segunda-feira, 13 de abril de 2020

ENTREVISTA DE MANDETTA NO 'FANTÁSTICO' ENCURRALA BOLSONARO: OU SE AVACALHA DE VEZ OU SE ARRISCA A PERDER O CARGO.

Em Goiás, desacreditando o uso da máscara
Chegando aos 70 anos, desde os 17 defendo causas justas e passei décadas ganhando meu pão como jornalista profissional, duas atividades que me ensinaram bem a diferenciar os heróis de verdade dos heróis de ocasião.

Herói de verdade era, p. ex., o Leonel Brizola, que não levou em conta as dificuldades da empreitada quando decidiu encabeçar a resistência para evitar que o mandato legítimo do vice João Goulart fosse usurpado em 1961, quando o presidente Jânio Quadros renunciou.

Tinha só o Rio Grande do Sul ao seu lado, mas foi à luta e, formando a Rede da Legalidade, conquistou apoios suficientes para forçar os golpistas a retrocederem, aceitando uma solução intermediária: Jango assumiria, mas com seus poderes limitados pelo parlamentarismo.

Quando o mesmo esquema, com alguns aperfeiçoamentos, foi desencadeado em 1964, ele se dispôs a resistir outra vez, mas Jango preferiu escafeder-se para o Uruguai e tornou isto inviável: ninguém arriscaria a vida por um presidente que foi o primeiro a colocar-se a salvo.

herói de ocasião é o ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, que sempre esteve certo quanto ao que deveria e deve ser feito contra a pandemia, seguindo o exemplo praticamente unânime das nações civilizadas, mas várias vezes executou recuos estratégicos e/ou botou panos quentes para não bater de frente com o tosco e tresloucado presidente miliciano.

No entanto, no Fantástico deste domingo (12) Mandetta rugiu, ao afirmar que espera "uma fala unificada" do governo, pois o atual desencontro entre o médico por formação e o leigo metido a infectologista "leva para o brasileiro uma dubiedade, ele não sabe se ele escuta o ministro da Saúde ou se escuta o presidente da República".

Sem mencionar nome, mas flagrantemente aludindo às últimas palhaçadas presidenciais, Mandetta aplicou uma merecida descompostura no principal negacionista da Covid-19 no mundo inteiro:
"Quando você vê pessoas entrando em padarias, em supermercados, fazendo aquelas filas, uma atrás da outra, encostadas, grudadas, pessoas fazendo piqueniques em parques, aglomeradas. Isso é claramente equivocado"
Também em indisfarçável contraposição às falas irresponsáveis de Bolsonaro, segundo quem "parece que está começando a ir embora a questão do vírus", Mandetta lhe deu outro pito, ao alertar que as projeções do Ministério da Saúde são de que o Brasil passará por "uma etapa de aceleração descontrolada de casos em maio" e que a desaceleração tende a ocorrer só daqui a dois meses, em meados de junho:
"Serão de dois a três meses de muito questionamento das práticas. Obviamente o Ministério da Saúde vai ser o mais questionado. Então as próximas semanas agora é o comportamento da sociedade que dita".
Estou inteiramente de acordo com a sinceridade dominical e o destemor inusual do Mandetta, mas não tratarei meus leitores como ingênuos: um herói de ocasião como ele jamais ousaria ir tão longe se não tivesse as costas quentes.

E, como foi no Fantástico que ele colocou no seu devido lugar um presidente que não se dá ao respeito, basta que somemos 2 e 2 para acharmos quatro: a TV Globo (e quem mais com ela estiver nessa jogada de poderosos) parece ter chegado à conclusão de que está na hora de o Brasil se livrar do Bolsonaro. 

Agora, ou ele exonera Mandetta ou passa recibo de que sua famosa caneta Bic virou peça decorativa. E se o demitir, há enorme chance de vir a ser seu último ato num cargo do qual nunca esteve à altura.

Permito-me considerar pitoresca tal situação, uma verdadeira ironia da História com relação ao papel desempenhado pela Globo noutras ocasiões, mas não há como negarmos que é praticamente impossível um país fragilizado como o nosso enfrentar simultaneamente duas crises tão devastadoras como a sanitária e a econômica, tendo um presidente cada vez mais descontrolado, em parafuso, a sabotar os esforços dos adultos. (por Celso Lungaretti)

2 comentários:

Anônimo disse...

Caro, CL

Não se iluda. Este (des)governo é clara e propositalmente ambíguo em todos os seus atos.

É a tática dos milicos : balões de ensaio, atos e falas dúbias, mas sempre, sempre favorecendo o grande capital com dinheiro novo, do orçamento, e enganando os pobres com seus próprios dinheiros (fgts, pis ) e com achatamento salarial e redução de direitos.

Enquanto essa ambiguidade distrai as atenções, o dinheiro vai sumindo do bolso dos pobres e remediados e até da classe média.

Veja um exemplo dessa ambiguidade, a MP 945, editada dia 04/04/20 pelo bozo. A pretexto da quarentena, essa MP, no parágrafo 1º do art. 4º, cerceia o direito de greve e do movimento sindical.

Enquanto ele aparece nas ruas com o discurso da gripezinha, vai editando legislação a favor do grande capital e descendo o porrete nos trabalhadores. Tudo isso com o pretexto da pandemia.

Agora a pergunta inevitável: você acha que o grande capital é contra o bozo ?

celsolungaretti disse...

Essas pequenas vantagens para o grande capital são anuladas e superadas pelo prejuízo que o ostracismo praticamente mundial nos causa.

Na ponta do lápis, o Bozo agora é um estorvo para o setor, digamos, mais moderno do capitalismo. Só convém aos vira-latas que continuam capitalistas selvagens em pleno 2020. E não são estes que detêm o verdadeiro poder.

Resumo da opera: ele, vai, sim, ser removido pelo grande capital. O Mourão e o Maia são ideais para eles. O Bozo é um fanático maluco que está a caminho de provocar uma explosão social. E isto os milicos não querem, muito menos em meio a uma pandemia e a uma recessão.

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