Como os leitores poderão constatar ouvindo a canção lá embaixo, a inspiração para este post me veio de uma música de 1966 – "O anúncio", que César Roldão Vieira compôs para o espetáculo musical A criação do mundo segundo Ary Toledo e chegou a ser apresentada no programa O fino da bossa (é da Elis Regina a voz que se ouve chamando-o para o palco).
Mas, a indignação é toda minha, neste festival afrontoso de iniquidades de 2020.
É que acabo de ler no UOL a notícia do lançamento de três modelos de um novo iPhone da Apple por 3.700, 4.000 e 4.500 reais. Em meio a tanta desgraça, ainda há quem se interesse por tais futilidades?!
Quantas vidas não seriam salvas se as necessidades (e, desta vez, as emergências) coletivas prevalecessem sobre a insensibilidade egoísta que o capitalismo martela dia e noite na cabeça das pessoas!
Veem o irmão estrebuchando na sua frente, mas nunca abrirão mão dos seus privilégios, do seu status e do sagrado direito de desfrutar as geringonças em troca das quais se desumanizam até se tornarem caricaturas de seres humanos.
E as empresas de planos de saúde, quando grassa a peste, recusam uma compensação governamental para não deixarem imediatamente sem cobertura os inadimplentes, pois a consideraram insuficiente para contrabalançar o que perderão.
Os que neles confiaram perdem a vida, mas os Strooges da medicina mercantilizada não abdicam de um centavo de suas receitas. Torço para que, após serem abandonados à própria sorte no momento de maior aflição, os cidadãos aprendam a prescindir desses traidores do juramento de Hipócrates, condenando-o o máximo deles à falência!
E os hospitais particulares que estão demitindo profissionais de saúde porque, com a necessidade de atender aos doentes da Covid-19, não estão podendo realizar as cirurgias eletivas que custam os olhos da cara e lhes garantiam a fatia principal de seus lucros!
Fico imaginando seus dirigentes à testa de campos de extermínio nazistas, cuidando de obter os melhores preços para o sabão fabricado com a gordura corporal dos prisioneiros exterminados...
A saúde sendo encarada como mercadoria é uma das aberrações mais repulsivas do capitalismo.
Enfim, deprime-me muito que só mesmo um vírus assassino tenha conseguido abrir um pouco os olhos da humanidade para a verdade sobre o capitalismo: ele nos conduz insensivelmente para a morte e, se não começarmos a reagir, morreremos como moscas. Como estamos morrendo agora. (por Celso Lungaretti)
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