domingo, 5 de abril de 2020

ESTARÃO SUBMETENDO O BOZO A UMA "INTERDIÇÃO BRANCA"? ISTO VAI EVITAR QUE ELE CONTINUE DESTRUINDO O PAÍS?

ricardo kotscho
AFINAL, QUEM GOVERNA O BRASIL?
Já havia muitas evidências, mas na última semana uma grande dúvida percorreu as principais colunas de política da imprensa brasileira: se Jair Bolsonaro não governa mais, quem governa o Brasil em meio à pandemia do coronavírus?

O primeiro a fornecer uma resposta foi Luis Nassif, que deu em manchete no seu site: Acordo das Forças Armadas coloca Braga Netto como presidente operacional.

O que é isso? Nunca tinha ouvido falar nessa expressão, mas o colega deu detalhes: 
"Oficialmente, o general de Exército Braga Netto assumiu o comando do governo Bolsonaro em cargo que os meios militares estão chamando de Estado-Maior do Planalto".
Esse Estado-Maior é formado pelos generais palacianos, uma espécie de junta militar informal, que cuida da administração, enquanto o presidente vai para a galera no cercadinho do Alvorada para encontrar devotos da sua seita, brigar com os jornalistas e xingar os governadores. 

Na retaguarda, fica o general da reserva Villas Bôas, o fiador da candidatura de Bolsonaro, que o presidente foi visitar na 2ª feira (30) em sua casa, no Setor Militar Urbano, em busca de apoio e de conselhos.

Pouco depois, Villas Bôas publicou um post no Twitter manifestando seu apoio ao presidente. Numa entrevista ao Estadão, o general revelou que Bolsonaro acha que está todo mundo contra ele, principalmente a mídia, nacional e internacional.

Por que será? A maior prova do esvaziamento do poder de Bolsonaro foi dada na 6ª feira (3) por Thais Oyama, no UOL, ao divulgar a agenda do presidente naquele dia.

Nela havia apenas duas audiências previstas na parte da manhã, com os ministros terraplanistas Ernesto Araújo, de Relações Exteriores, e Abraham Weintraub, da Educação, os dois indicados pelo guru Olavo de Carvalho.

Braga Netto assumiu oficialmente suas novas funções na 2ª feira (30), quando passou a comandar a mesa da entrevista coletiva com ministros encarregados de prestar contas do trabalho do governo no combate à pandemia.
Foi uma forma também de tirar o protagonismo do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, transferindo a coletiva diária para o Palácio do Planalto.

Não adiantou muito porque, na hora das perguntas, a maioria é dirigida a Mandetta, já que os outros não têm muito o que dizer, além de sempre elogiar Bolsonaro, que não participa do ritual.

Nos outros países, quem dá orientações e presta contas diariamente à população são os próprios presidentes ou primeiros-ministros, mas aqui o presidente prefere os monólogos, em rede nacional de TV, ou em entrevistas exclusivas para a imprensa amiga (Ratinho, Datena, etc).

O chefe da Casa Civil pouco fala nessas entrevistas e se limita ao papel de mestre de cerimônias, apenas passando a palavra aos ministros. Depois de alguns atritos com os repórteres, na última entrevista da semana o general chamou três deles para elogiar suas perguntas.

O papel de figurante do presidente em seu próprio governo ficou claro no novo Datafolha em que 51% dos entrevistados responderam que Bolsonaro mais atrapalha do que ajuda no combate ao vírus.

Na semana em que mais bombardeou o ministro da Saúde, para acabar com o isolamento social e reabrir o comércio, outro número da pesquisa deve ter preocupado Bolsonaro: enquanto Mandetta alcançava 76% de aprovação, o índice do presidente ficou em 33%, o núcleo duro do seu eleitorado que lhe permanece fiel.

Presidente tutelar do Brasil?
Quer dizer, para mais de dois terços da população, que não conhece os meandros do poder no Palácio do Planalto, o ministro da Saúde é a figura mais importante e bem aprovada do governo.

Com índice também bastante superior ao do presidente, com 57% de aprovação, aparece o governador João Doria, de São Paulo, que pediu para a população não seguir as orientações de Bolsonaro e fez campanha para todos ficarem em casa.

Dividido entre a ala militar e a ala ideológica dos filhos olavistas, Bolsonaro se equilibra na corda bamba, cada vez mais isolado e fragilizado no Palácio do Planalto, sem ter muito o que fazer.

O brasileiro elegeu um presidente da República, mas é comandado por um vereador, disse ao Painel da Folha de S. Paulo o deputado Alessandro Molon, líder da minoria na Câmara, referindo-se ao filho Carlos Bolsonaro, que agora ganhou um gabinete no mesmo andar do pai.

A única iniciativa concreta que Bolsonaro tomou durante a semana, em que o número de mortes e de infectados pelo coronavírus bateu recordes no Brasil, foi convocar para este domingo um jejum nacional com as igrejas evangélicas, que lhe deram a ideia.

Com tanta gente já passando fome, não vai fazer muita diferença.

O clima em Brasília é de fim de feira, hora da xepa.

Bom domingo. (por Ricardo Kotscho)
"Eu sei que é difícil defender uma política impopular"

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