sexta-feira, 2 de outubro de 2020

APÓS MAXIMIZAR A MATANÇA DA COVID-19, A DEPRESSÃO ECONÔMICA E A DEVASTAÇÃO AMBIENTAL, O BOZO SEMEIA O CAOS

alexander busch
BOLSONARO SACRIFICA ÚLTIMA
 ÂNCORA DE ESTABILIDADE
O
tempo está correndo
, diz o presidente Jair Bolsonaro, com lucidez. Ele tem de encontrar o mais rápido possível um meio de, a partir do início do ano, estabelecer um novo programa social para manter sua popularidade no nível alto alcançado graças ao auxílio emergencial.

Isto, contudo, vai ser difícil. Existem regras para o orçamento, como a do teto de gastos, segundo o qual as despesas do governo não podem aumentar a uma taxa maior que a taxa de inflação do ano anterior. 

Se o governo ainda quiser gastar mais, terá de mexer nas receitas ou despesas. Mas Bolsonaro também não quer nenhuma das duas coisas, porque não quer melindrar ninguém e não está disposto a tomar as rédeas politicamente.

Por isso, o presidente agora parece estar disposto a sacrificar a última âncora de estabilidade da política econômica brasileira: a segurança jurídica da economia

Sua importância para os investidores é algo que não pode ser minimizada, pois, ao contrário, de muitos grandes mercados emergentes ao redor do mundo, o Brasil sempre foi um país que garantiu aos investidores estrangeiros uma relativa segurança jurídica – e que as regras não mudarão retroativamente. Mas, até isto agora está em jogo. 
TRUQUE DESAJEITADO – Então, o governo quer custear o programa social Renda Cidadã a partir do início do ano que vem com um desajeitado truque de balanço:
— os pagamentos de precatórios devem ser reduzidos fortemente (trata-se de indenizações pendentes a empresas e pessoas físicas às quais o fisco brasileiro já foi condenado em última instância);
— por outro lado, deve ser usado dinheiro do Fundeb, fundo que financia o ensino fundamental.

Argumento do governo: no caso dos precatórios, se trata de uma indústria de reivindicações judiciais, como já reclamou várias vezes o ministro da Economia, Paulo Guedes. Pode ser, mas um governo não pode simplesmente questionar a lei vigente porque não se adequa a seus interesses. Isto leva insegurança aos investidores.

As consequências são claras: o mercado de ações enfrentou uma queda. Perdeu 11% desde o final de julho. As empresas estão cancelando seus planos de abrir capital nas bolsas brasileiras. O real é uma das moedas mais fracas e voláteis do mundo neste ano. As taxas de juros de longo prazo também estão subindo, porque os investidores temem que o governo tenha perdido de vista o objetivo de longo prazo do equilíbrio orçamentário. 

O Estado tem de, por isso, adiar suas dívidas de forma cada vez mais rápida e em prazo cada vez mais curto.
PRIVATIZAÇÕES – Até agora, os investidores tinham esperança de que Guedes tomasse um rumo no próximo ano, no sentido de que em algum momento a dívida voltasse a cair. Mas, no momento isso não parece mais estar no horizonte.

A isso se soma uma crescente imprevisibilidade nas privatizações e concessões. P. ex., o Supremo Tribunal de Justiça discute se os estados e prefeituras podem simplesmente determinar que as concessionárias de estradas, abastecimento de água e aeroportos reduzam suas tarifas, se as considerarem abusivas. Isso abre a porta para a arbitrariedade política.

Da mesma forma, o programa de desinvestimento urgentemente necessário da Petrobras vem sendo freado, fazendo com que subsidiárias criadas para fins de venda possivelmente não possam ser privatizadas.

Todas essas medidas têm o mesmo efeito sobre os investidores: eles se retiram. Este é o caso dos investidores financeiros, que retiraram mais dinheiro este ano do que na crise financeira de 11 anos atrás. No entanto, isso também se aplica cada vez mais a empresas que deixarão de participar de licitações ou privatizações. 

Isso é fatal para o governo, que espera que mais capital entre no país por meio de licitações. (por Alexander Busch, na Deutsche Welle)
TOQUE DO EDITOR Este não é, evidentemente, um artigo com uma visão de esquerda acerca da problemática econômica. 

Considerei-o, contudo, relevante para o blog por nos mostrar o ponto de vista dos capitalistas sobre o atoleiro no qual o Bozo se debate, obcecado em manter a popularidade comprada a esmolas emergenciais para, graças a ela, usar a faixa presidencial durante outro quadriênio, sem a mínima intenção de cumprir as tarefas de um verdadeiro presidente da República em 2023-2026, assim como jamais as cumpriu no presente mandato. 

Só que, numa situação extremamente deteriorada, ele está priorizando uma insignificância (a próxima eleição presidencial) em lugar da terrível depressão econômica que atingirá o auge no próximo ano e pode causar mais vítimas ainda do que a pandemia. 

Se os podres Poderes continuarem omissos, não encerrando o quanto antes seu catastrófico mandato, a contagem de cadáveres disparará de vez, com os mortos pela miséria somando-se aos mortos pela sabotagem à administração científica da crise sanitária, num cenário de pesadelo.

Que Marx (ou Deus, à vontade do freguês) nos acuda!
(CL)

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