Face à enxurrada de críticas que despencou sobre o Lula por haver dito que o coronavírus permitiu que os cegos enxergassem (vide aqui), ele mais tarde se desculpou, afirmando que sua frase havia sido "totalmente infeliz" ao dar a impressão de que ele estaria "comemorando a pandemia".
Mas, no afã de justificar-se, fez uma verdadeira profissão de fé estatólatra, mostrando mais uma vez que está muito longe dos valores originais marxistas e muito próximo dos desvios autoritários que os descaracterizaram no século passado: "Eu queria dizer que o Estado –e somente o Estado– é capaz de resolver questões que o mercado não vai resolver".
Parece jamais lhe passar pela cabeça que tais questões possam ser resolvidas pela cooperação solidária e voluntária dos seres humanos, sem patrão e sem Estado.
Parece jamais lembrar-se do magnífico exemplo dos mutirões do seu Nordeste natal, como se o patrão capitalista só pudesse ser substituído pelo Estado patrão e ao povo fosse vedado, por algum 11º mandamento que não é encontrado em Bíblia nenhuma, dispensar ambos os patrões.
Parece jamais lembrar-se do magnífico exemplo dos mutirões do seu Nordeste natal, como se o patrão capitalista só pudesse ser substituído pelo Estado patrão e ao povo fosse vedado, por algum 11º mandamento que não é encontrado em Bíblia nenhuma, dispensar ambos os patrões.
As minha é bem diferente da do Lula: homens livres de todos os grilhões, acostumado a resolverem seus problemas em conjunto, ajudando uns aos outros, e que não sofressem a brutal exploração do capitalismo brasileiro, adeririam de pronto ao distanciamento e às demais medidas necessárias para se reduzirem a devastação e as perdas humanas causadas pela Covid-19.
E, o mais importante: teriam condições materiais para fazê-lo, pois não dependeriam do trabalho do dia para botarem comida na mesa familiar à noite nem viveriam amontoados em moradas tão precárias e exíguas, verdadeiros acintes à dignidade do ser humano.
Em sua estreiteza de visão de quem não ousa admitir o imperativo da superação do capitalismo, Lula esquece que, com o quadro trágico da miserabilidade que é imposta à maioria do povo brasileiro, mesmo que o SUS não houvesse sido sucateado seria impossível reduzir-se substancialmente a abrangência da contaminação e a letalidade da peste (por Celso Lungaretti)
7 comentários:
Caro, CL
Desculpe-me pelo "fora de pauta", mas depois do editorial do Estadão de hoje (21/05 - A Pandemia da ignorância), acho que o bozo cai...
Nem a nossa esquerda cirandeira publicaria um manifesto tão veemente.
Abs
Companheiro,
eu publico aqui editoriais contundentes dos jornalões porque, quando eles começam a pipocar, são um indício de que o poder econômico já chegou ao consenso sobre uma virada de mesa qualquer. Ou seja, a importância deles não é pelo que afirmam, mas pela forma como afirmam.
No sábado passado, p. ex., o da Folha de S. Paulo bateu tão pesado no desgoverno atual que cheguei a pensar que o ato final estivesse iminente. Mas, a explicação era outra: o jornal se preparava para manchetear, no domingo, as revelações do novo delator, que tende a ser o Pedro Collor na vida do Bozo. Na minha avaliação, a remoção do bode da sala agora será questão de semanas.
"A pandemia da ignorância" não é um editorial, mas sim um artigo de colunista importante n'O Estado de S. Paulo: o Eugênio Bucci. O clima é mesmo de fim de governo, mas não permite concluirmos que a queda do Império Miliciano ocorrerá por estes dias.
Valeu o toque!
DE RESTO, SE VOCÊ OU QUALQUER OUTRO LEITOR COM ACESSO AO SITE DO ESTADÃO FIZER A GENTILEZA DE COPIAR NA ÍNTEGRA AS MATÉRIAS MAIS IMPACTANTES DO VELHO JORNALÃO E AS POSTAREM AQUI COMO COMENTÁRIOS OU AS ENVIAREM NO CORPO DE E-MAIL PARA lungaretti@gmail.com, FICAREI MUITO GRATO.
Como trabalhei lá, não me apetece fazer assinatura e ajudar a encher os bolsos dos meus ex-patrões.
Creio que dá para notar que eu tenho acesso ao site da Folha de S. Paulo, mas isto se deve a ter sido um dos primeiros assinantes do UOL quando o serviço foi lançado. Naquele início, os assinantes recebiam, como bônus, o direito a acessar gratuitamente os sites da Folha de S. Paulo e da veja.
Quando a Abril se retirou da sociedade, jogou sua promessa no lixo.
A Folha permaneceu e até hoje honra o compromisso assumido.
Realmente, quem assina é Eugênio Bucci, embora, pelo leiaute do quadro Opinião, seja fácil nos confundir com o editorial.
Mas tudo leva a crer que as opiniões coincidam.
Sabemos que o Estadão representa a voz da direita quatrocentona e, por isso, é um bom indicador de que essa direita já se encheu do bozo.
Quanto a isto, concordo inteiramente contigo.
A esquerda anda tão inofensiva que o grande capital não tem motivo para temê-la, pelo menos por enquanto.
E as palhaçadas do Bozo atrapalham os negócios com o exterior nesta época de vacas magras, além de sempre embutirem o risco de uma explosão social no Brasil.
Então, tudo nos leva a crer que eles não já estejam discutindo sobre SE devem descartar o Bozo, mas sim COMO e QUANDO.
O Lula tem uma preguiça mental para fazer autocrítica impressionante. Caso ele tenha preguiça em avaliar o stalinismo russo, pelo menos avalie no que resultou o patrão-estado aqui do nosso lado na Venezuela e Cuba. Tal discurso ultrapassado, assim como o discurso liberal dos "bem-intencionados" direitistas, só cola para quem acredita em fada-madrinha.
Não sei se é só preguiça mental. Em março de 1989, no comecinho da campanha presidencial, eu o entrevistei para a Agência Estado. Ele já defendia com unhas e dentes as estatais da privatização. Perguntei-lhe como ele impediria que elas continuassem sendo cabides de emprego para os apaniguados de políticos e zona franca para as maracutaias.
Ele respondeu que, eleito presidente, ele as colocaria sob o controle de comissões de funcionários, "que saberiam melhor do que ninguém como evitar a roubalheira".
Retórica atraente, não? E por que ele não fez isto quando ganhou a eleição de 2002? As boas intenções evaporaram nesse meio tempo?
Oportunistas vivem de retórica. A retórica agora é engradecer o papel do estado. Em 2002 na "carta aos Brasileiros" (leia-se "carta aos capitalistas") o estado era um zé-ninguém. Poder, gabinetes e serviçais no Alvorada é tudo que eles desejam.
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