samuel pessôa
VIRADA DE BOLSONARO REPETE PASSADO
Há fortes sinais de uma reviravolta desenvolvimentista na política econômica. Percebe-se que o presidente está altamente tentado a quebrar o teto de gasto para que haja espaço para a elevação do investimento em infraestrutura e expansão da política social (em relação ao status quo pré-pandemia).
Ao menos é o que se depreende dos acontecimentos da semana e das mensagens, explícitas ou cifradas, que o próprio presidente envia à sociedade.
Na 6ª feira (14), a Folha de S. Paulo divulgou a elevação da popularidade do presidente. A soma de ótimo e bom subiu de 32% para 37%, e a avaliação negativa, dada pela soma de ruim e péssimo, caiu de 44% para 34%. Na região Nordeste, a queda da avaliação negativa foi de de 52% para 35% e a positiva subiu de 27% para 33,3%.
Assim, além da elevação da popularidade do presidente, aparentemente há uma troca da natureza do apoio. Bolsonaro consegue penetrar em regiões que nas últimas eleições têm votado no PT, fato bem notado na entrevista do cientista político André Singer à Folha de S. Paulo no domingo passado (9).
Bolsonaro pode estar repetindo dois movimentos já observados em nosso passado. Do ponto de vista da política econômica, após um início em que ensaiou apoio a uma agenda de reformas e de ajuste fiscal, talvez mais como farsa, e não para valer (como a do governo Castello Branco), volta-se para uma programa de maior intervencionismo na economia e de desequilíbrio fiscal. Rapidamente, Bolsonaro pode refazer, com nuances, a trajetória da formulação da política econômica da ditadura militar.
Na política, Bolsonaro parece caminhar para repetir o ciclo que tem ocorrido com todas as forças que mantêm alguma hegemonia ou autoridade política durável no Brasil há muitas décadas.
A nova força política surge com forte apoio do eleitorado da região Sudeste. Com o passar dos tempos e o natural processo de desgaste, o apoio no Sudeste cai ou desacelera, e a base eleitoral do grupo político que tem a liderança do Executivo nacional se movimenta para o Nordeste, a região mais dependente das transferências do governo central.
Bolsonaro talvez faça a jato, em alguns anos, o trânsito que fizeram, em década ou década e meia, aproximadamente, a Arena nos anos 1960/1970; o MDB nos anos 1970/1980; o PSDB nos 1990 (vale lembrar que Serra em 2002 venceu em Alagoas); e o PT nos anos 2000/2010. (por Samuel Pessôa)
Toque do editor — Mandou bem o Pessôa, explicando de forma didática o enredo que novamente se repete neste país do eterno retorno.
Concordo inteiramente com a avaliação e acrescento algumas consequências dessa opção adotada por Bolsonaro depois de derrotado na queda-de-braço com o poder dominante (o econômico tradicional, das multis, das grandes corporações e das finanças, com poder de fogo infinitamente superior ao dos vira-latas do capitalismo que embarcaram no trem fantasma do Bozo, como os destruidores da Amazônia) e seus braços costumeiros, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal.
A primeira é óbvia para todo revolucionário formado na tradição marxista: a força dominante do capitalismo é sempre seu segmento dinâmico, aquele que está desenvolvendo as forças produtivas, e não os grotões do atraso, que as estão travando.
A primeira é óbvia para todo revolucionário formado na tradição marxista: a força dominante do capitalismo é sempre seu segmento dinâmico, aquele que está desenvolvendo as forças produtivas, e não os grotões do atraso, que as estão travando.
Isto já se evidenciou emblematicamente no resultado da guerra civil estadunidense (1861-1865), com os nortistas, que intentavam deslanchar a industrialização do país, impondo sua vontade aos sulistas, que, a grosso modo, o queriam manter agrário e escravista.
Na década passada, enquanto os petistas permaneciam deitados em berço esplêndido acreditando que os votos dos pobres beneficiados pelo assistencialismo os manteriam indefinidamente no poder, eu já sabia que o castelo de cartas desabaria tão logo outra força emergisse no Brasil próspero; tal força, com votos ou sem votos, prevaleceria sobre o Brasil do atraso.
Infelizmente, quem cumpriu tal papel foi um palhaço de mafuá, beneficiado por muitas circunstâncias fortuitas, pelo maior estelionato eleitoral da História brasileira e, last but not least, pelo endosso do poder econômico, para quem a única coisa que realmente contava era entronizar um Paulo Guedes ou outro neoliberal qualquer como czar da economia.
Não percebendo quem realmente mandava no país, o Bozo tentou brincar de Mussolini sem um centésimo sequer da qualificação que o líder fascista italiano tinha para concretizar seus objetivos (os quais, obviamente, considero execráveis, mas é inegável que o Duce sabia o que estava fazendo, enquanto sua imitação barata daqui tropeçou nas próprias pernas o tempo todo).
Não percebendo quem realmente mandava no país, o Bozo tentou brincar de Mussolini sem um centésimo sequer da qualificação que o líder fascista italiano tinha para concretizar seus objetivos (os quais, obviamente, considero execráveis, mas é inegável que o Duce sabia o que estava fazendo, enquanto sua imitação barata daqui tropeçou nas próprias pernas o tempo todo).
Então, tendo mudado sua imagem para a de Jairzinho Paz & Amor, ele realmente ganhará algum fôlego no curto prazo, mas o desfecho já acabaria sendo, em tempos normais, o mesmo de quando aqueles outros partidos e políticos apostaram nos currais eleitorais e nas esmolas com fins eleitoreiros para se manterem no poder a partir dos votos dos grotões: a debacle, para usar um termo do agrado do Dalton.
Há, contudo, uma diferença fundamental: nunca as perspectivas econômicas foram tão ruins quanto as de agora, portanto as etapas deverão ser queimadas, desta vez, com rapidez bem maior.
Em meio à depressão terrível que já começou e tende a chegar ao auge em 2021, desembestar os gastos públicos sem ter com que bancá-los será receita certa para uma inflação maior ainda que a do último mês do desgoverno Sarney: 84,3% em março/1990 (a inflação anual de 1989 havia sido de 1.764%!).
Em meio à depressão terrível que já começou e tende a chegar ao auge em 2021, desembestar os gastos públicos sem ter com que bancá-los será receita certa para uma inflação maior ainda que a do último mês do desgoverno Sarney: 84,3% em março/1990 (a inflação anual de 1989 havia sido de 1.764%!).
Como diria o Bob Dylan, uma tempestade vai desabar sobre nós no ano que vem (a hard rain's a-gonna fall). Esperem e verão.
Ou, melhor ainda: mantenham os seus salva-vidas ao alcance das mãos! (por Celso Lungaretti)
Ou, melhor ainda: mantenham os seus salva-vidas ao alcance das mãos! (por Celso Lungaretti)
Nenhum comentário:
Postar um comentário