segunda-feira, 10 de agosto de 2020

A PANDEMIA É A RESPOSTA BIOLÓGICA DO PLANETA ÀS EMERGÊNCIAS ECOLÓGICAS E SOCIAIS NEGLIGENCIADAS. IMPERDÍVEL!!!

A melhor interpretação da crise sanitária que nos assola, de quantas tomei conhecimento até agora, é a do físico e ambientalista austríaco Fritjof Capra, 81 anos.

Diretor do Centro de Alfabetização Ecológica (sediado em Berkeley, EUA), ele é autor de best-sellers internacionais como O Tao da Física e Ponto de Mutação, nos quais propôs uma reflexão em profundidade sobre como a humanidade e suas ações estão conectadas com os ciclos de transformação da vida no planeta.

Da entrevista que ele deu por e-mail à repórter Fernanda Mena, publicada na edição desta 2ª feira (10) da Folha de S. Paulo, fiz a síntese abaixo das respostas mais significativas, que recomendo fortemente aos leitores. (o editor)
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"A ILUSÃO DE UM CRESCIMENTO ILIMITADO NUM PLANETA FINITO É O DILEMA FUNDAMENTAL QUE PERMEIA NOSSOS PROBLEMAS GLOBAIS"
O coronavírus deve ser visto como uma resposta biológica de Gaia, nosso planeta vivo, à emergência social e ecológica que a humanidade criou para si própria. A pandemia emergiu de um desequilíbrio ecológico e tem consequências dramáticas por conta de desigualdades sociais e econômicas.

Cientistas e ativistas ambientais há décadas vêm alertando para as terríveis consequências de sistemas sociais, econômicos e políticos insustentáveis. Mas até agora as lideranças corporativas e políticas teimaram em resistir a esses alarmes. 

Agora elas foram forçadas a prestar atenção, já que a Covid-19 trouxe os avisos de antes para a realidade de hoje.

Com a pandemia, Gaia nos trouxe lições valiosas capazes de salvar vidas. As questões são:
— teremos a sabedoria e a vontade política necessárias para ouvir essas lições? 
— mudaremos do modelo de crescimento econômico indiferenciado baseado no extrativismo para outro de crescimento qualitativo e regenerativo? 
— vamos substituir combustíveis fósseis por formas renováveis de energia que deem conta de todas as nossas necessidades? 
— vamos substituir nosso sistema centralizado de agricultura industrial com uso intensivo de energia por um sistema orgânico de agricultura regenerativa, familiar e comunitária? 
— vamos plantar bilhões de árvores capazes de retirar o CO2 da atmosfera e de restaurar diferentes ecossistemas do mundo?

Se temos todo o conhecimento científico e tecnológico para construirmos um futuro sustentável, porque não o fazemos simplesmente?
A densidade populacional excessiva favorece as pandemias e precisa ser reduzida
A crença num progresso contínuo e, em particular, a obsessão de nossos economistas e políticos com a ilusão de um crescimento ilimitado num planeta finito constituem o dilema fundamental que permeia nossos problemas globais.

Isso equivale ao choque entre o pensamento linear e os padrões não lineares da nossa biosfera —a interdependência dos sistemas ecológicos e os ciclos que constituem a teia da vida. Essa rede global altamente não linear contém inúmeras alças de retroalimentação por meio das quais o planeta se regula e se equilibra.

Nosso sistema econômico atual, ao contrário, parece não reconhecer a existência de limites.
Já passou da hora de eliminarmos os combustíveis fósseis

Nele, um crescimento perpétuo é perseguido incessantemente através da promoção do consumo excessivo e de uma economia do descarte que usa de maneira extravagante tanto recursos como energia, aumentando a desigualdade econômica.

Esses problemas são exacerbados pela emergência climática global, causada pelas tecnologias de uso intensivo de energia e baseada em combustíveis fósseis.

Valores humanos, no entanto, podem mudar porque eles não são leis naturais. A mesma rede eletrônica de fluxos financeiros pode ter nela embutidos outros valores. O ponto crítico não é a tecnologia, mas a política.

Para prevenir o alastramento da pandemia, agora e no futuro, teremos de reduzir densidades populacionais excessivas, como ocorre no turismo de massa e em condições de vida marcadas pela superlotação. Ao mesmo tempo, necessitamos de cooperação global.

O aprofundamento das desigualdades é uma característica inerente ao sistema econômico capitalista de hoje. O chamado mercado global é, em verdade, uma rede de máquinas programadas de acordo com o princípio fundamental segundo o qual ganhar dinheiro tem primazia sobre direitos humanos, democracia, proteção ambiental.
Justiça social é questão de vida ou morte em pandemias

A justiça social se torna uma questão de vida ou morte durante uma pandemia como a da Covid-19. E ela só pode ser superada por meio de ações coletivas e cooperativas.

Quando nós entendemos que compartilhamos não apenas as moléculas básicas da vida, mas também princípios elementares de organização com o restante do mundo vivo, percebemos o quão firmemente estamos costurados em todo o tecido da vida.

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