sábado, 28 de março de 2020

DE VOLTA ÀS TREVAS: O EVANGELISMO LANÇA O BRASIL NUMA NOVA IDADE MÉDIA

Ao contrário de todos os cientistas do mundo, alguns pastores evangélicos, entre eles Silas Malafaia e Edir Macedo, garantem não haver nenhum risco de transmissão do coronavírus nos seus templos, durante as pregações bíblicas, cantos de hinos religiosos e testemunhos de fé. 

Como ninguém vai conferir os nomes dos mortos ou das pessoas internadas por coronavírus com os dos membros dessas igrejas evangélicas, o risco de um desmentido é remoto.

Como se não bastasse tal afirmação mentirosa, a Justiça também parece compartilhar dessa crença e oferece sua ajuda. Foi assim que, na semana passada, contra tudo e contra todos, um juiz do Rio de Janeiro decidiu ignorar a recomendação de confinamento da Organização Mundial da Saúde e de todos os países do mundo. 

Malafaia tinha sido autorizado pelo juiz, contra decisão do governador do Rio de Janeiro, a continuar reunindo os fiéis em suas igrejas, certo de que Deus os protegeria do coronavírus. Diante da má repercussão dessa vitória judicial, foi o próprio pastor quem recuou, afirmando ficarem abertos os templos, mas sem realização de cultos coletivos. O episódio mostra que o Brasil descobriu a máquina do tempo e decidiu retornar à Idade Média.

O recuo de Malafaia evitou um certo caos, pois a exceção jurídica brasileira iria incentivar outras igrejas, não só evangélicas, a tentarem se beneficiar da mesma decisão judicial para suas comunidades terem livre ingresso em seus templos e cultos, missas e sessões. Sem medo do vírus porque seriam protegidas por Deus, conforme as mesmas crendices medievalescas que no passado eram tão danosas para a Europa, cuja população morria como moscas mesmo com o uso de água benta.

E, nesta altura, qual deverá ser a nossa atitude? De um lado, um presidente que convocou o povo para se manifestar nas ruas com o risco de contrair coronavírus (insensatez que justificaria um impeachment!). 
Nas igrejas DE QUE ele é pastor ninguém conhece gramática?

E agora, na sequência, um pastor pretensamente protegido por Deus, que insistia em reunir seu rebanho de fiéis incautos em cultos de centenas de pessoas, dentre as quais haveria contaminados pelo vírus, sujeitos a internação e mesmo com risco de morte. 

Nos dois casos, é inquietante a irresponsabilidade. Em qualquer outro país, ambos certamente seriam punidos.
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O DEUS DAS INQUISIÇÕES E DO MEDO DO INFERNO — O Brasil vive hoje em plena Idade Média. Piores do que o coronavírus são a ignorância, o cheiro fétido do beatismo, o charlatanismo e a enganação pregada e propagada pelos ditos pastores evangélicos. 

Uma versão moderna de Deus e o Diabo na Terra do Sol, que deixaria apoplético Glauber Rocha – o ranço imanente dessa versão bíblica evangélica tirada dos porões do Mayflower, trazida ao Brasil e implantada à força de cantos e gritos histéricos na nossa cultura.

Deus acima de tudo – acima da ciência, da inteligência, da lógica, do saber, da literatura, da História. Mas que Deus? O Deus das fogueiras da Idade Média, das inquisições, das teorias imbecis, do céu, da salvação das almas e do medo do inferno. O Deus dos espertos que se aproveitam dos ignorantes, dos simples e pobres de espírito.
Igreja do RS prometendo imunidade contra epidemia 

Nas análises do Brasil de hoje de Bolsonaro (econômicas, sociais, políticas e outras tantas), falta este ângulo resultante da nefasta influência evangélica – o de um Brasil destruído pela crendice bíblica, pela mentira levada ao povo e pelas ações dos vendilhões do templo.

Enquanto o mundo inteiro se preparava para enfrentar esse novo vírus, capaz de relançar o clima de medo, da morte e da peste que enlutou a Europa durante 400 anos anos, um presidente cego ria do perigo, no qual lançava seus fanáticos seguidores.

Quatro dias depois, o mesmo presidente – apostando na idiotice desses seguidores desmemoriados – reapareceu de máscara mal colocada no rosto, reconhecendo o risco do vírus.

Tarde demais: no domingo em que a irresponsabilidade do presidente levou às ruas zumbificados seguidores em mais de 200 cidades, num fenômeno de infecção coletiva, milhares contraíram o vírus do qual desdenhavam e em cuja existência não acreditavam. Logo veremos as dramáticas consequências.

Um presidente que expõe sua gente ao risco de morte não é digno do cargo e está tornando imperativo seu afastamento imediato por motivo de saúde pública.

Porém, isto dificilmente ocorrerá. Em torno dele, protegendo-o, estão os sacerdotes da mentira e da morte, iguais àqueles vestidos de preto e cheirando enxofre da Idade das Trevas; aproveitando-se do nome de Cristo, eles continuarão suas rendosas pregações.
Repúdio à Igreja Universal em São Tomé e Príncipe (África)

Os pobres fiéis explorados não percebem, mas seus pastores são, sem dúvida, as Bestas do Apocalipse.

Enquanto o planeta (será que a Terra é plana, como diz o guru do presidente?) pede para todos evitarem sair às ruas para se proteger contra a nova peste, Malafaia reagiu contra a exigência de as igrejas fecharem suas portas para evitar aglomerações.

Finalmente aceitou cancelar os cultos, mas as igrejas permanecerão abertas, prestando assistência religiosa individual.. Malafaia deve ter uma oração secreta contra o coronavírus, enviada por Satanás (se não for ele próprio o Capeta)…

E o autoproclamado bispo Edir Macedo é outro que desdenha do risco mortal do vírus. O grande antídoto contra todos os vírus seriam a Bíblia e o Evangelho, versão Igreja Universal, exatamente como diziam os sacerdotes que na época da peste negra, faz sete séculos, eram os anunciadores da morte.

Ora, essa mesma Bíblia, no Livro das Revelações, ou Apocalipse, tem um versículo destinado a todos quantos se enriquecem e enganam o povo com religiões: 
"Sai dela, povo meu, para que não sejas participante dos seus pecados, e para que não incorras nas suas pragas" (Apocalipse 18:4)
Sou ateu, creio na capacidade do homem para superar obstáculos como os vírus. 

E para vencer, principalmente, os enganadores que se aproveitam da ignorância para lançar seu manto de trevas, como na Idade Média. (por Rui Martins)
"Espero que o senhor tenha tirado uma lição,/ que, assim mal dividido, esse
mundo anda errado,/ que a Terra é do homem, não é de Deus nem do diabo"

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