quarta-feira, 8 de abril de 2020

NÓS PODEMOS E DEVEMOS SOBREVIVER SEM A ESCRAVIZAÇÃO DO DINHEIRO!

dalton rosado
A CRISE SANITÁRIA VAI PASSAR (E NOS DEIXARÁ LIÇÕES VALIOSAS); A CRISE ECONÔMICA, NÃO!
Em decorrência do grande fluxo de locomoção humana intercontinental da chamada modernidade (que não é tão moderna assim, sob o ponto de vista humano) e do alto grau de contágio do covid-19, estabeleceu-se uma pandemia mundial como nunca antes havia ocorrido.

A contaminação se alastra como o vento, e isso significa um elevado número de mortes mundo afora em dramáticos números absolutos, ainda que os números relativos sejam menos expressivos. Mas, a ameaça que paira sobre todos nós é terrível.

Temos a certeza de que, caso não descubramos uma vacina eficaz e de rápido processo de autorização sanitária de uso, produção em larga escala e distribuição, seremos obrigados a conviver com a pandemia por longo período e grande abrangência  – perspectiva das mais indesejáveis

Mas a pandemia vai passar em determinado momento, seja pela vacina capaz de estancar a contaminação ou pelo grande contágio coletivo em escala planetária, que acabará imunizando a maior parte da população mundial, a qual, apesar de contaminada, sobreviverá ao ataque virótico.

A segunda hipótese é a mais nefasta, pois aí a doença poderá atingir centenas de milhões de pessoas mundo afora, principalmente quando se alastrar para a grande maioria da população mundial, que reside nos países pobres da periferia dos grandes centros capitalistas mundiais.

Além da pandemia específica do covid-19, as dificuldades hospitalares derivadas da contaminação mundial implicará uma precarização dos atendimentos médicos de outras doenças que podem até aumentar em razão do empobrecimento geral. O quadro médico-sanitário mundial é aterrador.

A pandemia, ademais, tende a ser letal para a economia mercantil, sendo este o drama exponencial de anqueiros, industriais, grandes comerciantes, empresas ligadas à economia digital, vendilhões nos templos religiosos, rentistas e, principalmente, do segmento político, serviçal da ordem econômica da qual tira o seu sustento submisso.

Os anticapitalistas emancipacionistas, defensores de uma ordem de produção social diferenciada da mercantil, apesar de serem sensíveis ao drama humano que vivemos (a morte de nossos semelhantes será sempre a primeira das nossas preocupações sociais), NÃO lamentam a crise econômica irresolúvel sob os critérios ora estabelecidos.

Não há por que deplorarmos a depressão econômica pelo seu aspecto meramente mercantil (aí excluído o drama humano dela decorrente) como o fazem todos os que pensam dentro da caixa, ou seja, que somente conseguem raciocinar a partir da produção de mercadorias (sensíveis ou não, como as mercadorias serviços) como única forma possível de socialização.

Ao invés de lamentarmos a depressão econômica, que já vinha sendo anunciada antes mesmo do novo coronavírus aparecer, denunciamos a mesma como uma lógica contraditória na sua essência constitutiva, que de há muito vem sendo agravada pelo impasse funcional entre forma e conteúdo, que é o que trava a continuidade sustentável e viabilidade mínima da relação mercantil ora vigente.

Nesse ponto a pandemia nos dá uma saudável lição, como a confirmar o dito popular segundo o qual não há mal que não traga um bem.

Além de, mediante uma ameaça coletiva, fazer aflorar a humanidade que temos dentro de nós, demonstra-nos que podemos nos safar independentemente da produção de valor (dinheiro e mercadorias).

Mais: demonstra-nos não só que podemos nos safar por nós mesmos, sem dinheiro e mercadorias, como também que esta pode ser nossa única saída diante de uma paralisia de produção de mercadorias provocada pelo inviabilidade em curso, em sua maior parte, da realização do lucro, móvel utilitário primordial da relação social mercantil.

A mercadoria não visa a satisfação de necessidades, mas apenas faz uso destas últimas para o seu desiderato escravista.

Paradoxalmente, é justamente a meca do capitalismo que se constitui hoje no centro da pandemia mundial, com quase dois milhares de mortes diárias. Solidarizamo-nos com o povo dos Estados Unidos, que também é vítima do capitalismo desenfreado que por lá também dita ordens, como o faz mundo afora.

A possibilidade do despertar coletivo para uma produção social fora dos grilhões da produção de mercadorias (leia-se produção de valor econômico) é o grande pavor de capitalistas, governantes e de toda a estrutura institucional bem aquinhoada por privilégios graças aos sacrifícios impostos à grande maioria da população que, embora exaurida economicamente, é quem os sustenta.

Vemos com satisfação que já existem indústrias, lojas, restaurantes, padarias  e pessoas simples da população empenhadas no suprimento de carências sociais. 

Caso da produção sem fins lucrativos de álcool, máscaras artesanais, alimentos, serviços médicos, etc., como se quisessem dizer (mesmo sem o compreenderem direito): nós podemos e devemos sobrevier sem a escravização do dinheiro! (por Dalton Rosado)

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