quinta-feira, 28 de maio de 2020

O DESCONTROLE DO BOLSONARO TEM TUDO A VER COM A 'TEMPESTADE PERFEITA' QUE ESTÁ PRESTES A DESABAR SOBRE ELE

ricardo kotscho
BOLSONARO SE UNE A ARAS NA GUERRA CONTRA O STF
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"Ilegal e despropositada" (Jair Bolsonaro) 

"Desnecessária e desproporcional" (Augusto Aras)

Quase com as mesmas palavras, o presidente e o procurador-geral da República reagiram ao cerco do Supremo Tribunal Federal contra o governo desencadeado nos últimos dias. 

Inconformado com a operação da Polícia Federal determinada pelo ministro Alexandre de Moraes contra seus aliados no inquérito que investiga o "gabinete do ódio", o presidente Jair Bolsonaro convocou uma reunião de emergência do ministério para declarar guerra ao STF, no final da tarde desta 4ª feira (27). 

Por sugestão do general Augusto Heleno, chefe do GSI, a primeira reação será não atender à convocação de Moraes para o ministro da Educação, Abraham Weintraub, prestar depoimento no inquérito que apura suas declarações na reunião ministerial de 22 de abril, em que pediu a prisão de todos os ministros do STF, depois de dizer que em Brasília só tem canalhas e ladrões.  

Desta vez, imagina-se, a reunião não deverá ser gravada.

No centro do conflito entre os dois poderes está, mais uma vez, um dos filhos do presidente, Carlos Bolsonaro, o 02, apontado nos depoimentos de parlamentares já ouvidos no inquérito como o articulador e chefe do gabinete do ódio, o que, de resto, não é segredo para ninguém em Brasília. 

Definido por Alexandre de Moraes como "associação criminosa", o grupo de assessores, parlamentares e empresários que financiam a fábrica de fake news —criada ainda na campanha eleitoral e que agora funciona no Palácio do Planalto— é investigado pela disseminação de mensagens de ódio contra integrantes do STF e outras instituições. 

Nas voltas que a vida dá, o mesmo esquema montado por Carlos Bolsonaro nas redes sociais para dar suporte à campanha de Bolsonaro desde 2014, quando ele lançou a candidatura para presidente, agora pode ser o começo do fim do seu governo, porque a investigação no STF abrange o período entre julho de 2018 e abril de 2020. 

As provas colhidas neste inquérito poderão subsidiar ações que correm no Tribunal Superior Eleitoral. Esta semana, o novo presidente do TSE, ministro Luis Barroso, já anunciou que pretende levar esses processos a plenário nos próximos dias. 

Para Bolsonaro, que já é alvo de investigação no STF sobre as denúncias de Sergio Moro por tentativa de interferência na Polícia Federal, pode ser a tempestade perfeita, antes de completar um ano e meio de governo. E, para completar, Alexandre de Moraes será um dos novos ministros titulares do TSE.  
A rede de proteção de Bolsonaro para enfrentar a tormenta, além dos militares e do Centrão, agora pode contar também com o procurador-geral Augusto Aras, que tem demonstrado a maior boa vontade com o presidente. Em retribuição, esta semana Aras recebeu uma visita surpresa de Bolsonaro.

Vale lembrar que, por diversas vezes, após a vitória, o pai Bolsonaro atribuiu ao filho Carlos os maiores méritos por ter chegado ao poder, justamente pelo fato de ter montado sua rede social para detonar adversários com mentiras e manter a moral da tropa aliada, recrutada nos quartéis e nos movimentos de extrema-direita. 

Vida que segue. (por Ricardo Kotscho)

4 comentários:

Anônimo disse...

Caro , CL

Sugiro a leitura do texto "O fetiche da farda" no quadro Opinião do Elpaís brasil.

Coincide com meu ponto de vista do atual quadro político: os milicos estão lamentavelmente no controle da situação.

Voltamos a uma ditadura, desta vez disfarçada, mas tão ou mais nociva.

Obs.: não li nada parecido em nenhum partido dito de esquerda, o que é muito suspeito.

Abs

celsolungaretti disse...

Pelo contrário, eu diria que se trata da opinião majoritária da esquerda. E eu mantenho a minha avaliação de que eles não são idiotas a ponto de quererem levar a culpa por uma tragédia humanitária e pela Grande Depressão do século 21.

Lembre-se: existiram os milicos de 1964 e também os de 1938, que frustraram o putsch integralista; os de Pinochet e os capitães de abril em Portugal; o chavismo, o nasserismo, etc.

É mecanicismo apostar em que sempre agirão como em 1964. Aliás, paradoxalmente, eles impuseram a ditadura e eles terminaram com ela, pois o final teria tardado muito mais se Geisel não tivesse exonerado sucessivamente o comandante do II Exército e o ministro do Exército, que contestavam sua chamada "abertura".

Quanto à esquerda atual, deveria é deixar de procurar pretextos para permanecer de braços cruzados e participar da remoção do Bozo, caso contrário o esquema de forças que prevalecerá depois será exclusivamente parido pela burguesia.

Para mim, o Bozo já é um cadáver político que logo será levado pelo rabecão institucional. E, se não começarmos a nos mexer, o que virá em seguida será um arranjo tipo Nova República, que nos fez ficarmos chupando o dedo nos sucessivos governos do Sarney, Collor, Itamar e FHC em dose dupla.

Corremos o sério risco de faltarmos de novo ao encontro com a História.

Anônimo disse...

Caro, CL

Desculpe-me, não quero desanimar nem desmotivar ninguém, mas tudo isso aqui no Patropi que chamam de esquerda não passam de um arremedo.

Vou dizer o português claro: essa esquerda consentida pela globo, agora é a esquerda consentida pelos generais. Tudo com o rabo preso e com medo. Fizeram um grande acordão e traíram o povo brasileiro. Falei...

celsolungaretti disse...

Durante a ditadura, um companheiro nordestino se queixava de que, após termos pegado em armas e nos deixado exterminar, só lhe sobrara "a borra do fundo do tacho" para tentar reerguer a esquerda.

O Vandré disse a mesma coisa, de uma forma mais elegante: "Se tenho a poeira/ como companheira/ faço da poeira o meu camarada".

O diabo é que só nos resta escolhermos entre tentar fazer algo com "a borra" e "a poeira" ou ficarmos vendo a direita moldar este país à sua imagem e semelhança, depois que der o inevitável pé na bunda do Bozo.

Eu vou insistir até o fim com a matéria-prima que a História me disponibiliza. Estou muito velho para ficar esperando surgir outra melhor.

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