
Há dias, o general Luiz Eduardo Ramos foi dormir com as orelhas ardendo e ainda se desculpou por ter sido grosseiramente ofendido. E haverá outros. Os bragas, helenos e mourões que se cuidem.

É o cabeça de papel dando ordens de marcha-soldado a homens que trocaram o mandar por obedecer —e logo a quem. (por Ruy Castro)

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